terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Debate sobre os atletas transgêneros

A Superliga de vôlei feminino 2017/18 apresentou uma novidade que pode fazer com que a modalidade assuma uma posição de protagonismo na história do esporte brasileiro. Refiro-me à inclusão da atleta Tiffany Abreu, que nasceu sob o gênero masculino, mas que através de tratamentos se transformou numa mulher e como tal disputa a competição. Apesar de o seu caso ser o mais comentado, vale citar que no vôlei de praia no Brasil há outra jogadora nas mesmas condições, assim como em outras modalidades ao redor do mundo.
Como era de se esperar, os debates sobre o tema vão se tornando cada vez mais frequentes e interessantes, pois envolvem estudos científicos, opiniões de esportistas e, de nossa parte, reflexões que envolvam os aspectos mercadológicos e operacionais.
Pelo lado dos que defendem a permanência da atleta no esporte de alto de rendimento, temos o endosso da medicina através dos critérios aceitos pelas entidades que regem o esporte.
Deve ser descartada também qualquer tipo de suspeição em relação à intenção de a jogadora ter feito a transformação com o intuito de auferir vantagem no esporte, afinal não parece ser razoável supor que alguém esteja disposto a sofrer os mais diversos tipos de discriminação, exposição e riscos para tão pouco.
Quero também dizer que, apesar do bom nível técnico da atleta, não vejo uma situação de desequilíbrio inconteste por sua presença nas quadras.
Todavia, ainda diante dos argumentos discorridos a favor da jogadora, tendo a ser contra a sua participação, o que se deve a uma única razão: o fato de a atleta ter chegado à estrutura e à altura que tem por ter nascido e crescido sob a influência de hormônios masculinos. Claro que existem mulheres até mais altas e mais fortes, essas, porém, chegaram à estrutura que têm de forma, digamos, natural.
O problema nesse caso é a possibilidade de no futuro haver toda uma preparação para o surgimento de atletas trans com tamanha vantagem em relação às mulheres, que essas venham a desaparecer das competições.
Ressalve-se aqui que tal raciocínio se aplica ao voleibol e demais modalidades nas quais uma estrutura maior auxilia no desempenho.
Como solução para o imbróglio foi ventilada a hipótese da adoção de cotas nos times, só não entendi se nesse caso a proposta contempla a extinção das competições segmentadas por gêneros ou se trata da simples inclusão de um número definido de pessoas nessa condição em uma equipe. De antemão acho bem complicada a operacionalização desse regime, além do que, pode abrir espaço para pleitos de inclusão através de cotas para outros tipos de minorias além das relacionadas ao gênero.
A possibilidade de inclusão de mais categorias segmentadas por gênero - não nos esqueçamos das pessoas que nasceram sob o gênero feminino e se transformaram em homens – pode até ser avaliada, mas não acredito que haja espaço, tampouco um número significativo de atletas nessas condições, para que no curto prazo sejam organizadas competições capazes de despertar o interesse do público, dos patrocinadores e da mídia, até porque está cada vez mais difícil atrair um grau razoável de atenção do público, em função de o mercado vir disponibilizando cada vez mais conteúdos - não apenas de cunho esportivo - enquanto o dia permanece com 24 horas.
Sei que pode parecer duro proibir alguém de atuar em esportes de alto rendimento pelo simples fato de ter buscado uma forma de se sentir feliz. Contudo, a abertura do precedente nesse caso deixaria o esporte  vulnerável a novos tipos de artifícios para se auferir vantagens, o que aumentaria o risco de descaracterizar essa atividade já tão infestada por subterfúgios relacionados ao doping e à corrupção.
Por fim cabem dois esclarecimentos: (i) independentemente de a minha opinião divergir do regulamento atual, defendo o cumprimento do mesmo enquanto estiver em vigor; (ii) minhas desculpas por eventuais erros de nomenclatura sobre gêneros, eles são frutos de minha ignorância.

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