terça-feira, 29 de novembro de 2011

Everlast

Seria possível uma marca associada a esportes eminentemente masculinos como boxe e MMA (Mixed Martial Arts) estar presente no vestuário feminino? 

Muitos podem num primeiro momento ter respondido que não, mas posso afirmar que sim. 
Refiro-me à Everlast, marca tradicional de luvas, sapatilhas e calções de boxe, que aos poucos foi se transformando num símbolo de moda urbana. 
Suas roupas e seus acessórios vestem pessoas sem a menor ligação com a “nobre arte”, como costuma ser chamado o boxe. 

Mas engana-se quem acha que a Everlast foi criada para atender as demandas desse esporte. 
Seu fundador, Jacob Golomb era um fabricante de roupas de natação, que insatisfeito com a durabilidade das peças resolveu desenvolver produtos que durariam por, pelo menos, um ano e dentro desse conceito batizou-as com o nome de Everlast, para assim se aproveitar do termo “ever” – para sempre. 
O sucesso veio de tal forma, que em pouco tempo a empresa abriu sua primeira loja, na qual vendia produtos voltados à pratica de esportes, mas sem nenhuma espécie de segmentação.
Em 1917, a empresa desenvolveu um equipamento de proteção para cabeça a pedido do pugilista Jack Dempsey, que ao conquistar o título mundial de 1919 calçava luvas com a marca Everlast. 
Daí em diante a maioria dos grandes nomes do pugilismo passaram a vestir Everlast. 

Em 1960, a escolha pelo patrocínio a Mohammad Ali rendeu para a empresa uma popularidade até então inimaginável. 
Ali, além de ser um pugilista excepcional, era extremamente carismático e atraía a atenção da mídia como nenhum outro atleta naquela época. 
Não sei ao certo se tal escolha levou em consideração análises e estudos sobre atributos da marca e características de quem poderia endossá-la, muito provavelmente não, mas certamente foi uma escolha muito acertada. 

Com o passar do tempo, a marca Everlast ficou de tal forma associada a sucesso, vitória e, naturalmente, qualidade/durabilidade dos produtos, que em 1983 iniciou o processo de licenciamento para outras categorias de produtos, fato que lhe confere hoje uma boa penetração na moda, inclusive com associações a estilistas consagrados. 
Sem dúvida, um interessante case de licenciamento. 
Não podemos, no entanto, nos esquecer que algumas marcas esportivas como adidas, Nike e Puma também transitam bem no segmento de moda urbana, a diferença é que  nenhuma delas foi ou é associada a algum esporte que grande parte da opinião pública considere violento. 

Por fim, vale registrar que no ano de seu centenário – 2010 - a Everlast lançou sua coleção com o nome de Mohammad Ali, um belo gesto de gratidão. 
Ainda como forma de celebrar esse aniversário, foi lançada uma campanha com o nome “What do you fight for?” (pelo que você luta?).
Para cada post escrito no facebook da Everlast referente a essa pergunta, a empresa depositou US$ 1 para Fundação Dr. Theodore, que presta serviços a crianças necessitadas. 
Um bom exemplo de ação que integra marca, posicionamento, ídolo e causa social.


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Alianças

O crescente desenvolvimento da sociedade faz com que o grau de competitividade em todos os setores se torne cada vez mais elevado. 
Esse cenário se faz bastante presente no esporte, onde atletas são frequentemente submetidos a novos métodos de treinamento, a nutrição evolui, o fator psicológico passa a ser mais trabalhado e a tecnologia avança.
Já no mundo corporativo, essa maior competitividade dificulta a obtenção dos resultados, mesmo em empresas que investem nas melhores práticas de gestão.
Diante desse cenário, muitas empresas acabam sendo incorporadas por outras, se fundindo ou fazendo alianças. 
O principal objetivo de uma aliança de marketing é aproveitar o potencial de um dado mercado e nesse agregar competências e recursos das partes envolvidas.
Uma das vantagens desse tipo de operação é o fato de não requerer complexas reestruturações nem cortes de pessoal, muito comuns no caso de fusões e aquisições.
Para não fugir do escopo do blog, vale narrar um case de duas empresas, uma até então sem ligação com o esporte, a Apple, e outra cuja atuação é totalmente dedicada a esse segmento, a Nike. 
Essas formaram uma parceria para desenvolver e comercializar o Nike + iPod Sport Kit, um sistema de comunicação wireless entre o tênis e o iPod, que permite o monitoramento e o registro em computador de dados de desempenho do usuário, tais como ritmo, distância e calorias consumidas. 
Paralelamente a Nike lançou camisetas com bolsos em dimensões que pudessem abrigar os aparelhos da Apple. 
Numa aliança desse tipo cada parceiro consegue fortalecer sua marca, a Nike, por exemplo, entra num mercado até então inédito, se faz presente aos clientes da Apple e passa a oferecer serviços diversificados aos seus atuais clientes.
Tal iniciativa pode ser bastante interessante não apenas para empresas, mas também para modalidades esportivas no que diz respeito ao desenvolvimento de parcerias que propiciem o aproveitamento de atletas sem muito potencial em algum esporte, mas com algumas características que permitam um bom desempenho em outro. 
O ciclista Lance Armstrong, que participou do lançamento do Nike + i Pod Sport, é um bom exemplo desse processo, pois teve sua origem na natação, competiu no triathlon e teve seus resultados mais expressivos no ciclismo.
Apesar da concorrência que sempre haverá - não há como negar que a Nike concorre com a Apple, pois mesmo atuando em segmentos diferentes ambas disputam o dinheiro do consumidor - a possibilidade de alianças  é uma interessante iniciativa, que vale, na pior das hipóteses, ser minuciosamente avaliada.







