Inicialmente, vale esclarecer que esse artigo não tem a pretensão de discutir os efeitos do doping sobre a saúde dos atletas ou mesmo os aspectos éticos envolvidos na questão, porém, motivado pela recente punição preventiva ao tricampeão do Tour de France, Alberto Contador, imposta pela federação espanhola de ciclismo, resolvi abordar o assunto com o intuito de suscitar a discussão sobre a influência do doping sobre o marketing esportivo.
Contudo, a razão da preocupação com o doping parece estar mais ligada ao receio da perda de patrocinadores do que propriamente ao zelo pela boa imagem do esporte.
Alguns desses gestores tentam ao máximo evitar que esse triste tema seja associado a sua modalidade, o que é perfeitamente aceitável, porém a forma para que tal associação não ocorra deve vir através da prevenção, ou seja, ocultar notícias e não aplicar testes são posturas totalmente dispensáveis.
Em busca de algumas respostas, o International Journal of Sports Marketing & Sponsorship publicou uma pesquisa na qual a grande maioria dos entrevistados não relaciona nenhuma espécie de cumplicidade dos patrocinadores e meios de comunicação com os esportes e eventos que tenham casos de doping, sendo veementemente contra a proposta dos veículos deixarem de transmitir competições como o Tour de France, onde a incidência de acusações e casos a esse respeito é significativa.
Nessa mesma pesquisa, os entrevistados citaram ciclismo, atletismo e boxe como os esportes em que mais desconfiavam da existência de doping.
Outro resultado interessante indicou que 80% dos entrevistados acham que o patrocinador deve retirar seu apoio aos atletas e eventos que incorram nesse erro, enquanto 58% apoiam a ideia de que atletas e confederações devolvam o valor recebido dos patrocinadores, quando flagrados e expostos por situação de doping.
Entretanto, apesar de todos os indícios que apontam o doping como um “ofensor”, foi apurado também que os mais jovens e os fãs de esportes são mais tolerantes a ele do que os mais idosos e dos que pouco acompanham o esporte.
Por ter se tratado de uma pesquisa quantitativa não houve a possibilidade de se explorar as causas dessa diferença entre grupos demográficos, talvez o anseio por competições mais fortes ou mesmo a crença – ou descrença – de que seja impossível ter competições de alto nível sem doping tenham levado a esses resultados, o que não deixa de ser temerário, pois pode indicar uma tendência de se considerar normal tal tipo de conduta.
Ainda na pesquisa foi constatado que os entrevistados não têm a tendência de reduzirem o consumo de produtos/serviços de empresas que patrocinem atletas flagrados com doping.
Como podemos ver, segundo a pesquisa, os patrocinadores não precisam temer eventuais casos de atletas dopados sob o ponto de vista de desgaste de imagem ou mesmo mercadológico, entretanto, seria extremamente importante para o esporte em sua essência, que as empresas colocassem cláusulas punitivas severíssimas em relação ao doping nos contratos de patrocínio.
De fato, se de um lado parece não haver relação de contaminação da imagem de patrocinadores pelos casos de doping, a face perversa recai novamente na questão ética e de saúde.
ResponderExcluirPreocupa o fato da pesquisa indicar que os jovens e os fãs de esporte são mais tolerantes, pois pode indicar alguma tendência ao pensamento de que "o que vale é o resultado".
O resultado a qualquer custo, saúde aqui incluída, pode levar a consequencias pouco previsíveis, e algumas delas podem ser bem prejudiciais.
Este é um tema a observar, pois nos próximos anos o esporte estará em evidência no Brasil.
Fala Nelson
ResponderExcluirVc tem razão, até porque a luta contra o doping é uma tarefa árdua, na qual as formas de detecção só existem após o descobrimento dos métodos de dopagem.
Abs
Idel,
ResponderExcluirTenho a impressão que os "engajados" ainda que formem opiniões e estejam á frente das discussões, são uma parcela muito pequena.
Desta forma, quem está "por dentro" para ficar indignado, e especialmente, ficar PERMANENTEMENTE indignado, é quase irrelevante.
O "populacho" que não acompanha as competições com afinco, mas que tem qualquer ligação, acaba mais sucetível aos "escândalos" comportamentais como a infidelidade de Tiger Woods e outros, que no frigir dos ovos nada tem a ver com o esporte.
Victor
ResponderExcluirSua observação faz sentido, mas não sei até que ponto quantos engajados ficariam tão revoltados assim.
Abs