terça-feira, 30 de março de 2021

É proibido demitir

A nova regra divulgada pela CBF sobre o campeonato brasileiro estabelece que na edição 2021 cada equipe só poderá fazer uma demissão de técnico, dessa forma, um eventual substituto do primeiro só poderá perder o emprego caso o clube efetive na função algum funcionário que já faça parte da comissão técnica do clube.
Por outro lado, um técnico poderá pedir demissão apenas uma vez.
Embora entenda que medidas intervencionistas tragam embutidas em grande parte das vezes um atestado da incapacidade de as organizações gerirem seus negócios de forma justa e responsável, tendo a achar a nova regra interessante para a melhoria da gestão dos clubes.
Os principais argumentos para essa percepção são:
  • Processo de recrutamento mais acurado, onde técnicas já consagradas no universo corporativo podem vir a ser adequadas às necessidades do futebol.

  • Ainda no contexto dos recursos humanos, a possibilidade de uma eventual “segunda substituição” por algum membro da comissão técnica, abre a oportunidade de se rever a estrutura organizacional dos clubes, propiciando, quem sabe, um redesenho no escopo de cargos, salários e desenvolvimento de carreira.
  • Menor impacto nos custos dos clubes, visto que não é raro encontrar times pagando salários correntes para diversos técnicos – o atual e os demitidos. Incluem-se aqui os passivos trabalhistas dos que só conseguirão receber na justiça após, provavelmente, o período da gestão de quem os contratou, deixando assim a "bomba" para os próximos gestores. Esse cenário, de alguma forma, atua como uma espécie de "fair play financeiro".
  • Diminui a possibilidade de os gestores terceirizarem a culpa, a qual atualmente acaba recaindo na maioria das vezes para o técnico que, ao ter sua demissão decretada, diminui a pressão sobre a diretoria e joga uma cortina de fumaça sobre as demais causas.
Já para os técnicos que têm contratos, a situação também melhora, pois a provável maior estabilidade proporcionará mais tempo para a avaliação do trabalho, o qual é produto do tempo disponibilizado para se implantar um padrão de jogo.
O fato de terem limitado também o número de pedidos de demissão por parte dos técnicos, deve fazer com que eles avaliem mais criteriosamente os movimentos de sua carreira e passem a ponderar que mudanças de emprego envolvem, além dos pacotes de remuneração, as perspectivas de crescimento, as condições de trabalho, o potencial para a obtenção de resultados, o ambiente profissional, a cultura da organização e até a localização, caso vislumbrem se mudar com a família.
Os que iniciam o campeonato desempregados têm a oportunidade de se aprimorarem durante o tempo “sem clube”, procurarem colocação em séries menores ou ainda buscarem cargos diferentes nas comissões técnicas, o que, além de propiciar experiência, os deixam como candidatos a “futuras vagas”.
Os conceitos citados acima, raros nos clubes, são bastante comuns no mundo corporativo, onde não há nenhum tipo de limitações externas às contratações, o que, na verdade, é o que se espera de uma governança capacitada.











terça-feira, 23 de março de 2021

Red Bull no Walmart ou Walmart na Red Bull

 
As notícias envolvendo patrocínios chegam a ser rotineiras para aqueles mais atentos ao mercado de forma geral, sendo que, talvez, a maior curiosidade acerca destas transações esteja relacionada aos valores envolvidos, os quais muitas vezes não são revelados de forma clara e oficial.
Há, no entanto, um ótimo exercício a ser feito para os que atuam neste mercado e/ou que são estudiosos de marketing: refletir sobre os benefícios, oportunidades e ameaças que possam estar envolvidos nas parcerias. 
Nesse contexto, o anúncio do patrocínio do Walmart à equipe Red Bull de Fórmula 1, nos brinda com um interessante tema para reflexão, principalmente por se tratar de algo inédito.
Os valores do contrato não foram revelados, mas sabe-se que a rede varejista terá sua marca exposta nos carros e comercializará o energético em seu site. Estrategicamente falando, a Red Bull passa a ter maior penetração no mercado americano, face à liderança do Walmart, enquanto a rede varejista ganha maior representatividade no mercado mexicano, visto a escuderia ter um piloto dessa nacionalidade na equipe.
Analisemos agora pelo lado da operação "indústria & varejo", valendo ressaltar que estamos falando em tese, pois não conhecemos a abrangência do contrato, tampouco a relação da equipe de automobilismo com a gestão comercial e de marketing da marca de energético. 
Como já foi comentado, a Red Bull ao estreitar o relacionamento com o Walmart passa a usufruir de algumas vantagens, as quais, quem sabe, podem vir a propiciar condições comerciais melhores, tanto em termos de preço como de exposição. Por outro lado, não pode ser descartada a hipótese de sofrer algum tipo de problema nas redes varejistas concorrentes ao Walmart. Trata-se realmente de uma situação que dá margem a muitas divagações em função do ineditismo, mesmo porque não há muitos casos de marcas proprietárias de times e de equipes.
Reforçamos que o uso do termo “ineditismo” se deve ao inusitado da relação, já que as parcerias entre indústria e varejo costumam ocorrer com relativa frequência no que tange ao patrocínio, porém através de um modelo de negócio diferente, ou seja, o varejista adquire as propriedades de patrocínio, mas parte deste valor é bancada pela indústria.
Mas qual seria o interesse da indústria neste tipo de operação, já que é provável que sua marca não apareça em nenhuma das propriedades do patrocinado? As vantagens, digamos, diretas, se dão através de vendas maiores da indústria envolvida para este varejista, participação nos encartes promocionais e demais benefícios usuais no setor. Já as indiretas se baseiam na crença de que a iniciativa do investimento em patrocínio por parte do varejista trará um aumento do tráfego de clientes, maior consumo destes e, consequentemente, nas da indústria. 
É importante que se diga que este dinheiro destinado à operação costuma fazer parte de uma verba que a indústria contempla em seu orçamento voltada às ações com os principais varejistas, ou seja, o valor investido faz parte de algum tipo de realocação.
Como o valor do contrato não foi revelado, creio ser difícil ter os números das vendas do energético ou mesmo da categoria no Walmart, o que não nos permitirá avaliar o retorno da operação, nos restando assim, acompanhar o desempenho dos carros nas competições de automobilismo.







