terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O desafio de ser sustentável

O presente artigo foi escrito meses antes de sua publicação, porém decidi deixá-lo como o último de 2016, pretendendo que ele sirva como uma espécie de mensagem de conscientização e esperança para os próximos anos. 
Falarei sobre sustentabilidade sem, no entanto, fugir da linha editorial do blog.
Minha preocupação aqui diz respeito ao uso indiscriminado dos recursos naturais, à poluição e aos desastres ambientais, que no ritmo que estão, certamente impactarão o futuro das próximas gerações. 
Vale ainda questionar sobre o efetivo papel que a sociedade e as empresas podem ter nesse cenário, pois não sabemos até que ponto a população, de forma geral, consegue passar do discurso para a prática a suposta preocupação com os aspectos ligados à sustentabilidade. 
Tal cenário, se bem explorado, pode ser uma excelente oportunidade para as empresas que, com mais recursos e menos comodismo, têm a oportunidade de implementar práticas que deixem suas culturas e operações mais sustentáveis, de forma que o consumidor ao optar por seus produtos e serviços, incentivem as ações mais responsáveis.

E para fechar o artigo incorporando o esporte à gestão, colocamos como exemplo dessa prática, a Adidas, uma empresa voltada basicamente ao esporte que, associada à Parley for the Oceans lançou um protótipo de um tênis feito com plásticos retirados do oceano. Para a confecção do produto, utilizaram material coletado nas redes de pescadores ilegais na costa oeste do continente africano. O produto final, denominado Primeknit, é totalmente produzido com materiais recicláveis.
Dando continuidade à ação, a parceria produziu camisas com resíduos plásticos retirados das áreas costeiras das Maldivas no Oceano índico para vestir duas das principais equipes patrocinadas pela Adidas: o Real Madrid, que usou o produto na partida contra o Sporting Gijón, e o Bayern Munich, que trajou a peça no jogo contra o Hoffenheim.
Ainda como parte da iniciativa, as equipes concordaram em não ter as logos visíveis, de forma que as camisas fossem as mais sustentáveis possíveis, além disso, havia na parte de trás do uniforme uma mensagem “For the Oceans”. 
Esse exemplo, vindo de uma indústria do segmento esportivo, busca a coerência com o objetivo do blog.
Contudo, devemos registrar que muitas empresas, oriundas dos mais diversos ramos de atividade, já adotam práticas ecologicamente corretas e socialmente justas, iniciativas que as deixam mais atraentes aos olhos dos consumidores, os quais também deveriam cumprir sua parte no que tange à gestão dos resíduos urbanos, principalmente aqueles que residem nas grandes metrópoles, que por estarem mais perto dos litorais acabam maltratando o oceano.
O esporte, talvez, proporcione um caráter mais emblemático, em função da sua capacidade de engajar e, da maior proliferação de ídolos, que podem servir como exemplos de causas para os mais jovens.
Que sejamos mais felizes em 2017 e façamos nossa parte para um mundo mais sustentável.


terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Recordes e barreiras

Todo atleta, seja esse de alto rendimento ou mero participante de competições, costuma colocar entre seus objetivos o atingimento de alguma meta - ou recordes, mesmo que pessoais.
Geralmente factíveis às suas possibilidades, os objetivos ganham um grau de dificuldade maior quando assumem a condição de barreira. Explico melhor o que quero dizer com o case que narro abaixo.
Na semana passada a Nike anunciou seu novo projeto voltado ao segmento running: o Breaking2, que consiste em preparar alguns de seus principais atletas para correr uma maratona abaixo de duas horas em 2017. Reparem que a Nike não busca apenas o recorde, busca quebrar uma barreira.
Para os menos afeitos à modalidade, informo que o recorde atual é de 2:02:57, obtido pelo queniano Dennis Kimetto – atleta patrocinado pela Adidas – em 2014 na Maratona de Berlim, que tem também a marca alemã como patrocinadora. 
Considero tal marca um assombro, assim como tenho considerado a maioria das quebras, principalmente as que aconteceram a partir de 1998, quando o brasileiro Ronaldo da Costa correu a mesma prova para 2:06:05.
Questiono as previsões que são feitas a respeito, essas, apesar de estatisticamente embasadas, não contemplam, nem teriam como contemplar perfeitamente, os avanços que têm se dado em termos de treinamento, alimentação e equipamentos.
O que não me impede de arriscar um palpite, esse aponta que será impossível obter a quebra pretendida pela Nike em 2017. 
Não faço essa previsão por conhecer as dificuldades da prova, tampouco confio no meu modelo de regressão que também aponta um intervalo superior de anos para alguém correr abaixo de duas horas. A razão da minha aposta se deve a uma análise puramente mercadológica, vamos a ela.
Por mais investimento que a Nike faça nessa preparação*, não é possível garantir que outros atletas ou outros métodos de preparação não sejam mais eficientes. Sendo que esses podem estar sendo patrocinados por marcas concorrentes.
Evoluindo nesse raciocínio, seria um risco enorme para a marca norte-americana lançar um projeto que fosse “furado” por outra marca de calçado de corrida. Afinal, estariam chamando a atenção para um desafio que seria alcançado por quem nada investiu na divulgação do objetivo.
Tal conjuntura me leva a crer que a própria Nike julga como impossível atingir essa meta em 2017, mas com a campanha consegue associar seus produtos à velocidade, superação e demais valores tão importantes nesse mercado, além, é claro, de se destacar para os olhos do varejo.
Ressaltando que a marca, que já foi uma das maiores referências no segmento running, tem perdido espaço não só para as tradicionais concorrentes, como também para outras marcas que invadiram com sucesso esse mercado.
Além do provável ganho de market share, o desafio coloca holofotes sobre a prova, o pode impactar no aumento do número de praticantes e, consequentemente, no crescimento no mercado de equipamentos para corrida.
Se efetivamente é essa a estratégia da empresa só seus executivos poderão responder, mas se for, considerarei genial e com mais chances de sucesso do que correr 42,195 km em 1:59:59 em 2017.

* Há um outro projeto similar, denominado Sub2, que tem como objetivo atingir a marca no prazo de 5 anos.


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Quem sabe, sabe?

“Quem sabe, sabe...quem não sabe vai para a Europa estudar”.
A frase acima foi proferida em tom provocativo pelo treinador Renato Gaúcho após conquistar seu 2º título como técnico da Copa Brasil e, como esperado, conseguiu mais uma vez causar polêmica.
Claro que creditar o sucesso ao fato de ter aprendido futebol e daí não precisar mais se atualizar é errado, até porque o técnico não ganha – nem perde – sozinho, e para sua "tese" ser verdadeira seria necessário que ele ou outro técnico com tal perfil vencesse todos os campeonatos que são disputados. 
Contudo, se expurgarmos o lado debochado e bem humorado da afirmação, temos um bom tema para desenvolvimento do artigo.
Em minha opinião, é fundamental que o profissional de qualquer área se mantenha sempre atualizado, pois a evolução da sociedade exige novos conhecimentos e aprimoramentos em relação aos adquiridos no passado.
Mas como se atualizar?
No caso de técnicos, fico pouco à vontade para avaliar as opções disponíveis, porém, me permitirei fazer uma analogia com o mercado corporativo e “palpitar” sobre o tema, deixando claro que em gestão - o que inclui capacitação de profissionais - não existem verdades absolutas.
Penso que mais importante do que fazer uma reciclagem, é saber primeiramente quais os objetivos dessa iniciativa, o que se pretende alcançar e o tempo disponível para dedicação. Diante dessas respostas, aí sim, se deve buscar onde – e como – satisfazer os anseios definidos. 
Nessa fase, o trabalho de pesquisa deve ser muito minucioso, pois tem havido uma proliferação exagerada de cursos de especialização e de “MBA’s”, muitos deles com qualidade duvidosa e sem corresponder às expectativas dos alunos.
Não obstante à frustração dos “alunos”, devemos reconhecer que, de fato, é muito difícil organizar um curso onde não há uma uniformidade de conhecimento entre os participantes, isso sem falar na fragilidade do corpo docente.
Diante desse quadro, creio que, no caso de reciclagem, o ideal seja um modelo de curso, cuja atividade principal consista no estudo de cases, onde alguma situação seja discutida sob todos os prismas concernentes à gestão pelos alunos, coordenados por um por um bom orientador/professor. A ideia aqui não é encontrar a melhor solução, mas refletir sobre todas as visões e sugestões que serão dadas a respeito, de modo que o aluno passe, naturalmente, a ter mais referências para serem adaptadas às situações reais com que se defrontará no futuro.
No caso do esporte, esse estudo de cases poderia ser adaptado às observações dos jogos, focando e discutindo lances com outros técnicos da modalidade. Reitero aqui que, assim como em gestão, no esporte não existem verdades absolutas quando se trata de táticas e estratégicas, por essa razão o esgotamento das discussões sobre o assunto é salutar.
Como podemos ver, a frase do Renato Gaúcho, a quem sou muito grato pelo gol de barriga, está longe de ser correta, mas serve ao menos para questionar as formas de reciclagem que se proliferam, grande parte delas com um cunho basicamente comercial, e que pouco agrega a quem procura.



terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Com o verde da solidariedade

As matérias, as imagens e as entrevistas que trazem como tema a Chapecoense parecem não se esgotar. Cada uma mais emocionante do que a outra, gatilhos involuntários de uma tristeza aguda que teima em não cessar.
Foi difícil resistir à tentação de escrever sobre as emoções que envolvem amizade, família e toda a atmosfera que circunda os valores importantes da vida, os quais no esporte aparentam ser amplificados, ainda mais num momento de muita dor. Contudo, sendo o objeto do blog "discutir os aspectos relacionados à gestão", disciplinadamente seguirei a linha editorial traçada. Além do que, erra quem teima em achar que o fator “emoção” pode ser extirpado da gestão. Não pode, visto fazer parte da vida, cabendo aos gestores analisar e entender o comportamento do consumidor, sobre o qual não se é possível controlar.
Nesse contexto, talvez fosse interessante desenvolver o artigo focando as manifestações de pesar e homenagens à Chapecoense realizadas por equipes de vários países e de diversas modalidades esportivas, pois, além da fartura das ações, a criatividade tem se mostrado inesgotável. Porém, o reduzido espaço do artigo deixaria de fora algumas, o que seria injusto, fato que me levou a declinar da ideia.
Vale, no entanto, citar aqui as iniciativas do Atlético Nacional de Medellín que abriu mão da disputa do título em prol do time catarinense e realizou um evento em seu estádio que só de lembrar aciona o tal gatilho mencionado no 1º parágrafo. 
Dessa forma, achei mais interessante chamar a atenção sobre alguns acontecimentos que, certamente, bem analisados muito têm a agregar nos processos de gestão.
Reparem que a ocorrência de acidentes - não apenas aéreos - é algo que, infelizmente, acontece com relativa frequência e algumas vezes com número de vítimas superior, entretanto, não há como negar que a comoção causada com o acidente da Chapecoense foi uma das maiores, se não a maior que já presenciamos. Claro que as redes sociais e a globalização fazem com que os acontecimentos sejam mais reverberados, todavia, creio que o fato do acidente estar relacionado ao esporte tenha sido a principal causa de tamanho choque. O que corrobora para o reconhecimento dessa atividade como um dos principais agentes influenciadores de corações e mentes.
Devemos atentar também para a união dos clubes, que deixaram a rivalidade de lado para prestar solidariedade ao time de Chapecó e aos jornalistas que estavam no avião. Entenderam que a competição se dá dentro dos campos, e que fora deles, todos têm muito mais a ganhar pensando no bem comum, aliás, um bom exemplo disso se dá nas ligas profissionais dos EUA.
Por último, uso as iniciativas das pessoas, clubes, federações, ligas e países para mostrar a importância de ser bem visto no mercado. Como já escrevi em outros artigos, o consumidor não faz mais suas escolhas apenas em função dos atributos tradicionais como preço, qualidade, etc., decidindo também em função das condutas que as marcas/empresas empenham em relação à sustentabilidade e ações sociais. Nesse episódio, pudemos ver clubes que despertam considerável rejeição, terem esse sentimento atenuado em função da solidariedade demonstrada.
Quanto ao título do artigo - o da Copa Sul-Americana é da Chape - devo esclarecer que não houve nenhum engano, sei muito bem que o verde é a cor da esperança, mas nesse caso, a simbiose da cor da Chapecoense com o fator solidariedade faz com que a esperança, tão importante em nossas vidas, abra mão do monopólio do verde.

“Nunca tive 2º time, sou apenas Fluminense, mas a partir da semana que passou, tanto a Chape, como o Atlético Nacional de Medellín têm um lugar especial no meu coração”.

#FORÇA CHAPE 
#OBRIGADO COLÔMBIA