terça-feira, 30 de novembro de 2010

E Deus criou a mulher


Segundo o milionário Aristóteles Onassis, “se as mulheres não existissem, todo o dinheiro do mundo não teria sentido”, tal afirmativa, entretanto, não parece ser muito bem aceita tanto no ambiente mercadológico quanto no segmento esportivo.

Os próprios Jogos Olímpicos só tiveram participação feminina a partir de sua 2ª edição em Paris (1900), na qual participaram 16 mulheres (1,5%) e 1076 homens.
Apenas em Helsinque (1952), o contingente feminino atingiu aos dois dígitos de participação percentual - 10,5%.
Em Montreal (1976) chegou a 20,7%.
A barreira dos 30%, no entanto, só foi quebrada em Atlanta (1996) com 34%.
Nas últimas edições, Atenas (2004) e Beijing (2008) as participações foram de 40,7% e 42%, respectivamente.
Cumpre também relatar que nas primeiras edições dos Jogos Olímpicos, a participação feminina se restringia aos esportes considerados alternativos – tênis, golfe e tiro com arco – sendo que só passaram a competir na natação em Estocolmo (1912) e no atletismo em Amsterdam (1928).
Apesar dessa evolução olímpica, o esporte ainda não acompanha a tendência  econômica mundial, onde o papel da mulher tem sido cada vez mais relevante.
Um estudo do Boston Consulting Group aponta que as mulheres gastam sozinhas 12 trilhões de dólares por ano no mundo inteiro, enquanto que no Brasil, elas respondem por 65% do mercado consumidor.

Entretanto, mesmo diante de todo esse potencial de mercado, são poucas as empresas que focam esse segmento com a devida atenção. A grande maioria age de forma intuitiva e preconceituosa, adequando os produtos voltados a esse público através de iniciativas grosseiras, onde a utilização da cor rosa costuma ser o diferencial. Lamentável...
Na verdade, para se atingir esse seleto público é necessário estar atento aos detalhes, que vão desde o desenvolvimento de produtos com design atrativo e praticidade até uma comunicação específica e facilidade para a compra, visto que o tempo disponível para essa tarefa tem ficado cada vez mais escasso em função das atribuições do dia a dia.

A fabricante de computadores Dell, por exemplo, cometeu um grande erro ao lançar uma linha de notebook voltada às mulheres, na qual o grande diferencial era a possibilidade do produto vir com cores vibrantes.
Comercializado através de um site, que pouco esclarecimento prestava acerca das qualidades técnicas do produto, as críticas das mulheres ocuparam vários veículos de comunicação, o que trouxe prejuízos significativos no desempenho das vendas.

Por outro lado, a Best Buy, uma das maiores redes de eletroeletrônicos dos Estados Unidos, realizou uma pesquisa junto ao público feminino para identificar como deveria ser sua loja conceito, e assim construiu uma loja mais clara com móveis de madeira e um espaço onde fosse possível demonstrar como conectar os equipamentos.
Essas alterações trouxeram um aumento de 20% no tráfego dessa loja e foram replicadas para outras, o que talvez possa explicar o crescimento de vendas de 7% em relação ao ano anterior.

A LG, por sua vez, notou que um modelo de aparelho celular voltado ao público masculino estava sendo muito utilizado pelas mulheres, até que descobriu que a parte externa do aparelho era a responsável pelo sucesso, pois por ser espelhada permitia que as mulheres retocassem sua maquiagem sem precisar ir ao banheiro.
Após esse episódio, a empresa decidiu dar mais atenção a esse segmento, e através de pesquisas identificou que as mulheres têm forte rejeição aos fios dos aparelhos eletrônicos, o que redundou no lançamento de uma linha de home theater sem fio, que teve estrondoso sucesso.

Já no segmento esportivo, os esforços para atender esse público ainda são tímidos, e o pior, ocorrem num cenário em que as mulheres, além de praticarem esportes, assistem competições, atuam na imprensa, dirigem entidades, e claro, estão ávidas por consumirem produtos relacionados ao seu desporto ou ao seu time de coração.
Para se ter uma melhor noção desse potencial, um estudo de mídia concluiu que um anúncio feito na transmissão do Superbowl – final da NFL (National Fotball League) - equivale para efeito de se atingir o mesmo número de mulheres a dois anúncios na transmissão do Oscar.
Infelizmente, mesmo diante de tantas evidências, ainda é muito difícil encontrar produtos esportivos adaptados aos anseios e necessidades das mulheres, e/ou estádios e arenas adequados para sua presença.

Como já foi mostrado no artigo Segmentação de Mercado http://halfen-mktsport.blogspot.com/2010/10/segmentacao-de-mercado.html, é inconcebível trabalhar de forma igual para públicos distintos, no entanto, grande parte dos responsáveis pela cadeia de consumo relacionada ao esporte parece ignorar essa condição, e oferta, por exemplo, camisas de clubes de futebol modeladas para homens a um público com características físicas e  anseios diferentes.
Tal miopia se traduz em perdas de oportunidades.


7 comentários:

  1. Achei espetacular o blogue. Desenvolvo um trabalho em www.procrie.com.br para o qual peço a sua visita paciente no sentido de me ensinar a desenvolvê-lo com técnica e maestria. Acabo de postar ali um texto intitulado "A Mulher e o Voleibol" e, um dos meus sobrinhos ligadão a vocês, indicou-me esta visita. Graças ao que li aqui estarei propondo várias mudanças na minha estratégia de ação. Como estou na fase de conquista de patrocínio para o Projeto, peço conselhos que me guiem nos novos procedimentos. Como devo proceder? Roberto Pimentel.

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  2. Era o que estava buscando. Tenho um blogue - www.procrie.com.br - em que acabo de postar "A Mulher o Voleibol". E muitos caminhos me levam a desenvolver e explorar este segmento com crianças com os meus projetos. Estou na fase de busca de patrocinadores para Cursos Presenciais e Patrocínios aos projetos em cidades. É atividade para além de 10 mil crianças. Peço sua visita ao Procrie e alguns conselhos. Parabéns e se interessar, como nos lincar? Roberto Pimentel.

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  3. Caro Pimentel
    Obrigado pelos comentários!
    Entrei em seu blog, gostei muito, parabéns!
    Não tenho nenhum conselho para o blog, já em relação ao projeto, creio que há espaço para enquadrá-lo em alguma lei de incentivo ao esporte.
    Att.

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  4. Prezado Idel Halfen,
    Agradeço sua visita e os parabéns. Cadastrei-me como seu seguidor e peço perdão por utilizar um o seu título neste texto sobre a participação da mulher no esporte. Quando puder, veja no Procrie, inclusive a citação original - não bíblica - mas do filme de Roger Vadin que lançou a Brigitte Bardot. O tema é importante para meus projetos.

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  5. Fique interiamente à vontade!
    Li seu texto, obrigado pela citação!
    Abs

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  6. Boa Tarde Caro Idel,
    Sou frequentador assíduo do blog da Flusócio aonde conheci o seu blog. Sempre ao ler seus interessantes posts me questionava porque o Flu não tinha um Executivo de marketing como vc em seus quadros. Fiquei feliz em ver que o desejo se realizou. Desejo muito sucesso no novo desafio!!!
    Um abraço e saudações tricolores,
    Alexandre Henrique

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  7. Caro Alexandre
    Obrigado por suas palavras.
    Abraços e saudações tricolores

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