terça-feira, 26 de maio de 2015

O esporte contra o crime

No ano de 1924 ocorreu pela primeira vez a Travessia a Nado do Rio Tietê, prova que foi realizada até 1944, quando a poluição do rio deixou inviável a realização do evento.

Nas décadas de 80 e 90, as melhores provas de triathlon do Rio de Janeiro e do Brasil eram realizadas em Copacabana, o que além de atrair praticantes e patrocinadores, contribuiu para que a modalidade tivesse um significativo crescimento, porém, o aumento do número de automóveis e a intolerância da população fizeram com que as provas no local minguassem.
Nas últimas semanas, um clube de remo situado na Lagoa Rodrigo de Freitas alterou o horário dos treinos para minimizar os riscos de assalto na locomoção de seus atletas.

O leitor deve estar pensando sobre aonde eu quero chegar com os relatos acima. Respondendo de forma sucinta: na negligência do estado, ressaltando que não vai aqui nenhuma crítica de caráter político.

A poluição, a falta de uma política eficaz de transporte que culmina com o crescimento desordenado da frota de automóveis, a segurança precária que também traz reflexos no trânsito já que o uso de bicicletas fica inviável e, principalmente, a pouca atenção dedicada à educação – ferramenta vital para a conscientização das pessoas, o que inclui os próprios políticos - são os fatores responsáveis pelas situações citadas no início do artigo e de inúmeras outras, que por falta de espaço não serão mencionadas.

Sempre defendi o uso do esporte como um agente de formação do cidadão, que auxiliado por uma política educacional séria poderia ajudar bastante no desenvolvimento do país.
No entanto, infelizmente, nunca vi uma política de esporte adequada às necessidades do Brasil e, em se tratando de educação, as inciativas se deram de forma bem esporádicas graças principalmente a figuras como Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e Cristovam Buarque.
Quando me refiro ao papel do estado, não faço apologia de investimentos no esporte de alto rendimento, aliás, muito pelo contrário, esse deveria ser apoiado pela iniciativa privada, a qual, certamente, teria muito mais segurança para investir num cenário que contemplasse uma política esportiva voltada para a iniciação e com forte ênfase na proliferação e solidificação dos princípios envolvidos no esporte.
O papel do estado, no meu modo de ver, é disponibilizar e manter condições para que o esporte seja aprendido e praticado por crianças e também adultos, o que inclui uma expressiva quantidade de profissionais bem preparados e de locais adequados e seguros. 
O que temos hoje, é um país cuja maior parte da população acompanha o esporte somente na época das grandes competições, só se satisfazendo com vitórias, caso a medalha de ouro ou o título não venha, as piadas, deboches e ataques proliferam como facadas na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas. 
Reações que nada mais são do que reflexos da falta de educação cultural, social e esportiva.
Ao fim dos eventos, tudo é esquecido, o esporte de iniciação é relegado a meras ações eleitoreiras e as demais iniciativas que poderiam ajudar no desenvolvimento do esporte e, consequentemente, da nação, adormecem até a proximidade de um novo “campeonato” de expressiva relevância.

As consequências dessa pouca valorização do esporte, evidentemente aparecerão, sejam elas através de resultados esportivos, o que é óbvio, sejam na forma de crimes contra cidadãos, contra o meio ambiente, etc.
E assim voltamos ao início do texto, num círculo vicioso...e cada vez mais revoltante.


