terça-feira, 26 de julho de 2011

Até quando?

Ao contrário das empresas, onde o cargo do mandatário não costuma obedecer a um prazo pré-estabelecido e os afastamentos se dão em função de aposentadoria ou de avaliações acerca do desempenho, os governos, clubes, federações e confederações têm estatutos que regem o tempo do mandato de seus titulares. 
Dessa forma, as discussões sobre o tema nunca se encerram e os questionamentos por parte de opositores são verdadeiras plataformas de campanha. 
Exemplos do que ocorrem em outros países tornam-se argumentos “incontestáveis” por parte de quem os utilizam, porém, réplicas com exemplos contrários deixam a discussão mais rica, acalorada, e, obviamente, inconclusiva. 
Na verdade, a utilização de exemplos nesses casos pouco agrega, pois existe uma série de variáveis envolvidas que, evidentemente, não podem ser reproduzidas em outras situações. 
Penso que estabelecer uma regra nesses casos é difícil e fatalmente será injusto, pois como foi citado anteriormente, as características de cada instituição são diferentes. 
Mesmo assim, elas devem existir e serem cumpridas. 

Vemos confederações e federações com mandatos que parecem vitalícios, as razões para isso são variadas e vão desde a vaidade do gestor até a falta de uma oposição competente, passando, infelizmente, por interesses escusos. 
Algumas dessas apresentam excelentes resultados, outras sofríveis, avaliar até que ponto isso ocorre em função do tempo de mandato é um exercício árduo e de conclusão duvidosa, mesmo assim, acredito que a avaliação de resultados deveria ser um dos fatores para reger a continuidade do mandato. 
A ideia seria que no início de um mandato, o presidente da federação estabeleça junto ao presidente da confederação algumas metas, as quais seriam cobradas antes das próximas eleições, caso um percentual significativo das mesmas fossem atingido, o atual mandatário teria o direito de concorrer, caso contrário, a reeleição não seria permitida. 
Para evitar eventuais “perseguições” ou “favorecimentos” uma comissão mista poderia ser criada para mediar esses casos. 
Numa esfera superior, o presidente da confederação estabeleceria as metas junto ao comitê olímpico. 
Claro que essa sugestão não tem a pretensão de ser perfeita, mas tentar de alguma forma que a meritocracia tenha algum tipo de influência na escolha dos gestores esportivos. 
Já no caso de clubes, sou favorável a prazos de mandatos e número de reeleições definidos em estatuto, porém nesse caso o mais importante é que se encontrem formas para que o mandatário seja responsabilizado legalmente por práticas que, de alguma forma, piorem a saúde financeira da instituição, e assim se evite as ações irresponsáveis motivadas pelo fato de que não estará mais lá na próxima gestão. Contudo, a grande vantagem da adoção de medidas que tenham como foco a meritocracia dos gestores de instituições, será a substituição daqueles que buscam cargos em função de vaidade, enriquecimento e demais interesses do gênero por indivíduos que queiram apenas o bom desempenho das instituições que estiverem à frente.


terça-feira, 19 de julho de 2011

Teto de vidro



A NBA (National Basketball Association) costuma ser apontada pelos especialistas como uma das melhores operações esportivas no que tange ao uso do marketing. 
As iniciativas para a geração de receitas são dignas dos maiores elogios, sejam essas no tocante aos direitos de transmissão, nas vendas de ingressos, nas ações de licenciamento ou na internacionalização da marca. 
É fato que a resistência à exposição de marcas no uniforme ainda existe, mas nada que possa arranhar o belo trabalho dos profissionais de marketing envolvidos nessa liga. 
Entretanto mesmo com as espetaculares receitas obtidas, as equipes estão atravessando uma crise tão severa que as fizeram anunciar um "lockout", uma recusa das entidades patronais a disponibilizarem os meios de trabalho aos trabalhadores, o que ameaça a realização da temporada 2011-2012. 
Segundo dados da Forbes, os prejuízos vêm se sucedendo pelo menos desde a temporada 2005-2006, onde 19 equipes totalizaram um prejuízo de cerca de US$ 220 milhões. 
Esse montante alcançou US$ 285 milhões em 2006-2007, US$ 330 milhões em 2007-2008, US$ 370 milhões em 2008-2009, US$ 340 milhões em 2009-2010 e US$ 300 milhões na última temporada, na qual 23 equipes tiveram resultados operacionais negativos. 
As franquias alegam e demonstram que o grande responsável por essa situação é o elevado salário dos jogadores, sobre os quais gostariam de instituir um teto. 
A situação está tão crítica que os jogadores estão proibidos de treinarem nas dependências de suas equipes, o que fatalmente acarretará em prejuízos técnicos.  
Dirigentes das equipes estão proibidos de se encontrarem com jogadores, o que pode levar Michael Jordan, ex-jogador e atual proprietário do Charlotte Bobcats a ser multado caso participe de um torneio promocional de golfe, que contará com a presença de alguns jogadores em atividade da NBA. 