terça-feira, 15 de novembro de 2011

Continuar ou rescindir?



“A vontade de vencer é importante. Mas a vontade de se preparar é fundamental.” 

Considero essa frase uma valiosa lição não só para o esporte, mas também para a vida de forma geral. 
O autor da mesma é Joe Paterno, mais conhecido como Joepa, que esteve durante 61 anos dirigindo a Universidade de Penn State , 15 como assistente e 46 como técnico. 
Joepa é o maior vencedor da história do College Football, mas mesmo assim foi demitido. 
Obviamente o motivo não foi o desempenho da equipe, mesmo porque o artifício de responsabilizar unicamente os técnicos por resultados ruins não é prática comum no esporte norte-americano. 
A idade, mesmo avançada, também não foi o motivo. 
O velho treinador foi demitido por não ter denunciado à polícia um de seus assistentes, mesmo tendo recebido informações irrefutáveis de práticas de pedofilia por parte desse imbecil. 

A frase é ótima, a informação é interessante, porém o que mais chama a atenção nesse caso é a postura da Nike, patrocinadora de Joe Paterno, que mesmo diante desse escândalo manterá o patrocínio. 

Na verdade, essa não é a primeira vez que a Nike age dessa forma. 
Quando o jogador de basquete do Los Angeles Lakers, Kobe Bryant, foi acusado de estupro, o Mc Donald’s, um de seus patrocinadores rescindiu o contrato, enquanto a Nike manteve e não tem do que se queixar em termos de retorno esportivo, visto que Bryant obteve conquistas importantes após o lamentável episódio. 
Os casos de adultério do golfista Tiger Woods lhe custaram a rescisão dos patrocínios da AT&T e da Accenture, já a Nike continuou e mesmo sem Woods estar conquistando resultados esportivos expressivos, a audiência de seus jogos tem sido muito grande. 

Muitos especialistas condenam a atitude da Nike, alegando que associar uma marca a atletas problemáticos é prejudicial à imagem, outros a defendem por acharem que a empresa não pode deixar sem assistência seus atletas numa hora ruim. 

É muito difícil opinar nesse caso, pois fazer juízo de valor sem conhecer detalhadamente os fatos que compõem cada situação denota irresponsabilidade e pouca inteligência.  
Contudo, a única convicção que tenho sobre esse assunto, é que considero um erro crasso deixar uma marca associada exclusivamente a uma pessoa, seja essa quem for.
Nesse ponto certamente a Nike não peca, pois se ficou em evidência através de atos ruins de alguns de seus patrocinados, também costuma ser muito bem representada por outros, tais como Roger Federer e Rafael Nadal.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Inteligência competitiva

O incidente ocorrido recentemente em que um treino secreto do Fluminense foi filmado sem a devida autorização serviu como inspiração para a elaboração desse artigo.
Não vou discutir o papel da imprensa, se ela agiu corretamente ou não, mas sim  analisar a vulnerabilidade que propiciou o vazamento da informação, a qual poderia ter tido como “espião” alguém da equipe adversária. 
É importante também alertar que tais “vazamentos” não ocorrem exclusivamente através de “filmagens” não autorizadas, mas de diversas formas onde a falta de preocupação com o fato e a ingenuidade dos envolvidos são os principais responsáveis. 