terça-feira, 19 de maio de 2015

Title Sponsor


Inicialmente é importante esclarecer, principalmente para os “especialistas” em marketing que, apesar de conceitualmente semelhantes, “naming right" é diferente de “title sponsor”.
No primeiro se concede o direito de colocar o nome de sua marca em alguma instalação, seja essa cultural ou esportiva, e os contratos costumam ser longos.
Já no “title sponsor”, o nome da marca é associado a eventos. Aqui, até mesmo em função da incerteza da continuidade da atratividade, os contratos geralmente têm durações menores.
Em termos de exposição e fixação da marca, não resta dúvida que uma operação de naming rights é mais benéfica, mesmo considerando a política de alguns veículos não citarem o nome do detentor desse direito.
Entretanto, o title sponsor, que na maioria dos casos exige investimentos menores é também uma excelente iniciativa, pois aparece ao lado do nome da competição, consegue capitalizar a imagem das equipes, dos atletas, além de ter o poder de veto, desde que justificado, sobre a presença de outros patrocinadores daquele evento. Isso sem contar as ativações que certamente realizará, o que inclui o relacionamento com fornecedores, clientes, acionistas e até imprensa.
Assim como acontece no naming right, o risco de alguns veículos de comunicação boicotarem o nome do patrocinador também existe, sendo aqui talvez até maior em função dos contratos terem extensão mais curta e da menor duração de um evento em relação a um imóvel.
Uma solução que poderia minimizar o risco do boicote citado acima, seria que o evento já nascesse com o title sponsor, porém nesse caso, o detentor do evento fica numa posição mais fragilizada em função das razões que enumeraremos a seguir:
1 -  Um nome agregado pode prejudicar o fortalecimento da marca do evento e assim diminuir o potencial de geração de receitas através do licenciamento da mesma. 
O Ironman, por exemplo, além de possuir diversos produtos licenciados, como relógios, roupas, jóias e óculos, entre outros, tem a própria competição como produto, sobre a qual se comercializa o direito de realização em diversas localidades.
Apesar de algumas dessas provas terem um title sponsor, nesse caso o nome ironman sempre irá ser o mais destacado, visto que foi consolidado antes que algum patrocinador se apoderasse da associação.
Por outro lado, a marca ficou tão reconhecida que o detentor do direito do title sponsor, aufere, além das vantagens já citadas, a possibilidade de fortalecer a associação dos valores da empresa com os atributos de posicionamento do evento.
2 - O “produto” fica menos atrativo para futuros interessados na aquisição do title sponsor.
Peguemos aqui como exemplo, o circuito Banco do Brasil de vôlei de praia. Caso o banco se retire, muito provavelmente as dificuldades de se arrumar um novo “title sponsor” serão grandes, pois o nome do banco está fortemente incorporado ao evento, o que nesse caso ainda tem dois agravantes
(i) o banco possuir também os direitos de ter o nome completo do evento citado na transmissão pela TV;
(ii) a marca ser exibida no uniforme de todos os jogadores.
Por fim, penso que, independente dos riscos da marca não ter uma exposição dentro das expectativas do patrocinador, a possibilidade de se ter o nome atrelado ao título de um evento deve ser sempre avaliada, ainda que esse investimento seja o estágio inicial para incursões futuras mais pesadas naquela atividade/modalidade.





terça-feira, 12 de maio de 2015

Pop Up Stores - Lojas temporárias

Durante muito tempo as empresas de varejo dedicaram grande atenção ao comércio eletrônico, chegando ao ponto de certas empresas trabalharem apenas com essa modalidade.
Hoje, no entanto, há um processo inverso, ou seja, os varejistas passaram a voltar suas atenções às lojas físicas, tanto que a própria Amazon já abriu uma loja dentro da Purdue University em Indiana e planeja outras inaugurações.
A principal razão desse processo é a busca pelo relacionamento com o cliente, de forma que ele tenha acesso à experiência, sendo que essa não se restringe à experimentação do produto em si, mas também à atmosfera do ambiente. Isso permite ainda o fortalecimento da marca e mais pontos de diferenciação em relação aos concorrentes.
Impulsionado por essa busca de identidade, ganha força também o que chamamos de “Pop Up Stores” (lojas temporárias), que nada mais são do que lojas que permanecem abertas por curtos períodos, sendo, inclusive, um dos modelos utilizados pelos varejistas online.
Essa modalidade de varejo, mesmo requerendo menor investimento - já que os equipamentos podem ser alugados e as luvas isentadas pelos shoppings - não costumam ter como objetivo principal o lucro operacional.
A capacidade de promover e avaliar a aceitação de produtos, aliada ao aspecto de surpreender o cliente ao surgir num local em que ele não está acostumado a encontrar aquela marca, são fortes fatores de atratividade do negócio.
No mercado esportivo, temos dois cases interessantes de serem citados:
O da Netshoes, varejista online especializado em artigos esportivos, que instalou em um dos melhores pontos da cidade de São Paulo uma estrutura que ficou conhecida como a menor maior loja do mundo, a qual nada mais era do que uma fachada de 37 cm de largura sob um toldo com a logo da empresa, onde havia um mini tablet que permitia ao cliente comprar com 20% de desconto mais de 40 mil itens.
E o da Adidas, que abriu uma loja temporária em Londres para homenagear o tenista americano Stan Smith, o qual dá nome a um modelo de calçado que foi relançado em 2014.
Para valorizar a experiência, a loja era uma réplica da caixa do calçado, e dava ainda ao cliente a oportunidade de personalizar o produto de edição limitada, além de acompanhar a impressão em 3D de sua foto e assinatura no espaço que originalmente caberia ao ídolo Stan Smith.
Como podemos ver, a capacidade criativa para promover interação com o cliente tende ao infinito, no entanto, tão importante quanto a iniciativa que será adotada, é ter um acompanhamento detalhado sobre as tendências do mercado e, evidentemente, objetivos estruturados, seja lá qual for o ramo de atividade.






