terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Teoria do caos

Apesar das chuvas que atrapalharam a sequência dos jogos, o Rio Open de Tênis 2016 foi um grande sucesso e incorporou definitivamente ao calendário da cidade um torneio de tamanha magnitude.
Entretanto, mesmo diante dessas boas notícias, alguns poucos sócios do Jockey Club Brasileiro, local que sediou o excelente evento, ficaram insatisfeitos pelo fato de estarem impedidos de usufruírem, por uma semana, de todos os benefícios que o título de associado lhes concedem.
O que não me causa surpresa, mesmo ciente de que o evento propiciou inúmeras vantagens ao clube e deu ao sócio a oportunidade de viver a atmosfera de um torneio internacional de excelente nível.
Essa insatisfação, infelizmente, é recorrente em todos os grandes eventos que acontecem no Brasil e em nações onde a cultura esportiva seja pouco desenvolvida. O trânsito ruim causado pelo fechamento das vias durante maratonas e provas de triathlon, por exemplo, costuma também ser alvo de grandes críticas e forte reação por parte da população insatisfeita.
Entendo! Afinal de contas ninguém gosta de ser cerceado em seus direitos de ir e vir. 
Mas será que não poderiam abdicar da visão de curto prazo e compreender que o incentivo ao esporte pode render inúmeros benefícios sociais ao país?
Recorrerei aqui à Física para citar a Teoria do Caos / Efeito Borboleta, que preconiza que “uma pequena mudança no início de um acontecimento qualquer pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro”, algo mais ou menos na linha exagerada de que "o bater de asas de uma borboleta em Tokyo pode causar um furacão em Nova York". Ressalto que o termo “caos” não significa, nesse caso, um transtorno, mas uma evolução em função de determinados parâmetros.
Voltando aos nossos eventos esportivos, podemos inferir que a realização destes, devido a popularização e mobilização despertadas, tem a capacidade de incluir inúmeras pessoas no esporte e assim contribuir para a melhoria da educação, saúde e segurança de um país, aplica-se aqui as tais consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro...por parte daqueles que ficam insatisfeitos.
Será que não vale o pequeno sacrifício? 
Até porque, muitos desses críticos, ao final dos Jogos Olímpicos ou demais campeonatos internacionais estarão a postos para “baterem” no desempenho dos atletas brasileiros, falando que o país é uma vergonha, porém, esquecendo-se que suas cotas de contribuição para o esporte estiveram concentradas nas reclamações do quão prejudicados estavam sendo com a realização dos eventos que ocorriam.
Ou seja, continuam jogando contra si mesmos, já que a falta de desenvolvimento esportivo é responsável por inúmeros dos percalços a que são submetidos.
Evidentemente, não pode também ser admitido que um evento esportivo faça com que a vida do cidadão se transforme num caos – esse no sentido de anarquia –, o que não significa que as competições devam ser levadas para regiões mais afastadas e com menor densidade demográfica, pois isso afastaria os patrocinadores que desejam ter suas marcas vistas in loco.
Creio assim, que a solução dessas "insatisfações" passe pela maior conscientização da população, e pelo empenho dos organizadores na elaboração de planos de contingência para os problemas que sempre existirão.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Pessoas & Processos

Em um passado bem recente, os lançamentos dos novos uniformes dos times de futebol se davam basicamente com um desfile de alguns jogadores vestindo as peças, seguido de uma coletiva de imprensa com representantes do clube e do fornecedor de material esportivo.
Para fugir dessa “mesmice”, algumas marcas esportivas e seus respectivos clubes começaram a adotar novas iniciativas como forma de divulgação, algumas bem criativas, outras bem audaciosas e até polêmicas.
Aliás, uma das mais polêmicas ocorreu recentemente em função de um vídeo produzido pela Adidas para a divulgação do 3º uniforme do time da Gávea, o qual tem como símbolo um urubu.
As críticas foram inúmeras, tendo a maior parte delas se concentrado na postura do “protagonista” do vídeo que abusou da apologia à fala errada ao nome do clube. 
Pelo que foi possível perceber, a maioria dos torcedores condenou a iniciativa munida dos mais diversos argumentos de desaprovação.
A partir daí, vieram à tona algumas explicações e desentendimentos sobre o incidente, entre elas:
- O vídeo foi produzido pelo canal de YouTube chamado Desimpedidos, especializado em humor e que costuma ter boa aceitação das suas obras, principalmente em São Paulo.
- O clube aprovou o roteiro, mas não viu a edição final antes dessa ir para o ar.
- A área de comunicação do clube deixou vazar pela imprensa críticas à área de marketing.

