terça-feira, 26 de abril de 2016

Por uma sociedade olímpica!



Passados quase sete anos, ainda está vivo na minha memória o momento em que o Rio de Janeiro foi escolhido para ser a sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Um misto de sentimentos rapidamente se instalou.
Alegria com a perspectiva de receber na cidade que amo, os maiores expoentes do esporte, atividade que nutro sentimento equivalente.
Apreensão por temer que as instalações e estruturas pudessem não corresponder às necessidades do megaevento.
E por fim, a esperança de que se tornando uma cidade olímpica, a população carioca e brasileira assimilasse os princípios e conceitos que envolvem o Olimpismo, entre os quais destaco: o respeito aos princípios éticos, a amizade e a excelência.
Respeito envolve honestidade e consideração com o próximo.
Amizade, o entendimento apesar das diferenças, e os sentimentos positivos de reciprocidade.
Excelência, a busca pelo melhor, dentro, evidentemente, dos mais rígidos padrões éticos.

Como parte da reflexão, abordaremos o acidente ocorrido em dia 21 de abril de 2016 na ciclovia que liga o Leblon a São Conrado, o qual contribuiu para que a minha esperança na consolidação dos princípios do Olimpismo em nossa sociedade, aos poucos se transforme num mero sonho...

Não cabe discutir aqui a qualidade das obras, pois fazê-lo sem conhecimento técnico igualaria a discussão às reportagens veiculadas pela imprensa em busca de sensacionalismo. Cheguei a ouvir um jornalista, pasmem, afirmar que era um absurdo construir ciclovias, pois a cidade precisa é de metrô...quanto descaso com a saúde.
Entretanto, é fundamental que seja discutida a necessidade da implantação de processos básicos de segurança, já que, nesse caso, bastaria ter algum procedimento que preconizasse a interdição do trajeto em casos de algum fenômeno natural, como ressacas, por exemplo, para que vidas fossem poupadas.
A menção à excelência se aplica perfeitamente a essa situação.
Evidentemente, a sugestão proposta não é infalível, já que existe a possibilidade de alguns desobedecerem a determinação do órgão responsável. Tal eventualidade reforça minha posição, que exalta a necessidade do respeito, o qual envolve o cumprimento de regras e regulamentos, por mais que esses contrariem nossos interesses.
E o que dizer sobre a postura dos banhistas que, ao lado dos corpos das vítimas do acidente, tiravam selfies e se divertiam sem se importarem com o sentimento dos parentes e amigos que tinham acabado de perder seus entes? A amizade que me refiro como princípio do Olimpismo não se resume simplesmente à afinidade com quem conhecemos e temos alguma empatia, mas também à solidariedade com quem não desfrutamos de convívio.
Triste demais...

Saliento que as críticas nesse artigo não são voltadas aos Jogos, pois creio que a sua realização irá contribuir para o país dar um expressivo passo em termos de desenvolvimento esportivo, o que, consequentemente, atrairá mais pessoas para a prática do esporte, e assim talvez se melhore a educação e a saúde do país.
Todavia, não me conformo com a postura dos patrocinadores - o que inclui os governos envolvidos -, que não se aproveitam dos Jogos Olímpicos para associarem suas marcas aos princípios citados e promoverem campanhas incentivando a adoção dos mesmos.

Resta a dúvida: seria tal passividade fruto de miopia ou da desesperança?



terça-feira, 19 de abril de 2016

Tá em falta...

