terça-feira, 8 de agosto de 2017

O marketing e os profetas



A transferência do jogador Neymar para o Paris Saint Germain chamou a atenção até dos que não acompanham o esporte, tamanho o valor das cifras envolvidas. E como não podia deixar de ser, apareceram os especialistas fazendo previsões acerca do retorno financeiro para o clube.
Um dos argumentos mais utilizados se voltou às vendas de camisas. Não faltaram declarações categóricas afirmando que essa comercialização já seria suficiente para amortizar grande parte dos custos envolvidos.
Será que os autores dessas declarações têm acesso ao contrato da Nike com o PSG? Por acaso têm noção de qual percentual cabe ao clube na venda de cada peça? Sinceramente creio que não, mas nem essa simples falta de informações foi suficiente para inibir a verborragia a respeito.
Outra sustentação versou sobre os prováveis incrementos nos valores relativos aos patrocínios, o que faz sentido. Não custa, no entanto questionar o valor que estimam para esse incremento, lembrando que mesmo sem Neymar, o clube francês já faturava mais com patrocínio do que o próprio Barcelona, na época com o jogador brasileiro mais Messi e outros craques, segundo dados do relatório da Deloitte – Football Money League – referente à temporada 2015/2016.
Baseado nesse mesmo relatório é possível supor que haja espaço para um aumento das receitas referentes à bilheteria - onde o time parisiense detém o sétimo maior faturamento global - e aos direitos de transmissão, no qual é o décimo quarto. Entretanto, é importante esclarecer que a ida ao estádio não depende unicamente da presença de um ídolo, até porque se dependesse apenas desse fator o clube ficaria extremamente vulnerável, visto haver o risco de suspensões e contusões. Claro que a existência do ídolo é importantíssima para atrair torcedores, e mais, para criar a cultura de se ir ao estádio, o que pode passar para as gerações vindouras criando assim uma maior sustentabilidade para esse tipo de receita.
Quanto às receitas de broadcasting, convém esclarecer que grande parte das mesmas advém dos direitos do campeonato nacional, que precisaria ser mais atrativo do que os demais concorrentes – espanhol, alemão, inglês e italiano, por exemplo - para dessa forma ter uma valorização expressiva.
Não pretendo aqui estabelecer que as previsões realizadas, sejam essas positivas ou negativas, estão corretas ou não. Se assim fizesse estaria incorrendo no mesmo erro de opinar de forma supostamente técnica sem se ter os elementos necessários para isso.
O intuito desse artigo é chamar a atenção para o erro que se comete ao não encarar o marketing como algo científico, cujas previsões são necessárias, desde que embasadas por números, pesquisas, planos e modelos, ao invés de meros “achismos”.
Afinal de contas, como dizer se algo dá retorno sem saber o que se espera e em que tempo? Ressaltando que parte desse retorno é intangível.
Contudo, o que mais impressiona é ver o espaço que a mídia concede para palpites dessa natureza, o que nos remete às iniciativas similares de previsões sobre os acontecimentos do próximo ano ou mesmo às sessões de horóscopo.


5 comentários:

  1. Muito bom Idel, e como sempre a mídia entende de tudo.

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    1. Obrigado, Lula!
      Parte da mídia não entende, e pior, não tem discernimento para questionar certas "verdades absolutas".
      Abs

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  2. Ótima abordagem. Gostei do achismo, verdade que hoje está sendo um modismo. Palpiteiros de plantão em todos os setores; - política, economia, esportes, cultura e o que mais se pensar. Valeu.

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  3. Muito bom. Li alguns artigos desse caso buscando algo mais concreto e, como vc falou, baseiam-se em achismos. Eu não sabia desse poder todo do PSG, vou dar uma procurada nesse relatório da Delloite.
    Talvez um retorno esperado da marca seja uma maior internacionalização da marca PSG que já teve Ronaldinho Gaúcho e Ibra como seus craques. Ou buscar atingir um público mais jovem. Mas são achismos, que precisam ser aprofundados com estudos financeiros.
    Na verdade, acho que esses "profetas" estavam apenas buscando surfar a onda para aparecer um pouco.

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    1. Obrigado, Rodrigo!
      Mesmo que os objetivos buscados sejam os que você bem citou, seria importante que fossem quantificados os ganhos obtidos através desses públicos, a forma de obtê-los e o prazo.
      Quanto aos "profetas", seria melhor que surfassem demonstrando e disseminando conhecimento, mas...
      Abraço

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