terça-feira, 14 de julho de 2020

Desleixo com a marca

Zelar pela imagem da instituição é dever de qualquer gestor, porém poucos se dão conta dessa responsabilidade. As causas de tão pouca dedicação podem estar ligadas à ignorância acerca da importância de uma marca forte, ou ao fato de não saberem como proteger esse ativo. 
Infelizmente, a maior incidência desses desleixos costuma acontecer nas organizações esportivas, cujas gestões tendem a ter um perfil mais centralizador do que no universo corporativo.
Essa diferença entre os setores fica bem evidente ao compararmos duas grandes tragédias que causaram enormes comoções: Brumadinho e Ninho do Urubu, ambas similares sob o prisma de serem inaceitáveis e imperdoáveis, porém, divergentes no que tange ao gerenciamento da crise.
Enquanto a Vale foi rápida nas proposições de acordo e buscou nas aparições afastar sua marca da tragédia, o clube carioca não teve o mesmo cuidado com as famílias das vítimas, tampouco com a marca, a ponto de as primeiras entrevistas serem realizadas nas próprias instalações e com dirigentes envergando o escudo da instituição na camisa.
Um colegiado composto por pessoas preparadas – e com voz - certamente tomaria decisões mais prudentes em um momento onde as emoções exercem uma pressão fortíssima sobre a razão.
Considero impossível calcular o valor da vida de um inocente, ainda mais quando se trata de crianças, por outro lado há que se entender a responsabilidade dos dirigentes em gerenciar as finanças do clube. 
É justamente aqui que reside o erro, pois, ao desconsiderarem o valor da marca como ativo de uma instituição, deixam aberta a possibilidade de sérios prejuízos futuros. Desprezar a indignação popular, inebriados pela paixão daqueles torcedores mais fanáticos que defendem mais o time do que os próprios princípios, se constitui num equívoco ainda mais grave. 
Agindo dessa forma, os dirigentes do clube em questão deixam evidente a pouca preocupação com a marca, ativo que, se bem conservado, apresenta uma perenidade maior do que qualquer outro.
A despreocupação com a imagem se fez ainda mais evidente ao forçar o reinício do campeonato carioca antes das demais competições regionais, e pior: sem a certeza de que o pico dos casos de covid-19 no estado tivesse sido atingido. Vale lembrar que os campeonatos italiano e inglês reiniciaram 83 e 78 dias respectivamente após o pico, e o espanhol em 71 dias.
Para culminar, esses mesmos dirigentes que articularam e defendem uma medida provisória que concede os direitos de transmissão aos mandantes dos jogos, tentaram que na final da Taça Rio tais direitos não fossem efetivados, já que o mando de campo pertencia ao adversário.
Seria leviano apontar a personalidade de tais dirigentes como causa dessa sucessão de desatinos, creio ser mais prudente, e talvez assertivo, relacioná-la à falta de visão de longo prazo, inclusive no que tange à força de uma marca.
As associações a valores ligados à sustentabilidade, onde o respeito à vida e ao bem estar se destacam, são alicerces que auxiliam as marcas, seja no que tange ao aumento no número de clientes/torcedores, seja na admiração por parte da sociedade, fatores fundamentais para se obter sucesso perene.






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