Creio que todos já passaram pela situação de tentar comprar um produto e ao não tê-lo disponível, ouviram do vendedor que o bem "tá em falta”.
Comumente, também, escutamos do varejista como justificativa para a falta que se trata de um problema do fabricante que não entregou o tal produto.
E quando se procura o fabricante, não é raro receber a informação de que não existe nenhum problema na produção, tampouco de atraso na entrega.
No esporte, mais precisamente no futebol, onde a demanda por camisas de clubes é bastante significativa, o "conflito varejo vs. fabricante" ganha ainda mais força, já que é insuflado pela paixão do torcedor e pelos leigos em assuntos relacionados a varejo bens de consumo e marketing, que teimam em abusar do clichê: "a distribuição é ruim".
Mas afinal, quem está falando a verdade? Quem está com a razão?Sem acesso ao pedido do varejista, jamais teremos condições de responder essas questões com absoluta certeza, porém, podemos com um bom nível de assertividade inferir a origem da falta. Para isso basta atentar para alguns indícios, tais como:
O produto que se procura estava sendo comercializado anteriormente - um ou dois meses -  naquele estabelecimento.
Em outras lojas, principalmente nas localizadas na mesma cidade, existe o produto.
É possível encontrar outros tamanhos do mesmo bem naquele estabelecimento.
Há produtos do mesmo fabricante naquela loja.
As situações descritas acima denotam um quadro onde há enormes chances de ser um problema mais ligado ao varejista que, provavelmente, fez uma estimativa de vendas conservadora, fato que traz como consequencia a falta de produtos.
Por outro lado, quando não se encontra o produto durante muito tempo, pouquíssimas lojas o comercializam e falta outros produtos do mesmo fabricante, a probabilidade de ser um problema de distribuição é bastante grande.
No caso de camisas de clubes de futebol, a detecção da origem do problema é até mais fácil, visto que o preço desses itens não costuma variar em relação ao time nem em relação ao fabricante. Ou seja, o fator preço na “negociação comercial” interfere bem menos do que no setor de bens de consumo, por exemplo, onde muitas vezes as marcas usam a precificação como principal diferencial competitivo.
Nesse mercado – de camisas de times -, o porte do fabricante, sim, é um dos fatores de maior importância para a colocação do produto no ponto de vendas. Isso se deve a sua melhor estrutura em relação à cadeia de distribuição, e à maior dependência do varejista a outros produtos do portfólio da marca. 
Não vai com esse último motivo nenhuma alusão a uma eventual venda casada, visto tal prática ser ilegal, mas ao maior maior esforço das áreas de marketing e comercial dessas grandes fornecedores no intuito de aumentar seu "drop size" (quantidade de caixas/unidades de embarque por cliente/entrega) e assim reduzir os custos de logística, o que, evidentemente, melhora o resultado da operação.
Diante dos pontos que foram aqui levantados para reflexão, podemos com relativo índice de asseveração identificar os responsáveis nos casos de ruptura de estoque - o tal "tá em falta".
Quem sabe assim, consigam abrir mão dos clichês e tentem entender como funciona o mercado. 



terça-feira, 12 de abril de 2016

Cuidado com a marca!

No artigo “Qual é o nome?” - http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/2013/04/qual-e-o-nome.html, abordei alguns aspectos relacionados à escolha do nome das marcas, além dos critérios para se chegar a ele. 
Citei ainda alguns cuidados que deveriam ser contemplados para que fossem minimizados os riscos do nome ter uma conotação “diferente” e “negativa”, caso a marca fosse “exportada” para outros países.
Na época, optei por deixar fora do texto os procedimentos relacionados à proteção do nome por entender que se tratava de um assunto mais relacionado à área jurídica, a qual, obviamente, deve atuar bem próxima à de marketing no tocante a esse assunto.
Contudo, creio que dentro do escopo da proteção jurídica e da crescente globalização das marcas, é preciso discutir aqui as eventuais brechas que algumas empresas têm encontrado para “pegar carona” em marcas já estabelecidas.
Nesse contexto, o caso da marca chinesa Qiaodan, de propriedade de uma família da província de Fujian, nos traz uma ótima oportunidade para discutir o tema.

A Qiaodan, além de ser uma marca de material esportivo, é uma cadeia de varejo com mais de 6.000 lojas em território chinês. 
Mas qual a origem do nome Qiaodan?
Seria um nome inventado? Aquele que não guarda relação direta entre o significado da palavra e o produto da empresa, tal qual Adidas, por exemplo.
Ou seria um nome sugestivo? Aquele que sugere algum uso ou atributo para o produto, tal qual Speedo.
Antes de responder, vale relatar que Qiaodan significa Jordan em mandarim, porém, segundo explicações dos advogados da empresa, esse nome não está relacionado a ninguém, já que existem mais de 4.600 chineses com esse nome. Além do que, o fato de não se tratar de nome com sobrenome descaracteriza a possibilidade de Qiaodan (Jordan) ser alusivo a alguma pessoa.
Ou seja, para empresa chinesa se trata de um nome inventado.
Mas como explicar a figura de um jogador de basquete bem semelhante a Michael Jordan como logo da Qiaodan?
Tamanha "coincidência" já rendeu inúmeras ações judiciais em diversas instâncias na China, mas em todas o ídolo do basquete americano - que cede sua marca à Nike desde 1984 - não vem obtendo êxito, sua única vitória no caso é estar conseguindo impedir o processo de IPO da empresa.
Ressalto que o caso Nike/Jordan não é o único na China, visto já terem ocorrido situações similares com marcas como Gucci, New Balance e até com o Starbucks, essa última, no entanto, se saiu vitoriosa na ação contra uma cadeia de café chinesa chamada Xingbake – xing significa estrela.
Diante da grande incidência desse tipo de situação, os advogados especializados em propriedade industrial têm recomendado aos seus clientes que protejam as traduções de suas marcas em chinês, mesmo que não almejem atuar no país.
O que faz total sentido, como exemplificamos com o caso da Qiaodan que, certamente, tem entre seus clientes, incautos que relacionam a marca à Jordan original.
O case narrado, além de servir como alerta aos gestores de marca, serve também para refletirmos sobre o estágio que estamos chegando no que tange ao desrespeito aos direitos alheios, vide também os inúmeros casos de pirataria, dos registros de domínios alheios na internet e das ações de ambush marketing.