Na verdade, a negociação entre equipes e jogadores envolve mais pontos, porém o conceito básico é o teto salarial, sobre o qual vale a reflexão e até um exercício sobre tal prática no futebol. 

Teoricamente, trata-se de uma medida até certo ponto interessante num cenário em que essas cifras atinjam valores exorbitantes.
Entretanto, na prática, existem dúvidas operacionais que fragilizam tal decisão, entre as quais destaco: 
  • Qual seria o parâmetro desse teto? Seria com base nas equipes com maiores capacidades de investimento ou nas de menores. Não resta dúvida que se for dentro da realidade das equipes de menores investimentos haverá um êxodo dos principais jogadores.
  • Seria possível evitar o êxodo? Alguns jogadores da NBA já negociaram suas transferências para equipes europeias. Eventuais medidas que reprimam essa possibilidade vão contra o direito constitucional de ir e vir do cidadão. 
  • Como evitar alguns artifícios que possam burlar a determinação? No Brasil, jogadores recebem parte do seu salário através do direito de imagem, o que o teto contemplaria?

Realmente as dificuldades são enormes e pelo visto, aqui no Brasil tal tipo de iniciativa teria grandes chances de dar errado.

Vale acrescentar que o texto não preconiza limites salariais para quem quer que seja, entretanto toda remuneração deve ter como princípio básico a lucratividade da operação, sob o risco das instituições simplesmente acabarem.
O que fazer para manter bons jogadores e sem abrir mão da saúde financeira é o maior desafio dos gestores dos clubes brasileiros. 
Desafio esse, que em minha opinião passa primordialmente pela união honesta e leal dos clubes no que diz respeito às negociações dos direitos de transmissão, licenciamento e, sobretudo, ética na contratação de jogadores e técnicos. 
É inadmissível que os clubes insistam em contratar profissionais que usualmente criam problemas nas equipes que defendem. 
Se esses jogadores passassem a ter dificuldade em encontrar novas equipes,  certamente repensariam suas condutas. 
Porém, os clubes preferem se esquecer do passado e, mesmo sabendo que se enganam, acreditam que ali será diferente.

Em suma, a NBA não é só exemplo nas iniciativas de marketing, mas também na conscientização de seus gestores, que sabem que para uma competição sadia e rentável é necessária a união. 


terça-feira, 12 de julho de 2011

Com licença


Muito se fala na questão de licenciamento, principalmente quando se trata de clubes de futebol, porém, pouco se procura saber sobre as particularidades inseridas nesse processo.
Os clubes e proprietários das marcas, obviamente, desejam auferir o máximo de receitas através da cessão do direito de sua utilização, enquanto que as empresas interessadas na associação de seus produtos às marcas visam sempre uma maior lucratividade, e assim procuram enxugar seus custos, o que consequentemente implica numa negociação bem complicada no que tange à remuneração e royalties. 
Existem nesse processo inúmeras variáveis envolvidas, as quais serão detalhadas a seguir: 
A negociação do percentual de royalties a ser pago pela cessão de uma marca é um ponto de extrema importância, mas que só tem eficácia se o licenciado for organizado e, sobretudo correto. 
De nada adianta ter uma taxa de royalties alta, se as informações sobre as vendas forem incorretas ou se ocorre algum tipo de sonegação. 
Para minimizar os efeitos dessas eventuais falhas é importante que seja negociado uma garantia mínima de recebimento, de forma a preservar um nível razoável de receita, além dos royalties. 
Outro erro comum cometido pelos clubes é o de não exigir um alto padrão de qualidade nesses produtos, isso se aplica não só à durabilidade e eficácia do produto como também à parte estética do mesmo. 
A exigência de uma distribuição abrangente também deve fazer parte da negociação, devendo constar no contrato cláusulas que garantam não apenas o fornecimento das informações de vendas por clientes, mas também uma quantidade mínima e discriminada de pontos de vendas que receberão os produtos. 
É também de suma importância o conhecimento sobre o preço que será praticado – incluindo impostos e taxas - tanto da venda ao varejista quanto ao consumidor final, de forma que seja possível ao menos estimar como o produto será posicionado no mercado. 
Não é de forma nenhuma aceitável que o produto tenha um preço muito baixo, pois não é interessante ter a marca de um clube associada a produtos de baixo valor. 
Por outro lado, um preço muito elevado para um produto sem um apelo considerável, pode incentivar práticas de informalidade e pirataria. 
Cobrar do licenciado um plano de divulgação dos produtos também faz parte do processo, visto que o clube por si só já cede a marca, então nada mais justo que o responsável pelo produto dedique uma verba para fins de comunicação, seja na exposição do produto ou em algum tipo de publicidade. 
Por fim, outro ponto a ser incluído na negociação diz respeito ao tipo de intervenção que o licenciado pode executar em relação à pirataria, porém nesse caso, é mandatório que o clube esteja disposto a levar adiante e chegar às últimas consequências para coibir essa prática. 
Em resumo, a administração do licenciamento por parte dos clubes deve ser semelhante à de um gerente de produtos, que deverá exigir produtos voltados ao público-alvo que consome a marca do clube, com qualidade compatível e correta, distribuição adequada, precificação justa, divulgação eficaz e controle das vendas, produção e margem através de relatórios gerenciais.