A grande insatisfação e os transtornos causados nos levam a concluir que falhas ocorreram, e sobre essas que tecerei os comentários sob a ótica de gestão.
O empresário Abilio Diniz preconiza que uma boa gestão se resume em gente & processo, o que concordo plenamente.
É claro também que processos são elaborados por pessoas e a seleção de pessoas se dão baseadas em processos, razão pela qual pode existir uma zona cinzenta na avaliação dos fatos. Porém, tendo a focar mais fortemente nos processos, por entender que esses são mais fáceis de serem “aprimorados” já que não sofrem, em tese, a influência de fatores ligados ao caráter e a princípios.
Voltando ao caso em questão, vejo que os erros se originaram basicamente em função de processos.
Em relação ao vídeo, bastava haver alguma norma especificando que qualquer material produzido por terceiros só pode ir a público após expressa autorização/aprovação da área responsável.
Já a “briga” entre departamentos via imprensa, também é relativamente fácil de ser evitada, para isso é necessário dispor de uma assessoria de imprensa com poderes para controlar quem, quando e o que falar, dessa forma nem a estratégia de comunicação, nem o clima organizacional é afetado.

Para finalizar, imagino que tenha ficado a dúvida sobre onde a participação das pessoas poderia ter influenciado nesse acontecimento. Como não conheço devidamente os envolvidos, vou me abster de responsabilizar pessoas.
Mas para ilustrar o artigo, posso citar um fato, cuja culpabilidade é estritamente de pessoas. Refiro-me aos ditos “especialistas” em marketing esportivo que – sem experiência prática tanto em marketing quanto em esporte – criticaram a competência e o nível de preparo das pessoas do clube envolvidas nesse episódio.
Essa minha conclusão se baseia no meu entendimento de que nenhum processo é capaz de corrigir a falta de ética.










terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Marketing, Esporte e Carnaval


A experiência de assistir a um desfile de escolas de samba, principalmente no Rio de Janeiro, é algo indescritível no que diz respeito à beleza e atmosfera envolvidas naquela que por muitos é considerada a maior festa popular brasileira.
Mas como se trata de um blog de gestão e marketing, focamos nossa atenção aqui aos detalhes relacionados a esses aspectos, o que nos permite concluir que, ao longo do tempo, o espetáculo vem deixando de ser uma manifestação estritamente cultural para dar espaço também a vertentes comerciais e mercadológicas.
Dentro desse contexto, é possível encontrar escolas de samba propiciando ótimas lições de marketing no que tange aos patrocínios, visto que esses têm se incorporado e se associado aos enredos de forma extremamente criativa e inteligente, sem a busca “famigerada” pela exposição do logo e/ou da marca que “patrocina” a escola. Evidentemente que isso ocorre por restrições dos organizadores, o que em nada tira o mérito das ações. 
Para ilustrar tais "lições", citaremos duas ações da Unidos de Vila Isabel, cientes, no entanto, da existência de inúmeras ações geniais desenvolvidas por outras escolas, que não serão aqui mencionadas em função da limitação do espaço.
Em 2010, a Vila teve como enredo “Mitos e histórias entrelaçadas pelos fios de cabelo”, sua patrocinadora era a Pantene que, entre outras ativações, trouxe a modelo Gisele Bundchen – embaixadora da marca - para desfilar pela escola no sambódromo.
Dois anos depois, com o patrocino da Basf, o enredo abordou a importância da produção agrícola para o mundo. Vale salientar que a empresa alemã possui uma unidade de negócios voltada aos produtos de proteção ao cultivo agrícola. 
O lado da relação comercial com a emissora que transmite o evento também não passa despercebido numa análise mais profunda, vide o caso da Rosas de Ouro de São Paulo, que no ano em que foi patrocinada pela Cacau Show, foi obrigada a trocar o trecho do samba “cacau é show” por “o cacau chegou”, de forma a não ir contra a política comercial da TV que, diga-se de passagem, não chama pelo nome nem a equipe da Unilever que investe há anos, de forma contínua e sustentável, no voleibol brasileiro.
Há ainda a possibilidade de a patrocinadora ter camarotes na avenida, de forma que possa levar clientes e parceiros estratégicos para o evento e assim trabalhar o relacionamento. Tal iniciativa, obviamente, é facultada mesmo para as empresas que não patrocinem nenhuma escola de samba, mas não há como negar que a ação fica muito mais abrangente ao se contemplar e integrar essa possibilidade. 