terça-feira, 16 de março de 2021

O papel do ídolo

Iniciaremos o artigo com uma pergunta que certamente dá margem para poucas respostas, mas inúmeras justificativas: cabe ao ídolo se posicionar em relação às causas comportamentais?
Os que responderem sim, evocarão, entre outros argumentos, o poder que o ídolo tem como influenciador, não obstante, essa influência possa pender para lados errados, se é que existem os certos para quaisquer ocasiões.
Já os partidários do “não”, além de temerem ver o ídolo como personagem de um cenário recheado de polarizações extremistas e, como tal, carente de racionalidade, receiam que o desempenho como atleta venha a ser prejudicado, seja por uma eventual perda de foco ou por pressões advindas das polêmicas.
A discussão em relação aos aspectos relacionados aos patrocínios também mereceria alguns parágrafos, porém, como já foram explorados em outros artigos aqui do blog, pulamos para um caso recém-ocorrido no Brasil.
Vale, antes de tudo, contextualizar que o país vive uma grave crise em função da pandemia. Além dos problemas  econômicos e políticos, os quais acabam sendo atrelados a todos os temas, há também os da saúde, explicitados através do enorme número de mortes, da baixa taxa de vacinação e do colapso do sistema. Para a reversão deste tenebroso quadro várias medidas vão sendo adotadas tendo como motes: o isolamento social nos mais diversos graus e a utilização de máscaras.
Diante desse triste panorama, algumas celebridades fazem e/ou são utilizadas em campanhas preconizando cuidados e encampando a causa, exercendo dessa forma o digno papel de um ídolo. Contudo, nem todos praticam o que preconizam, vide o ocorrido com o jogador Gabigol, flagrado pela polícia em um cassino – atividade ilegal no Brasil – em um horário no qual os estabelecimentos deveriam estar fechados e sem nenhum cuidado com o isolamento social.
Embora seja um debate interessante, não usaremos o presente espaço para falar sobre os direitos de se frequentar livremente os lugares que se bem entender, até porque, este tipo de discussão deveria ter como premissa básica o acesso aos locais que fossem legalizados, não cabendo nenhum tipo de concessão neste caso.
Assim, voltando ao papel do ídolo, temos a certeza absoluta de que falar algo e agir diferente do discurso afasta de quem o faz qualquer possibilidade de ser idolatrado. Afinal, como confiar no endosso de produtos, serviços e causas feitos por quem não tem palavra?
O caso atinge ainda maior comoção por ter acontecido numa época em que as pessoas estão perdendo familiares e amigos. Todavia, promover um linchamento moral do citado jogador é algo que nada acrescenta de positivo à batalha que estamos enfrentando, sendo suficiente a conscientização de que o mesmo não reúne a característica mais primária para se tornar um ídolo: ser um bom exemplo. 
No mais, resta torcermos para que a população entenda que o respeito à vida deve estar acima de qualquer outra coisa.









