terça-feira, 9 de maio de 2017

Você demitiria um parente?

Quando o técnico Tite foi convidado para dirigir a seleção brasileira de futebol escrevi um artigo - Parente pode? - http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/2016/10/parente-pode.html -, que tinha como objetivo a reflexão sobre a contratação de parentes, visto o estatuto da CBF não permitir que o treinador tivesse seu filho como um de seus auxiliares de confiança.
Procurei abordar no texto os pontos e contrapontos da decisão, levando a situação para o campo do mundo corporativo. Pela falta de exemplos concretos, deixei de citar outro problema em relação a esse tipo de contratação: a demissão.
Não que seja fácil demitir alguém, principalmente quando admiramos a pessoa por inúmeras outras características, porém, por uma questão de performance ou mesmo da necessidade de se reestruturar os recursos, o desligamento muitas vezes se faz necessário.
Por mais compreensiva que a parte dispensada seja, é muito difícil que ela não sofra com a demissão, aliás, um sofrimento duplo, o causado pela perda do emprego e o da mágoa. Nessas horas é comum esquecer que se não fosse contratado também não seria desligado. Sentimento absolutamente normal, mesmo que ingrato num primeiro momento.
O caso concreto que ilustra esse texto vem do Los Angeles Lakers, cuja presidente e proprietária da equipe, Jeanie Buss, demitiu numa só tacada o gerente geral Mitch Kupchak e o vice-presidente de operações de basquete Jim Buss. O sobrenome em comum não é mera coincidência, Jim é irmão de Jeanie e coproprietário dos Los Angeles Lakers. Completa o enredo, o fato de a equipe vir com péssimos resultados desde a temporada 2013-14.
Uma decisão extremamente difícil, tanto que, segundo palavras da própria Jeanie, demorou muito tempo para ser tomada.
Claro que esse tipo de situação poderia ser evitada em sua origem, bastaria avaliar e ter coragem para preterir o parente, mas é preciso convir que se trata de uma tarefa absurdamente difícil, até porque sempre haverá a esperança de que as peças se encaixem.
Em empresas, mesmo que não tão frequentes – ou veladas - , podemos ver brigas entre parentes que podem até em último caso levar ao afastamento de irmãos. As consequências são péssimas, pois o clima ruim leva os executivos de mercado que lá atuam a serem avaliados em função das suas opiniões estarem coincidindo com algum dos lados, ou pior, de terem sido recrutados por uma dessas correntes. 
O desenrolar do processo também é fácil de prever, na falta de coragem para levar as brigas até as últimas consequências - no caso desligar os incompetentes, doa a quem doer – os executivos de mercado têm suas cabeças colocadas a prêmio como forma de armistício.
Os resultados operacionais das empresas com esse tipo de problema também não são difíceis de serem estimados, contudo, ainda que a crise sirva de cortina para esconder a fragilidade da gestão, é claro para o mercado o grau de afastamento dessas corporações em relação às melhores práticas de governança. 
É cedo para arriscar um palpite sobre o desempenho dos Los Angeles Lakers na próxima temporada, mesmo porque muitos outros fatores influenciam a performance, mas a coragem para afastar um irmão por não corresponder às expectativas é um excelente sinal de que a instituição está à frente de interesses pessoais.


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