Apesar de considerar as situações narradas como bastante inspiradoras para as organizações esportivas e empresas que queiram investir no esporte, o objetivo do texto não é incentivar a criação da expressão “marketing carnavalesco” assim como fizeram com o esporte e a política, entre outros, afinal de contas, o marketing é um só, e quem o conhece está capacitado a aplicá-lo em qualquer ramo de atividade.
A intenção original do artigo foi aproveitar o período carnavalesco para fazer alguma ligação do carnaval das escolas de samba com o esporte, sob o viés de marketing. 
Nessa busca encontramos a União da Ilha – escola do Rio de Janeiro – que trouxe como enredo, ”Olímpico por natureza...todo mundo se encontra no Rio”, no qual fala sobre os Jogos Olímpicos que se aproximam.
Ao contrário das situações narradas acima em termos de patrocínio, a escola da Ilha do Governador nada recebeu pela escolha do enredo, apesar de os Jogos do Rio estarem sendo levados ao mundo todo através também do carnaval. Fato que merece de todos os amantes do esporte, o reconhecimento e agradecimento à escola.
Medalha de ouro, a nossa união...



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Um ídolo como deve ser - Haile Gebrselassie

 
Mais uma vez grande parte da mídia brasileira perdeu uma excelente oportunidade de ajudar o esporte. 
Refiro-me à pouca atenção dedicada ao maior corredor de fundo da história, o etíope Haile Gebrselassie, que esteve nessa semana no Brasil trazido pela Adidas, sua patrocinadora, o que, aliás, pode ser considerada uma exemplar iniciativa de marketing.
Conhecido também como “The Emperor of Long Distance”, o Imperador da Longa Distância, Haile tem entre suas conquistas, quatro títulos mundiais nas provas de 10.000 m, vinte  e sete quebras de recordes mundiais – dois na maratona, sendo o primeiro homem a completar essa prova com o tempo abaixo de 2 horas e 4 minutos -, e duas medalhas olímpicas de ouro também nos 10.000 m. 

Considero sua conquista no Jogos de Sydney como a melhor prova que assisti nessa distância, talvez a melhor que tenha assistido no atletismo.
Vale ver o final da prova acessado o  link https://www.youtube.com/watch?v=5D56ZAvcxN0
Entretanto, tanto ou mais do que pelo desempenho esportivo, o etíope se destaca por inúmeros outros fatores que fazem dele um ídolo na mais perfeita concepção da palavra, visto ser um exemplo a ser seguido por todos, seja no esporte, na vida profissional ou pessoal.
Entre os fatos dignos de serem relatados estão:

- Trajetória de vida – A infância pobre junto a nove irmãos, o fazia a percorrer correndo, num terreno bastante acidentado e numa região de elvada altitude, 20 km para ir e voltar diariamente do colégio.

- Forma de encarar o esporte – Ganhando ou perdendo, é difícil vê-lo sem um sorriso no rosto. Somado a isso, jamais foi acusado de doping, atitudes antiesportivas ou esteve envolvido em escândalos.

- Receita para o sucesso – Haile preconiza que para se ter sucesso são necessárias três condições: ser disciplinado, ter metas e compromissos, e trabalhar duro
Alguém questiona que tais ingredientes são aplicáveis para tudo na vida, e não apenas ao esporte?

- Aposentadoria – Mesmo sem competir em “altíssimo rendimento”, o verdadeiro Imperador, pretende continuar correndo e bater todos os recordes de másters à medida que a idade aumente.
Apesar das inúmeras conquistas – esportivas e financeiras -, das contusões cada vez mais frequentes e dolorosas e do “sofrimento” dos treinamentos, ele não pretende jamais se aposentar do seu trabalho e da sua diversão de correr bem.

- Investimentos – Seu desempenho esportivo foi responsável por lhe propiciar prêmios e patrocínios que o deixaram numa situação financeira extremamente privilegiada.
Não obstante à atratividade, tanto em termos de possibilidade de investimentos como de qualidade de vida de outras cidades ao redor do mundo, Gebrselassie optou por morar e investir em seu país, por entender que agindo assim gera empregos e contribui de alguma forma para o desenvolvimento da região. A propósito, algumas de suas aplicações pouco ou nada lhe rendem financeiramente, como é o caso das duas escolas que construiu.

Pelo ponto de vista de marketing, acho que não paira a menor sombra de dúvidas sobre as vantagens de se ter uma pessoa como Haile associado a qualquer marca.
Seguindo nessa linha de argumentação, voltamos ao parágrafo inicial para reafirmar que a mídia do Brasil perdeu uma excelente oportunidade de exaltar e mostrar massivamente ao público brasileiro como deve ser e se comportar um ídolo.
Ao invés disso, preferiu ocupar seu espaço com pautas que, muito provavelmente, proporcionaram uma boa audiência, a qual sem dúvida é importante, principalmente no curto prazo.
No entanto, penso que de pouco adiantará auferir boas receitas no presente, se o espectador de amanhã tiver tido como referência na sua formação, a sonegação de impostos, a irresponsabilidade, a falta de comprometimento, o pouco empenho no trabalho e tantas outras práticas condenáveis, mas que ainda assim conferem títulos de "nobreza" e espaço a alguns "atletas".