terça-feira, 5 de julho de 2011

Tristeza não tem fim

Recentemente, o River Plate, clube que mais conquistou títulos nacionais na Argentina foi rebaixado para a 2ª divisão, as cenas exibidas não deixam dúvidas quanto ao grau de tristeza e desespero sofridos pelos torcedores e jogadores. 
Tais reações foram, naquele momento, impactadas pelo sentimento de humilhação e gozações que certamente advirão dos torcedores rivais, no entanto, em termos de marketing os prejuízos também serão significativos. 
A receita referente à transmissão dos seus jogos deverá diminuir consideravelmente, estima-se que os novos valores ficarão entre 10 e 30% do que recebia na 1ª divisão. 
Pode ser que os honorários referentes ao contrato com o fornecedor de material esportivo também sejam menores, visto que alguns desses contemplam essa possibilidade em caso de rebaixamento. 
Muito provavelmente a arrecadação dos jogos também deve ser menor, principalmente em função da menor capacidade dos estádios onde irá atuar nas partidas fora de casa. 
Outro ponto que suscita bastante preocupação diz respeito à taxa de crescimento da torcida, que costuma ser diretamente influenciada pelos bons resultados e pelas conquistas de títulos importantes. 

Em relação a esse ponto, é importante elucidar o mito de que o número de torcedores cresce no período de adversidade. 
Essa confusão advém do fato das torcidas ficarem geralmente mais fanáticas nessa situação, talvez numa forma de demonstrarem seu amor a uma instituição fragilizada, esses torcedores se tornam mais presentes. 
Entretanto, pesquisas comprovam que na faixa etária relativa a crianças, o percentual de torcedores de times nas divisões secundárias é menor do que nas faixas etárias superiores. 
O que fatalmente trará reflexos mais tarde, pois é justamente entre 6 e 10 anos que se dá a escolha do time que se irá torcer. 

Em vista desses prejuízos, muitas pessoas questionam se o rebaixamento deveria efetivamente existir no esporte, o que parece absurdo, afinal, um dos princípios que enobrecem o esporte é justamente a isonomia que os participantes usufruem no início das competições. 
Entretanto, na medida em que o conceito de “negócios” começa a superar algumas vezes a nobreza do esporte, esse ponto pode passar a ser considerado, visto o que já ocorre em algumas ligas americanas como a NBA no basquete. 

O que é mais interessante para o esporte?
Ter as melhores equipes disputando uma competição, mesmo que essas não atraiam público para as arenas, não propiciem uma boa audiência televisiva e não gerem receitas com produtos licenciados, ou ter equipes tecnicamente mais fracas, mas que gerem negócios para o esporte? 
Por um lado, penso que todas as equipes deveriam ter o direito de almejarem disputar as principais competições, pois só assim conseguirão obter condições de melhorias econômicas. 
Contudo, não parece justo privar das competições equipes que além de possuírem grandes torcidas, incutem rivalidade e consequentemente atratividade aos confrontos. 

Não tenho uma opinião efetivamente formada sobre o assunto, bons argumentos não faltam para defender os dois modelos, entretanto, independentemente da forma a ser adotada é mandatório que a organização que reja a competição tenha sua conduta baseada no cumprimento do regulamento e que as devidas punições, sanções, deliberações e cumprimentos dos calendários não sejam influenciados por interesses escusos ou casuísmos.