terça-feira, 26 de dezembro de 2017

No esporte vs. Através do esporte

Confesso não ser um grande entusiasta da expressão “marketing esportivo”. Isso se deve à descaracterização que essa atividade vem sofrendo ao longo do tempo e faz com que o mercado seja povoado, em grande parte, por “especialistas” que apenas gostam de esporte, sem, contudo, terem o devido conhecimento do que efetivamente vem a ser marketing.
Além do que, tenho como crença que o marketing é uma atividade indispensável a qualquer ramo de atuação e, dessa forma, sua aplicação é inerente ao esporte. 
Todavia, aproveitarei um conceito utilizado por alguns especialistas do ramo para desenvolver o tema que dá título ao artigo. Trata-se da divisão do marketing esportivo em duas vertentes: o marketing no esporte e o marketing através do esporte.
Segundo eles, o primeiro acontece através da aplicação do marketing nos agentes cuja atuação está relacionada primordialmente à atividade esportiva.
São esses, os clubes, as confederações, os atletas e as empresas que têm em seu portfólio, produtos e serviços voltados ao segmento, como é o caso, por exemplo, de Adidas, Asics, Gatorade, além das agências e organizadores de eventos.
Já o marketing através do esporte contempla organizações e empresas que usam o esporte como plataforma de marketing. Partindo dessa vertente, chegamos ao cerne do artigo visto ser crescente o número de marcas, sem nenhuma relação prévia ou até sinergia com a atividade, que têm desfrutado da experiência de atuar no esporte.
E antes que venham creditar esse movimento à exposição proporcionada pela audiência dos grandes eventos, alerto que em muitos desses, a política de aparição da marca nas arenas e ginásios é bastante restritiva, vide como exemplo os Jogos Olímpicos e o torneio de tênis de Wimbledon. Assim, podemos inferir que o grande motivador dessas marcas para a “entrada” no esporte, seja a possibilidade de associar seu posicionamento e imagem à superação, amizade, respeito, excelência e tantos outros princípios nobres atrelados à atividade.
Independentemente das razões ou da forma que o esporte tenha ligação com o marketing é fundamental que se saiba "o que é" e "para o que" serve o marketing.


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Especulações de final de ano

Com o fim da temporada brasileira de futebol os noticiários se voltam às possíveis transferências de jogadores, muitas delas efeitos de especulações infundadas plantadas por empresários ou por jornalistas ávidos por audiência.
Um simples comentário sobre a qualidade de um jogador tem a capacidade de ser transformado em “interesse na contratação”, uma mera sondagem chega ao público como “negociações avançadas”. Tais distorções talvez até consigam satisfazer os objetivos comerciais de curto prazo dos veículos, porém, imputam expectativas que, além de frustrarem os torcedores, expõem os jogadores cujas transferências não são efetivadas.
Sobre a frustração do torcedor não há muito que falar, cabe a ele guardar na memória quais veículos merecem credibilidade e não mais acessar os sensacionalistas mentirosos, a menos que tenha vocação para gostar de ser enganado, tema que não cabe aqui abordar.
Já sobre os jogadores a discussão é bastante interessante por envolver conceitos de gestão.
Estabelecido que nem toda notícia sobre transferência é verdadeira, cabe relatar que o fato de recusar uma proposta não faz de nenhum jogador uma má pessoa, tampouco do clube preterido uma instituição desacreditada.
Todo profissional tem o direito de avaliar as propostas que lhe chegam e optar pela que lhe pareça melhor, no futebol isso fica mais evidente em função dos noticiários, mas no meio corporativo esse tipo de situação é também ou até mais comum.
Deve também ficar claro que cada ser humano tem sua própria escala de valores, a qual pode se transformar ao longo da vida. Em vista disso, julgar as decisões estando de fora se caracteriza numa indubitável prova de ignorância, afinal de contas, o fato de uma escolha ser diferente da que faríamos não significa que a outra seja pior, nem melhor...
Um profissional costuma considerar em sua escolha: a remuneração oferecida, o tempo do contrato, a estabilidade, as perspectivas de crescimento, a visibilidade, o ambiente/cultura,  a situação financeira da organização, a localização, a imagem passada e, no caso do futebol, o comportamento da torcida e as chances de se sagrar vitorioso. Reforço que o grau de importância dedicado a cada um desses pontos varia em função das características e anseios individuais.
E onde entra o marketing nessa história? No caso de um clube futebol, partindo da premissa que exista um perfil pré-definido em termos de faixa etária, personalidade e momento na carreira, caberia ao clube identificar quais atributos costumam ser mais valorizados pelos jogadores com tais perfis e ao marketing trabalhar para que a instituição seja percebida como ótima nos pontos cuja avaliação contenham algum grau de subjetividade.
No caso de empresas, existem até publicações que elaboram rankings sobre as melhores para se trabalhar. Esses rankings atualmente têm o poder de balizar a escolha de muitos profissionais, além de ajudarem na retenção de talentos.
É claro que existem expressivas diferenças entre o esporte e o mercado corporativo, mas penso que a busca pela adaptação das práticas que têm dado certo em outros setores deveria ser um objetivo a ser perseguido pelos gestores, independentemente do ramo em que atuam.


terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Há vagas!

