terça-feira, 10 de novembro de 2015

Bananas com laranjas



Se por um lado a disponibilidade de números facilita as análises sobre qualquer tema, por outro pode se tornar uma armadilha para os poucos afeitos à matemática e à lógica.
Na verdade, os erros não costumam ocorrer na divulgação dos números, esses na maioria das vezes estão corretos. Os problemas acontecem quando são utilizados como parâmetros descabidos ou sem a devida significância estatística.
Não são poucas as vezes em que vemos percentuais obtidos em pesquisas qualitativas como se fossem a representação de um extrato significativo da população. Isso sem falar das pesquisas que, sem a devida segmentação, viram verdades absolutas.
As referentes ao tamanho das torcidas dos clubes de futebol são bons exemplos dessa última observação, pois se colocam num mesmo bolo torcedores fanáticos -  que consomem tudo relativo ao seu time -  com outros que nem sabem sequer o nome de algum jogador. E o pior, tais números viram padrão para inúmeras decisões acerca de patrocínios e divisão de receitas.
As análises comparativas, como dito acima, são também foco de graves erros de inconsistência.
Recentemente vimos excelentes artigos sobre os números envolvidos na Maratona de Nova York, esses versavam sobre as receitas geradas para o comércio da cidade através do consumo de quem lá estava, dos impostos gerados, da quantidade de turistas, etc.
Informações interessantíssimas, que podem até servir como benchmarking para outras maratonas ou demais eventos que contemplem esportes de participação.
No entanto, muitos resolveram comparar com números do GP Brasil de Fórmula 1 ou até com os de partidas de futebol.
É o que chamo de somar bananas com laranjas.
O esporte de participação tem a capacidade de atrair tanto os “participantes”, como seus acompanhantes, além do público que vai às ruas incentivá-los e torcer pelos favoritos.
No caso da maratona de Nova York, os “incentivadores” dos mais de 50 mil atletas ficam espalhados por todo percurso de 42 km contínuos, ou seja, em nenhum momento o corredor passa duas vezes pelo mesmo local.
O fato do evento acontecer em Nova York também traz viés às “análises”, pelo fato de a rede hoteleira ser maior, o que aumenta a capacidade de hospedagem, e dos valores dos produtos e serviços serem mais caros. O site Expatisan calcula que o custo de vida em Nova York é mais de 130% maior do que em São Paulo, isso para ficarmos na análise em relação ao GP de Fórmula 1.
É importante ressaltar que as críticas contidas no presente artigo não se dirigem à utilização de números nas análises, muito pelo contrário, sou defensor incondicional das ferramentas quantitativas para embasamento das conclusões e reflexões.
O que ataco é a superficialidade na mineração dos dados e as conclusões que não consideram, nem explicam as possíveis causas que levaram aos números apurados, pois dessa forma, verdades "não tão verdadeiras" passam a se constituir instrumentos de argumentação por parte dos menos afeitos aos detalhes.




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