terça-feira, 11 de abril de 2017

Compliance e as confederações

Infelizmente mais um escândalo envolvendo uma confederação esportiva ganhou às manchetes dos meios de comunicação.
Por preconizar o respeito ao profissional que estuda, se prepara e exerce funções em sua área de atuação, não será feito aqui nenhuma espécie de julgamento sobre as acusações até que o processo se encerre. Usaremos o espaço para levantar alguns aspectos que podem ser úteis na reflexão sobre a realidade das confederações brasileiras.
Uma das alegações mais usadas para se tentar justificar problemas dessa natureza foca no tempo de permanência dos presidentes das instituições. Alguns defendem fervorosamente a oxigenação e renovação da gestão, o que, sem dúvida, é legítimo e salutar, porém, renovar apenas por renovar pode trazer consequências bastante ruins caso os sucessores não tenham o devido preparo.
E já que falamos em preparo, precisamos entender o que isso significa.
Sem grande rigor, podemos resumir que em termos técnicos cabe ao presidente de uma confederação ter bons conhecimentos acerca de gestão e da modalidade daquela confederação. 
Em termos morais basta ser ético.
O que nos deparamos, no entanto, é com uma realidade na qual a capacidade de articulação política se constitui como o requisito decisivo nas assembleias que elegem os presidentes. Não que essa qualidade possa ser desprezada, ao contrário, ela é importantíssima – desde que executada com ética – no relacionamento com todos os stakeholders, onde se incluem: federações filiadas, atletas, árbitros, técnicos, imprensa, comitê olímpico, pares internacionais, patrocinadores e fornecedores.
Contudo, ter uma boa articulação política não é suficiente para se gerir qualquer instituição, seja no âmbito global, nacional, estadual ou mesmo municipal.
Diante dessas pré-requisitos – obrigatoriedade de sucessão e preparo do presidente – temos um cenário complicado, pois, ao contrário de uma empresa, onde o presidente é escolhido de acordo com os objetivos delineados pelo conselho, nas confederações o processo é eminentemente político.
Mas supondo que o desafio da escolha seja superado, nos deparamos a seguir com outro problema: o controle e a fiscalização sobre os números produzidos pela instituição.
Reparem que as denúncias sobre a CBDA vieram basicamente por parte dos atletas, o que penso ser meio inapropriado, pois as preocupações dos atletas deveriam estar voltadas ao melhor desempenho possível de suas atividades, visto que qualquer desvio de foco pode influenciar seus resultados, pelos quais são cobrados. 
E mesmo que a participação do atleta como agente de fiscalização e controle seja de alguma forma “conciliada”, há sérios riscos de que ele não consiga exercer a função de forma correta e plena.
Um desses riscos pode ocorrer em confederações cujas modalidades contemplem alguma subjetividade no processo de escolha. Afinal, nem todos os técnicos têm segurança suficiente para não acatar as “sugestões” de seus empregadores. Nessa situação não seria incomum ter o silêncio como salvaguarda de eventuais "represálias".
Outro risco diz respeito à faixa etária dos atletas, em razão de ser sabido que certas modalidades têm os mais jovens como expoentes, dos quais não podemos esperar uma participação mais ativa e eficiente em processos como o que preconizamos como fundamentais à boa gestão.
Acredito assim, estarmos diante de um quadro bastante nebuloso para as modalidades olímpicas, que com estruturas de gestão precárias e a ressaca com o fim dos mega eventos, veem as dificuldades para a obtenção de recursos  e, principalmente patrocínios, aumentarem.
Acrescento à conclusão acima, que tal cenário era bastante previsível, e aqui devemos elogiar a iniciativa do Comitê Olímpico Brasileiro em ter como um de seus alicerces o Instituto Olímpico Brasileiro, responsável pela elaboração e aplicação de cursos de formação e aperfeiçoamento de gestores, entre os quais destaco, por conhecer, o  Curso Avançado de Gestão Esportiva (CAGE), com excelente conteúdo e formato. Sua eventual fragilidade pode consistir na seleção dos participantes que, sendo baseada, principalmente, nas indicações feitas pelas confederações, corre o risco de ter que proceder a triagem a partir de um material humano contaminado, caso as referidas instituições não sejam geridas por pessoas capacitadas e éticas.

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Peço licença a todos por usar esse espaço para homenagear a Maria, minha 2a mãe, que esteve comigo desde quando eu me encontrava na barriga da minha mãe.
Além de eternamente registrado na minha mente, coração e alma, deixo aqui meu agradecimento por tudo que ela me proporcionou em termos de amor, carinho e dedicação.
Descanse em paz, minha querida Maria, que Deus a receba e cuide muito bem de você.
As saudades e o amor são para sempre!

2 comentários:

  1. Muito bom Idel. Acho importante que as confederações tenham sedes regionais ao invés de federações, seria mais fácil coordenar o desenvolvimento do esporte e imagino uma
    política com mais harmonia.
    Meus sentimentos.

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    Respostas
    1. Primeiramente obrigado pelo carinho, Lula.
      Agradeço também seu comentário e elogio.
      Não tinha pensado nessa ideia, me parece interessante.
      Vou refletir a respeito.
      Abraços

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