A partir disso, irei abordar de forma bem resumida o conceito de Inteligência Competitiva (IC), que, aliás, é mais um dos processos de administração que tem sua função distorcida, pois costumeiramente acaba sendo confundida com “análise da concorrência”. 
Isso não quer dizer que esse processo não envolva tal tipo de análise, porém não fica restrito aos dados de mercado como vendas, market share e preços praticados. 
A Inteligência Competitiva trabalha com fragmentos de informação oriundos de diferentes fontes, e a partir dessas são traçadas estratégias que embasarão a elaboração de iniciativas que se antecipem às tendências de mercado e ações da concorrência.
Ainda pouco difundida no Brasil, a IC está presente nas 500 maiores empresas americanas. 
O grande crescimento dessa área se deu com o fim da Guerra Fria, com a migração de agentes de Inteligência de Estado para a iniciativa privada. 
Torna-se importante ressaltar que tal tipo de atividade nada tem a ver com espionagem industrial, a qual se caracteriza pelo furto de informações e é ilegal, bem diferente da IC, que possui um código de ética para a coleta de informações. 
Existem 3 etapas distintas num processo de IC, o planejamento da ação – que envolve o foco a ser dado e o que deverá ser coletado - , a coleta de informações e a análise destas. 
Apesar de graus de importâncias similares, vale chamar a atenção aqui para a etapa de coleta. 
Essa ocorre de diferentes formas e não tem a pretensão de numa única ação obter o que se objetiva, mas através de fragmentos de informações desenvolver cenários bem próximos da realidade, o que é chamado de teoria dos mosaicos. 
Essa coleta pode ocorrer de várias maneiras, desde uma simples palestra de um executivo da empresa -  aliás é assustador a inocência de certos palestrantes, que abrem números e estratégias de suas empresas sem a menor preocupação com a IC - até em entrevistas desses executivos a veículos de comunicação e pesquisadores. 
Caberia às empresas dificultar ao máximo a ação da concorrência, e para isso não é necessária uma função explícita em sua estrutura, visto que o exercício da IC deveria ser uma atividade de todos, não obstante a isso é importante que se tenha bem definido quais seriam os poucos executivos que falariam pela empresa, seja com a imprensa ou em palestras, e que esses fossem treinados para nada revelar. 
Tudo o que foi escrito acima, guardadas as devidas proporções podem e deveriam ser aplicadas em instituições esportivas, seja no âmbito da gestão ou da própria competição.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Atenção aos nichos de mercado

Trabalhar com marketing e não estar atento às mudanças que vem ocorrendo na sociedade é como querer obter bom desempenho esportivo sem a devida preparação. 
Conjunturas sociais, as quais não vêm ao caso discutir, fizeram com que a idade média da população aumentasse, mais pessoas morassem sozinhas precocemente, fosse maior o número de mulheres que trabalhassem fora e o público homossexual crescesse. 
As empresas mais estruturadas conseguem rapidamente se adaptar a essas novas particularidades e desenvolvem produtos para atender a esse novo cenário. 
Embalagens que comportam menos quantidade de produtos foram idealizadas para os lares menores - tanto em função do consumo quanto da área de estocagem -, estabelecimentos de varejo que estendem seus horários para que as mulheres possam conciliar trabalho e lazer com as compras, produtos que são desenvolvidos para facilitarem a população que viverá mais e roteiros turísticos elaborados para o público gay são exemplos de iniciativas mercadológicos que acompanham a transformação da sociedade. 

E o esporte? O que o esporte faz para capitalizar diante desses novos públicos? 
Errou quem respondeu que não faz nada. 
As competições de masters, dirigidas a um público formado por ex-atletas e praticantes que iniciaram mais tarde a relação com o esporte, proliferam em todo o mundo e em quase todas as modalidades esportivas. 
O “World Masters Games”, por exemplo, é uma espécie de Jogos Olímpicos de masters e conta com uma presença considerável de praticantes, os quais não recebem nenhum apoio financeiro dos órgãos esportivos de seu país. 
Geralmente são pessoas já estabelecidas profissionalmente que planejam suas férias com o objetivo de conciliar lazer e competição, e costumam levar a família, o que evidentemente contribui para aumentar a receita de produtos e serviços dos estabelecimentos das cidades que sediam o evento, além da própria arrecadação de impostos. 
Numa competição como essa é possível encontrar ex-atletas, muitos dos quais medalhistas olímpicos, como é o caso de Gary Hall Jr., que tendo sido cortado da seleção americana de natação, prometeu bater o recorde mundial dos 50m livre na edição de 2005 em Edmonton, Canadá, fato que não aconteceu. 
Hoje já existe também os Gay Games dirigido ao público homossexual, cujo perfil sócio-econômico encontra-se acima da média e a maratona de Nagoya, onde só correm mulheres. 
Não sei ao certo se a criação desses eventos, e consequente direcionamento a nichos de mercado, levou em consideração estritamente os fatores mercadológicos, claro que esses devem ter tido alguma influência, entretanto, não se pode esquecer que até em função da eterna busca por competições mais justas, o esporte sempre promoveu segmentações por categorias baseadas no peso e na idade dos competidores. 
Talvez essa característica tenha facilitado o processo de segmentação para públicos-alvos diferentes. 
A título de curiosidade, vale citar que algumas provas de triathlon estabelecem premiações não apenas por faixa etária, mas também por categorias especiais, como por exemplo, moradores da localidade, profissões e até para competidores obesos. 
Tais segmentações, desde que não sejam exageradas, são ótimas iniciativas para a popularização do esporte e socialização dos praticantes.
É importante, no entanto, que não haja nenhuma confusão entre segmentação e segregação, essa quase sempre vinda dos que se dizem segregados.