terça-feira, 22 de maio de 2018

Confidencialidade vs. transparência

Considerada como um pilar da governança corporativa, a transparência, apesar de fundamental para uma organização, precisa ser bem entendida para que a busca por sua aplicação não ultrapasse os limites das ações de confidencialidade, as quais também são essenciais para se atingir bons resultados. 
Na verdade, o que preconizo nesse artigo é que exista uma política voltada à transparência da organização de forma que os stakeholders estejam bem informados, porém, com o devido cuidado para que o que venha a ser divulgado não  interfira nas vantagens competitivas que a confidencialidade muitas vezes proporciona. 
No presente texto elencaremos algumas situações que pretendem unicamente provocar a reflexão sobre o tema, pois, dependendo do ramo de atividade e/ou da conjuntura, o grau de transparência sobre uma mesma informação pode variar. 
Peguemos inicialmente um clube de futebol como exemplo, mais precisamente as informações sobre a folha salarial. Essas devem ou não serem detalhadas? Se por um lado é importante que patrocinadores, prospects, torcedores e demais atores que investem ou despendem recursos no clube saibam como a verba está sendo aplicada, por outro se corre o risco de inflacionar os salários ou mesmo de causar algum tipo de insatisfação e conflito entre os profissionais. 
No caso do fornecimento de material esportivo podemos aplicar o mesmo raciocínio, visto ser de bom grado que alguns stakeholders tenham ciência das condições contratuais, no entanto, é importante fazer uma avaliação dos riscos, pois eventuais vazamentos certamente prejudicarão futuras negociações.
Em empresas, o conflito confidencialidade vs. transparência é até mais frequente e chegam a colocar em campos opostos certas áreas da corporação, visto que para algumas, como "RI - relação com investidores",  a transparência proporciona vantagens enquanto que para outras como marketing e P&D - pesquisa & desenvolvimento pode ocorrer o inverso.
Aliás, a preocupação com a confidencialidade faz com que muitas corporações abriguem em seus organogramas departamentos voltados à inteligência e consequentemente à contra inteligência, os quais têm entre suas atribuições a blindagem das informações de cunho estratégico. 
Creio que no futuro próximo as organizações serão cada vez mais cobradas pela sociedade no que tange à transparência, seja através de consumidores que darão preferência às marcas mais associadas a essa prática, seja pelos investidores que as priorizarão  para alocar seus recursos. 
Há, entretanto, o risco de o mercado ficar de certa forma fechado a mudanças e a novos entrantes que teriam a inovação como diferencial competitivo, sendo que com a abertura que se vislumbra, qualquer nova prática poderá ser copiada em prazos menores dos que os praticados num mundo, digamos, menos transparente. Aqui não me refiro a patentes ou propriedades protegidas por leis, mas às práticas relacionadas à gestão.
Tais movimentos de ajustes são naturais e até obrigatórios na busca pelo equilíbrio, valendo salientar que o aprimoramento vem com o tempo e que existe um processo contínuo de adequações.


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