terça-feira, 5 de maio de 2015

H&M e as novas marcas no esporte


Disputar competições de alto nível técnico, seja qual for a modalidade, exige do atleta, além de talento, extrema dedicação, o que inclui, treinos, superação e abdicação de muitos prazeres. Chegar nas melhores colocações, então, é algo muito distante para os “simples mortais”.
Raciocínio similar pode ser estendido às empresas, ainda mais quando essas têm como característica o “desbravamento de mercados”.
Um caso que ilustra bem o que pretendo explorar é a cadeia de lojas sueca H&M, que mesmo tendo um posicionamento voltado à moda e ao design, resolveu se arriscar no segmento de marcas esportivas e competir com gigantes, vestindo o tenista tcheco Tomas Berdych, ranqueado entre os 10 melhores do mundo.
A escolha de Berdych, que antes vestia Nike, se deveu ao seu estilo fashion, cujos modelos atuais são da marca H&M, inclusive dentro das quadras.

A incursão da H&M nesse mercado já serviria para denotar que os uniformes esportivos estão sofrendo uma transformação de busca à modernidade, e não apenas no que se refere ao material utilizado, mas também ao estilo.
Isso ganha ainda mais evidência quando vemos a marca japonesa Uniqlo vestindo o tenista sérvio, #1 do mundo, Novak Djokovic.
Outra marca que aparece com o mesmo conceito de modernidade é a Eleven, desenhada pela tenista Venus Williams.
Estar atento às tendências do mercado torna-se cada vez mais uma vantagem competitiva para as empresas, que buscam a todo momento oportunidades de desenvolverem ou se destacarem em novos mercados.
A própria trajetória da H&M nos dá uma boa dimensão desse cenário.
A empresa nasceu com o nome de Hennes em 1947, voltada ao público feminino e restrita ao país de origem, tendo iniciado o processo de internacionalização apenas na década de 60.
Em 1968, incorporou uma rede de roupa masculina chamada Mauritz Widforss, passando a se chamar Hennes & Mauritz, o que derivou para o nome atual.
Essa operação fez com que a marca passasse a comercializar roupas para ambos os sexos, processo que se seguiu ao longo do tempo, ampliando seu mix com produtos voltados a crianças, adolescentes e bebês, além de cosméticos.
A busca por novos mercados a levou a abrir lojas em mais países, tanto da Europa como dos continentes americanos e asiático, e ao comércio eletrônico. Para facilitar a expansão, passou a adotar também o sistema de franquias e no que tange ao portfólio de produtos, lançou uma linha de calçados e de lojas voltadas à decoração do lar.
Além dessas iniciativas, a H&M desenvolve frequentemente parcerias com estilistas e celebridades, visando se manter "influente" no mercado de moda.
Diante de toda essa preocupação com a conquista de novos mercados, nada mais natural que a marca entrasse no segmento esportivo e justamente numa modalidade, cujo perfil dos espectadores tem forte sinergia com seu posicionamento.