O desenvolvimento da indústria do esporte nos coloca constantemente diante da questão: até que ponto a atratividade do espetáculo deve ou não prevalecer sobre o “que vença o melhor”? Em outras palavras, qual é a relação de equilíbrio ideal do binômio entretenimento / competição esportiva? 
Penso que o modelo norte-americano, no qual a competitividade é um dos atributos mais valorizados  vide a preocupação em regular e limitar os benefícios de eventuais supremacias econômicas – seja o que mais esteja perto do equilíbrio, ainda que não haja rebaixamento nem acesso às principais ligas.
Isso, no entanto, não significa que serão sempre as mesmas equipes que disputarão as competições, visto que, além da possibilidade de as franquias serem transferidas de cidades, é factível que equipes pleiteiem suas entradas nessas ligas.
Peguemos como exemplo a Major League Soccer(MLS), onde está ocorrendo atualmente um processo para se selecionar duas equipes que, a partir de 2018, estarão entre os times que disputam o mais importante campeonato de futebol do país.
A “disputa” que começou com doze times está agora restrita a quatro, porém, engana-se quem acha que o “processo eliminatório” esteja se dando através dos resultados obtidos dentro das quatro linhas. Não está!
Os critérios de escolha se baseiam nos recursos financeiros, na disponibilidade/funcionalidade dos estádios, no potencial de mercado das cidades e na base de torcedores.
É preciso mencionar também que desde 1996, quando apenas dez equipes dos EUA participavam do campeonato, a MLS vem realizando um processo de expansão bem planejado, no qual prioriza os aspectos ligados ao business, o que abrange, evidentemente, o equilíbrio da competição. Na atual temporada 22 times, sendo três do Canadá, disputam o título da liga, em 2018 serão 24, número que ainda não poderá ser considerado definitivo, pois a meta é chegar a 28.
As quatro cidades que estão na briga pelas duas vagas são: Nashville, cujo proprietário também é dono do Minnesota Vikings da NFL, Detroit, que tem o mesmo dono do Cleveland Cavaliers da NBA, Sacramento, que tem como responsável o proprietário do Sacramento Kings também da NBA e Cincinnati.
Cumpre destacar que tanto as prefeituras como os respectivos empresariados locais costumam contribuir para que esses projetos se viabilizem, afinal de contas trazem recursos para a cidade além de divulgá-las.
Difícil ler esse texto e resistir à tentação de não projetar essas condições para o Brasil, cientes, obviamente, de que o modelo jurídico dos times dos dois países são divergentes, assim como são as respectivas economias. 
Imaginem ter os clubes da série A do campeonato brasileiro selecionados por critérios não necessariamente técnicos. 
Teríamos por um lado um campeonato com maior potencial de receitas, mas também com sérios riscos de se causar uma situação de desemprego na indústria do futebol, já que sem a chance de acesso por critérios técnicos o número de clubes decresceria, até porque, a conjuntura econômica do país ainda não permite que existam muitas ligas rentáveis.
Além disso, os clubes brasileiros precisariam acreditar que a união fora dos gramados é imprescindível para o crescimento de todos...pensando bem, acho melhor resistir à tentação de projetar cenários.



terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O quarto poder


A expressão "quarto poder" foi cunhada tendo como base uma espécie de equiparação da imprensa aos três poderes do Estado: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, de forma que o poder da mídia servisse como um contraponto no que diz respeito ao zelo pela liberdade de expressão e defesa contra eventuais ações de censura.
O tema é vasto e possui vários desdobramentos e pensamentos em torno dele, porém, nesse texto a proposta é questionar até que ponto é legítimo abusar do “poder” da mídia para sobrepujar as decisões dos demais poderes constituídos.
Como instrumento para esse questionamento vamos utilizar um infográfico publicado na seção de esportes do jornal O Globo em 4 de dezembro de 2017, no qual foram listados todos os clubes campeões brasileiros de futebol e os anos de seus respectivos títulos.
Nesse material foi possível constatar que o título de 1987 aparece tendo dois campeões, valendo salientar que o STF já havia decidido em favor de um deles. Claro que a decisão do tribunal dá margem a concordâncias e discordâncias, mas esse não é o ponto que pretendo explorar, e sim o respeito que deveria haver pelo veredito.
Essa necessidade se faz ainda mais presente nesse momento em que a disseminação de informações através de redes sociais atinge proporções absurdas, sendo que muitas delas aparecem distorcidas, ou pior, são totalmente mentirosas. Tal cenário seria uma ótima oportunidade para consolidar o posicionamento dos veículos dito independentes como guardiões e propagadores da verdade, contribuindo assim para referendar sua credibilidade, além de prestar um serviço honesto a quem demanda por eles. 
Não questiono o direito de a imprensa opinar ou mesmo de relatar toda a sua contrariedade sobre alguma medida, aliás, penso que esse é um dos seus deveres, pois dessa forma proporciona à população a possibilidade de refletir sobre os temas, ao invés de simplesmente acatá-los como verdades absolutas. 
Pode até ser que para alguns, o fato de um veículo de comunicação estabelecer por conta própria quem foi o campeão há 30 anos pareça um mero detalhe. Respeito, apesar de eu achar que qualquer competição esportiva deva ser valorizada e respeitada. 
Entretanto, o ponto que mais preocupa é a constatação de que a própria credibilidade e uma decisão proferida pela maior instância judiciária do país possam ser ignoradas por questões estranhas ao que o próprio jornal prega em seus editoriais.
É claro que não podemos ficar cegos ao fato de que os meios de comunicação, muito diferentes do que eram no passado, fazem parte de conglomerados que buscam obstinadamente a rentabilidade de seus ativos, o que poderia indicar que uma linha editorial favorável à maioria da população viesse a facilitar o atingimento dos objetivos econômicos. Contudo, creio ser possível "agradar" essa maioria através de artigos e opiniões sem que haja a necessidade de se distorcer os fatos e ignorar decisões judiciais.