terça-feira, 5 de abril de 2016

O poder emana do povo


O esporte, quem diria, tem sido cada vez mais pródigo em criar especialistas.
São “técnicos” das mais variadas modalidades esportivas que mal sabem as regras do esporte, mas mesmo assim opinam sem a menor vergonha sobre aspectos técnicos e táticos. Verdadeiros fenômenos!
Os experts em marketing formam outra legião de notáveis, opinam em blogs, redes sociais e em seus grupos com a propriedade de quem tenha sido um professor do Kotler.
E para o artigo não ficar muito extenso, vamos fechar com os “jornalistas” que, sem a capacidade de identificar as fragilidades das informações coletadas, posam como mestres na matéria. Para continuarmos no esporte, citaremos o ranking de vendas de camisas de clubes de futebol - divulgado pela Centauro e Netshoes -, o qual parece ter nos colocado diante de uma verdadeira legião de catedráticos em varejo. O Pão de Açúcar não sabe o que está perdendo ao deixar de fazer uma proposta de trabalho para tais talentos.

Para ser justo não dá para colocar apenas o esporte como “causador” desse surgimento de “especialistas” e críticos. Creio que seja um movimento geral, ele ocorre na política, economia e até na medicina. 
Certamente, o surgimento e a proliferação de redes sociais e demais plataformas "democráticas" de comunicação acentuaram esse processo, já que os espaços disponíveis permitem que cada um coloque suas ideias, opiniões, desabafos, agressões e até, pasmem, elogios.
Nada contra, desde que feitos com educação e com o devido cuidado para não parecerem assertivos, quando na verdade se trata apenas de uma opinião. Mesmo porque, a maioria das pessoas – se não a totalidade – não possui o devido embasamento para ser definitivo em todas as suas observações.

E aqui chegamos a um paradoxo interessante, principalmente quando falamos de economia, esporte e gestão.
É fato que todos os críticos contumazes defendem a ideia de que grande parte dos erros ocorre porque o autor não se preparou o suficiente para executar alguma função ou projeto. 
Então pergunto: e o crítico? Será que ele sabe bem do que está falando ou escrevendo?
Será que o torcedor de um clube conhece mais do que o treinador? 
Será que um crítico da política econômica entende mais de economia do que os ministros ou secretários de estados?
Será que um acionista insatisfeito com os rumos da empresa faria uma gestão melhor do que os executivos sobre os quais ele reclama?
Evidentemente ocorrerão exceções que poderiam responder “sim” para as perguntas acima, porém, na maioria das vezes a resposta é “não” por um simples motivo: o crítico não conhece todos os pontos relativos aos “bastidores” da atividade, ou seja, não possui as informações suficientes para ser assertivo.
Insisto que as opiniões – de preferência respeitosas – são importantíssimas, porém, “fórmulas mágicas”, “receitas de bolo” ou “professores de Deus” são perfeitamente dispensáveis.
Afinal de contas, se queremos pessoas preparadas para nos representar ou cuidar de nosso país, estado, clubes, empresas etc. , precisamos dar o exemplo. Aqui vale a máxima: "O poder emana do povo e em seu nome será exercido."

Não quero com esse artigo fazer apologia da censura, longe disso, já sofremos demais com tal prática...
Mas creio ser salutar que, principalmente, redatores e jornalistas com grande alcance tenham um cuidado maior na elaboração de seus textos, e no caso de não ter o devido conhecimento sobre o  assunto, abdidquem do tema ou deixem claro que se trata de uma mera opinião, abandonando o tom professoral que costumam impingir em seus textos.
Agindo dessa forma correm menos riscos de perderem a credibilidade e de se contradizerem no futuro.

A propósito, essa é minha mera opinião sobre o tema.