terça-feira, 11 de maio de 2010

Cidadania à vista

Ocorreu nesse último final de semana no Rio de Janeiro, o evento Red Bull Air Race, que, apesar de ser fantástico e muito bem organizado, interfere sobremaneira no trânsito da cidade, além de deixar um rastro de desordem e sujeira causado pelo público que comparece para assistir. Tal situação me levou a refletir sobre as vantagens e desvantagens de associar uma marca a tais tipos de eventos
Creio que, no caso da Red Bull, as ações paralelas e complementares na mídia não deixam a menor dúvida que sob o ponto de vista de divulgação e posicionamento da marca, a iniciativa foi um sucesso.
Também é fato que o público-alvo dos produtos energéticos é composto por adolescentes e jovens, que nessa fase da vida não são tão atentos aos aspectos de cidadania, o que me leva a crer que até sob o prisma comercial o evento trará resultados positivos.
Outro ponto favorável diz respeito às receitas extras trazidas para a rede hoteleira e comércio da cidade, o que consequentemente se reflete – ou deveria refletir – em maior arrecadação de impostos.
No entanto, questiono se os transtornos causados não podem passar a percepção de que os patrocinadores desses  eventos estejam sem a devida  preocupação com fatores relacionados à cidadania, ecologia e o bem-estar da população, fatores cada vez mais valorizados pela sociedade.

Vale esclarecer que o Red Bull Air Race não é o único evento que interfere acima de um limite razoável nos hábitos da população, algumas atividades musicais e religiosas causam perturbações similares ou até piores.
Felizmente, o Red Bull Air Race ou a corrida de aviões - como alguns veículos a denominaram - não se trata de um evento de esportes olímpicos, se fosse, minha preocupação seria ainda maior, pois os riscos causados pelos transtornos também poderiam causar prejuízos à imagem da modalidade esportiva tanto aos olhos da mídia como da população que não pratica aquele esporte. (O artigo passado aborda a concorrência entre modalidades esportivas http://halfen-mktsport.blogspot.com/2010/05/ha-espaco-para-todos.html)

Porém, o objetivo desse artigo não é apenas questionar a realização de eventos dessa magnitude em locais desprovidos de infraestrutura, mas também mostrar através dessas reflexões, o quão difícil é para um gestor de marketing decidir por alguma ação.
Tal dificuldade é ainda maior diante da excessiva quantidade de “engenheiros de obras prontas”, termo que uso para me referir aos “supostos especialistas”, que criticam o que não entendem e/ou discorrem sobre as razões da algum resultado obtido, como se só existisse uma única solução para um bom desempenho mercadológico.
É importante deixar claro que marketing não é uma ciência exata e, sendo assim, não existem regras pré-estabelecidas, nem "receitas de bolo" para se chegar ao sucesso.
O mercado é influenciado por ações dos competidores, conjuntura econômica, além de inúmeras variáveis extremamente difíceis de prever, tal dinamismo prejudica as eventuais comparações entre iniciativas ocorridas em momentos diferentes.
Exemplificando, nem sempre um aumento de vendas para uma empresa é sinônimo de eficácia, visto que o mercado pode ter tido um aumento de demanda ainda maior, o que implicará na queda de market share, ou ainda que tal aumento de vendas tenha sido conseqüência de uma política de sacrifício de lucratividade.
Não quero com isso tirar os méritos dos gestores de marketing, muito pelo contrário, os realmente competentes conseguem através de muito trabalho, estudo e experiência, avaliar o comportamento do mercado, os anseios da população, antever os possíveis cenários e decidir estrategicamente por alguma ação eficaz. Claro que a sorte também pode ajudar como dizia o dramaturgo tricolor Nelson Rodrigues: “Sem sorte, não se chupa nem um chicabom. Você pode engasgar com o palito ou ser atropelado pela carrocinha”.


5 comentários:

  1. Excelente essa provocação!Eventos ao ar livre que movimentam muita gente normalmente vão agradar muita gente por um motivo e desagradar muita gente por motivo diverso. Saber temperar essas coisas está longe de ser fácil; é uma análise delicada que trará resultado distintos para cada marca, com seus objetivos, e cada evento, com suas peculiaridades. Simplesmente abrir mão de fazê-los para evitar o risco pode ser mais seguro mas certamente acarretará a perda de oportunidades.

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  2. Idel,
    Apesar de tudo, neste ano houve uma participação firme da CET-Rio que criou até um desvio na Enseada de Botafogo e tudo funcionou MUITO melhor do que em 2007.
    Digo isso de cadeira, pois moro próximo ao local do evento e em 2007 levei duas horas e meia para me locomover de minha casa para Copacabana, mas o mesmo não ocoreu agora.

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  3. Fala Julio
    Realmente melhorou, creio que além da CET-Rio ter feito um bom trabalho, a própria Red Bull realizou ações de comunicação que ajudaram a minimizar os problemas de trânsito. Não podemos esquecer que a chuva também teve sua participação, pois o público presente foi menor do que em 2007.
    Abraço

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  4. O fator preponderante para o impacto negativo pequeno, no evento de domingo, foi a chuva!! Apenas 300 mil abnegados estiveram presentes. Esperava-se algo em torno de 2 milhões!!!! Era caos anunciado.
    Enquanto isso, NY(principalmente), Londres, Chicago, Berlim, Paris,etc,etc, literalmente param por um dia,com total apoio de seus habitantes. Vemos, em todas essas cidades, adesão popular(2,5 milhões em NY), apoio institucional total e receita vultuosa.
    Enfim, acho que Cacique Cobra Coral teve pena de nós, cariocas, neste fim de semana, já que a prefeitura e o Boi vermelho, não tiveram!!!
    Lauter

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  5. Fala Lauter

    O ponto que vc levantou sobre o apoio dos habitantes também é muito importante.
    Não sei se vc se lembra, mas já houve situação em que um motorista puxou um revólver para forçar um fiscal de uma prova de triathlon a deixá-lo passar por uma rua interditada.
    Abraço

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