terça-feira, 9 de março de 2021

Faturamento dos clubes 2019-2020

Pelo terceiro ano consecutivo, a Jambo Sport Business publicou o estudo referente aos clubes que mais receitas auferiram na temporada 2019-20 - leiam em https://www.linkedin.com/posts/halfen_os-clubes-de-futebol-que-mais-faturam-2006-activity-6773652889224171520-cnk3 -, no trabalho também é possível encontrar um comparativo de tais números com os das temporadas que datam desde 2006-07, sendo a base para o estudo o relatório “Football Money League” elaborado pela Deloitte.
O objetivo do trabalho foi entender o comportamento das receitas dos clubes que mais faturam no mundo ao longo destas quatorze temporadas, analisando não só o total de recebimentos, mas também como estes se distribuem de acordo com suas fontes: matchday (bilheteria), broadcasting (direitos de transmissão) e commercial (patrocínios + licenciamentos).
Ressaltamos que as receitas com vendas dos direitos econômicos dos jogadores não estão incluídas por não serem recorrentes.
Como aconteceu na maioria dos setores da sociedade, a pandemia impactou fortemente as receitas dos dez clubes que mais faturaram, resultando numa queda de 11,12%.
As receitas de matchday, após duas temporadas com faturamento acima de € 1 bilhão, tiveram uma queda de 18,1%, o que deixa esta linha em um patamar similar ao da temporada de 2011-12, atingindo o percentual de participação mais baixo até hoje: 14,96%, queda que vem ocorrendo desde 2006-07. Todavia, diante do cenário de proibição de público nos estádios, a diminuição foi relativamente branda.
Outra receita que decresceu foi a advinda do broadcasting (menos 21,3% em relação à temporada anterior), o que corresponde a 35,05% de share em relação ao total, um decréscimo de 4,8 p.p.. Tal fato pode ser creditado ao período em que os jogos foram suspensos, o que redundou também em negociações com as TV’s relativas ao fluxo de caixa.
Já no caso de commercial - que no início de nossa série correspondia a 29,9% - , atingiu em 2019-20 a participação de 50,0% e a variação em relação à temporada anterior teve um irrisório aumento de 0,3%, fruto principalmente dos “novos” contratos fechados antes da pandemia.
Quando analisamos os clubes que mais faturaram, conforme quadro ao lado, temos o Barcelona se mantendo na liderança conquistada na temporada passada, embora dessa vez com uma diferença muito pequena em relação ao 2º colocado, o Real Madrid - apenas € 200 mil -, aliás, a menor já vista dentre as quatorze edições.
Valendo salientar que o clube catalão não teve no período um desempenho esportivo tão bom, ao contrário, perdeu o campeonato espanhol para o rival e na Champions League foi eliminado nas quartas de final. Contudo, a queda no faturamento está diretamente ligada à pandemia, que impactou negativamente todas as suas receitas.
Ainda que a temporada em foco não possa ser considerada “normal”, o fato de não ter havido alteração entre os clubes que compõem os TOP10 é um indício de que gestões sólidas são fundamentais para a sobrevivência em tempos ruins.




terça-feira, 2 de março de 2021

Personas, Disruptivo, Dor...

O título deste artigo certamente dá margem a inúmeras interpretações, sendo possível, quem sabe, segmentá-las através de várias “personas”. Dentre estas estariam aquelas que acreditam estar diante de um texto “disruptivo”, ou as que vão decifrá-lo como a descrição de uma “dor” representada de forma irônica pelo autor. 
Embora não exista verdade absoluta em gestão, neste caso quem optou pela última interpretação acertou em cheio, razão pela qual não serão descritas as demais possibilidades de interpretação.
O texto, na realidade, pretende chamar a atenção para os modismos de alguns termos, que passam a ser incorporados em “discursos” corporativos, muitos dos quais sem sentido, empregados de forma errada e, pior, com uma frequência irritante.
As causas para tal fenômeno podem estar ligadas à falta de profundidade ou mesmo ao desconhecimento das componentes básicas acerca do tema, o que faz com que a tentativa de dominá-lo se dê de forma superficial, seja através de um curso relâmpago, de um texto “caçado” no google ou de uma palestra de algum novo “guru” alçado a esta condição pelas redes sociais.
Formas válidas, afinal a busca por conhecimento é louvável e contribui para a melhoria da sociedade como um todo. O problema é a má utilização dos termos por mero modismo e sua frequência, o que deixa quem as profere “bem visto” pelos ignorantes e visto como ignorantes pelos que dominam o assunto.
Guardadas as devidas proporções, ficam parecendo aquela pessoa que ao aprender em inglês a preposição “between” (entre), passa a utilizá-la como verbo. A comparação com o aprendizado do idioma, aliás, se aplica perfeitamente, visto a fluência advir do exercício, assim como acontece em gestão. 
A propósito, a maioria, se não totalidade, das expressões que ficam na moda não são novas, apenas não eram tão usadas. O que também ocorria no passado com outras palavras em função das mesmas causas – excetuando os gurus alçados pelas redes sociais. 
Essa menção ao histórico embasa a tese do “modismo”, o qual é fundamental para diversas indústrias, vide as coleções que movem o setor têxtil e os lançamentos de novos modelos de veículos, por exemplo. Todavia, não creio que para se destacar profissionalmente seja necessário acrescentar expressões ao vocabulário, o que não significa que a busca por conhecimento deva ficar restrita ao que foi aprendido nos bancos das escolas.
Ao contrário, o artigo pretende preconizar o contínuo aprendizado, porém que este seja obtido de forma sólida, não através do “fast learning” (quem sabe esta expressão não vira moda?), e que o vocabulário seja uma resultante do que foi aprendido, assimilado e interpretado, ao invés de ser uma mera repetição recheada com palavras da moda.