terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Medalhas olímpicas dos países sedes

As discussões sobre os benefícios de sediar os Jogos Olímpicos são inesgotáveis, variados argumentos e exemplos são utilizados, porém quase todos voltados meramente aos aspectos econômicos, sociais e urbanos, enquanto que as discussões sobre os benefícios esportivos acabam sendo pouco exploradas, ou pior, distorcidas.
- Existe alguma correlação entre o número de medalhas conquistadas e o fato de sediar os Jogos? 
- A edição anterior costuma ser um bom indicativo de tendência? 
- Até que ponto o investimento esportivo num ciclo olímpico se reflete em boa classificação no quadro de medalhas? 

Em busca dessas respostas, a Jambo Sport Business realizou um estudo no qual analisou todas as edições dos Jogos Olímpicos desde 1960. 


A opção por não utilizar todas as edições teve o intuito de evitar a contaminação da amostra com aspectos ligados à menor disponibilidade de transporte nos primeiros Jogos, o que sem dúvida influenciava muito fortemente o tamanho das equipes e, consequentemente, os resultados esportivos. 
O estudo também procurou minimizar os efeitos que eventos como boicotes, separatismos e uniões de países trazem ao quadro de medalhas.
Abaixo seguem as respostas aos questionamentos que serviram de motivação para a realização do estudo. 

1- Correlação medalhas vs. País-sede

Apesar de algumas exceções, como o Canadá que não conquistou medalha de ouro em Montreal 1976 e os EUA em Atlanta 1996, onde conquistou 7 medalhas a menos no geral do que em Barcelona 1992, os países que sediam os Jogos sempre conseguem um incremento natural no número de medalhas conquistadas. 
São duas as razões principais desse feito: 
  • Maior quantidade de atletas representando o país, pois o fato de ser sede dá o direito a participar de todas as modalidades esportivas daquela edição. 
  • O fator “torcida” - inúmeros são os relatos de atletas da casa creditando a superação ao incentivo dos torcedores. 
Outra razão que por vezes influencia os resultados é a inclusão de esportes tradicionais do país sede. 
Entre os exemplos que podem ilustrar essa afirmação, estão o Judô e o Voleibol em Tokyo 1964, o Nado Sincronizado em Los Angeles 1984, o Tênis de Mesa em Seul 1988, o Judô feminino em Barcelona 1992, o Voleibol de Praia em Atlanta 1996 e mais recentemente o Triathlon em Sydney 2000. 
Todos esses renderam medalhas ao país sede.

2 – Edição anterior como parâmetro

De fato, a edição que antecede aos Jogos que se sedia costuma ser um bom parâmetro de previsão, no entanto, a história mostra que reviravoltas acontecem. 
O México veio de uma 53ª colocação em 1964 para a 15ª em 1968 quando foi sede. 
A Espanha obteve o 6º lugar em Barcelona 1992, depois de amargar um 25º em Seul 1988.

3- Medalhas vs. Investimento

Esse tipo de cálculo só poderia ter algum tipo de valia se fossem considerados os investimentos das outras nações. 
De nada adianta, para efeito das conclusões que se desejam auferir, saber que verbas vultuosas foram aplicadas no esporte e isso resultou em poucas medalhas, pois as demais nações podem ter investido mais.
Além do que, nações mais desenvolvidas requerem menos investimento do que as que estão se estruturando. 
Portanto, a análise retorno de Medalhas vs. Investimento só terá algum sentido se vierem inseridas num contexto de proporcionalidade. 
O estudo traz ainda estimativas de medalhas para 2016 e um quadro bastante interessante que compara a classificação dos principais países nos Jogos de 2012 e nos rankings de PIB per capita e IDH (índice de desenvolvimento humano).

6 comentários:

  1. E ainda rola aquela boa vontade básica dos juízes nos esportes subjetivos...

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  2. Legal o artigo Idel! Só um comentário: O fato de ser sede não dá direito automático ao pais ter representante em todas as disciplinas. O que acontece é que as Federações Internacionais, "donas" dos eventos, acabam convidando o pais, mesmo as vezes não tendo índices técnicos, pois isto traz publico e as respectivas consequências (arquibancada cheia, bom espetáculo para TV, maior renda com venda de ingresso e etc...). Grande abraço. Guilherme Luiz Marques

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    1. Fala Guilherme

      Depois do seu comentário reli o post e concordo que o texto dá margem a interpretação das vagas serem automáticas.
      Muito obrigado por ter ajudado no esclarecimento.
      Abraço

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  3. Oi Idel, muito interessante a pesquisa feita. Acaba corroborando alguns dogmas olímpicos. Mas o que mais me intrigou foi você ter minimizado a atuação da Grã Bretanha nas duas últimas Olimpíadas! Em Pequim, com uma equipe jovem, composta de atletas sem muita experiência em eventos "adultos", eles mostraram como estava a preparação do Arquipélago para os Jogos em casa! Muitos finalistas jovens, já davam pista (ops!) do que viria em 2012. E, efetivamente, veio! Analiso há 6 anos o trabalho feito pelo Comitê Olímpico Britânico, em vários esportes. Eles foram geniais. Tanto na detecção de talentos, como no desenvolvimento dos mesmos, foram irretocáveis. Mas, o melhor estava por vir: a preparação dentro do quadriênio de ouro (entre o fim dos Jogos de Pequim e o início dos de Londres).
    Apenas 1 país trabalhou tão bem quanto eles, com resultados gerais QUASE tão bom: a Austrália, usando e abusando do melhor centro de excelência de esporte que existe no Mundo (Instituto Australiano do Esporte), eles também fizeram um ótimo trabalho.
    E nós?
    Bem, esta é uma conversa para muitas linhas, ou muitos chopps, ou muita porradaria!!
    Deus salvou a Rainha, mas quem há de nos salvar?
    Abração

    Lauter

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  4. Fala Lauter

    Não foi minha intenção minimizar a atuação da Grã Bretanha, mas pelo menos consegui provocar sua intervenção e aprender sobre a atuação do Comitê Olímpico Britânico, o qual, mesmo sem conhecer em detalhes, já admirava.
    Meu intento foi "desmascarar" alguns críticos que tentam usar os Jogos de Atlanta, onde a Grã Bretanha ficou em 34a, como parâmetro, ocultando que 1996 foi uma exceção.
    Creio que essa nação é um excelente benchmarking para todos os países que querem se desenvolver nos esportes olímpicos.
    Vamos combinar o chopp.
    Forte abraço

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  5. O curioso, meu caro Idel, é que a decisão do Brasil de concorrer para sediar as Olimpíadas não levou em consideração nenhuma informação e nenhum dado técnico. Tudo foi no oba-oba. Obrigado pela oportunidade de conhecer a pesquisa.

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