terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Patrocínios da Caixa, o X da questão

Creio que os debates sobre a legitimidade de um banco público patrocinar equipes de futebol nunca estiveram tão em voga quanto agora, o que talvez possa ser explicado pelo atual momento econômico do país. Usarei esse artigo para dar minha visão sobre o assunto, tentando me abster totalmente de eventuais opiniões de cunho político.
Inicialmente é importante que fique claro que a iniciativa da Caixa é muito mais uma compra de mídia do que propriamente um patrocínio, o que aliás é o que mais tem acontecido nesse mercado, ou seja, empresas buscam a exposição de marca ao invés da associação das marcas.
Sobre isso já escrevi inúmeras vezes e não vou me estender, quem tiver interesse em se aprofundar no tema, sugiro ler os artigos: "A elegância discreta" -  http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/2012/07/elegancia, "Patrocínios inteligentes" - http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/2013/04/patrocinios-inteligentes.html
Em vista desse cenário, não há muito o que se discutir sobre a compra do espaço, afinal cabe aos gestores de marketing avaliar as opções de mídia disponíveis e decidir pelo que lhes pareça mais adequado aos seus objetivos.
No entanto, alguns outros questionamentos se fazem necessários.

1 – Por que as empresas privadas não têm se interessado por esses espaços?

Seria uma questão de valores? Seria por não acreditar nesse tipo de patrocínio ou espaço publicitário? Seria por não terem confiança nos gestores dos clubes, afinal o nível de endividamento desses denota que, pelo menos no passado, não foram geridos de forma eficaz?
Qualquer que seja a resposta, não me parece razoável que a Caixa esteja certa em suas convicções e um grande número de empresas esteja errado.

2 – Onde fica a visão de médio e longo prazo a respeito do futebol?

A escolha sobre os clubes que receberão as verbas e a diferença entre esses valores levam em consideração a audiência absoluta desses times. No entanto, essa mesma audiência é responsável por outra defasagem em relação às receitas:  a distribuição de cotas de TV.
Com isso, a tendência é que se aumente ainda mais o desequilíbrio entre os clubes, de forma que a competitividade – um dos principais, se não, o principal fator de atratividade de um evento esportivo – decresça e faça com que a audiência, a presença nos estádios, e por que não dizer, o número de fãs dessa modalidade também diminua.
Como podemos ver, estamos diante de uma equação perfeita para o “não desenvolvimento” dessa modalidade. Seria esse o interesse de um banco público?
Nas declarações do banco, se enaltece a necessidade de o banco ser competitivo no mercado em que atua e, dessa forma, precisar estar numa modalidade que dê retorno.
Vejo aqui mais um exemplo de uma visão de curto prazo, pois se a Caixa  e demais empresas – olhassem o esporte como um agente de formação, teria total interesse no fomento de várias modalidades, as quais atrairiam direta ou indiretamente crianças e jovens que, influenciados pelos princípios e valores do esporte, seriam melhores cidadãos. 
Essa melhor formação diminuiria os índices de desemprego e, consequentemente, seria vantajoso para a própria Caixa, não só por solidificar seu posicionamento de empresa com forte visão social, mas também pelo incremento na quantidade de depósitos do FGTS, fundo do qual possui o monopólio.
Há espaço ainda para se discutir os investimentos que o banco faz nas modalidades olímpicas, já que muitos criticam o uso de verba pública para o esporte de alto rendimento, o que tendo a concordar, pois acho que diante de tanta carência de recursos para saúde e educação, o esporte de iniciação deveria ser prioridade, até porque, esse contribui de alguma forma para minimizar as carências citadas acima.
No entanto, não podemos ignorar que uma das condições para a atratividade de uma modalidade, é que essa esteja na mídia, que o desempenho em competições internacionais seja bom e que tenha ídolos. Portanto, creio ser válida a iniciativa de focar o alto rendimento, desde que, é claro, a iniciação esteja contemplada e haja todo um planejamento com foco no futuro.

Por fim, penso que toda essa discussão poderia ser minimizada caso a iniciativa privada acreditasse na força do esporte, contribuiria para isso se as organizações esportivas fizessem sua parte e fossem geridas de forma séria e competente.




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