terça-feira, 26 de julho de 2022

Discutindo pesquisas

O passar dos tempos faz com que sejamos mais seletivos, o que inclui até as escolhas dos debates. Por mais que tenhamos argumentos irrefutáveis sobre certos assuntos, muitas vezes, dependendo do interlocutor, é melhor se calar. 
Nessas horas, devemos ter como mantra a frase: “mais burro é o sujeito que tenta ensinar um cavalo a falar inglês do que o cavalo que não aprende”.
Dentre os assuntos que não vale a discussão estão as pesquisas no Brasil, aqui destacam-se as eleitorais e, mais recentemente, as sobre os tamanhos das torcidas dos times de futebol.
As eleitorais costumam ser taxadas de “fraudadas” se o resultado apontar o candidato adversário à frente e "corretas" quando o inverso ocorre. Ainda que as metodologias possam ser questionadas, condenar peremptoriamente resultados cristalizados em forma de tendências deixam evidente o quanto a paixão e/ou o fanatismo afetam a capacidade cognitiva das pessoas.
Já as contendas acerca do tamanho das torcidas são ainda piores, pois, ao contrário das eleições, onde quem tiver mais votos vencerá o pleito, o fato de se ter mais torcedores não implica em conquista de títulos, tampouco em garantia de vitórias frequentes.
Aqueles que torcem para os times ditos com maiores torcidas poderão argumentar que a quantidade de torcedores está correlacionada ao aumento de receitas advindas de bilheteria, de direitos de transmissão e de "marketing". 
De fato, uma maior quantidade de torcedores engajados – engajamento não costuma ser mensurado nas pesquisas – proporciona um potencial maior de receitas, todavia, isso dependerá do preço dos ingresso, do poder aquisitivo dos torcedores, da capacidade dos estádios onde ocorrerem suas partidas e da experiência que o espetáculo proporciona.
Quanto aos direitos de transmissão, temos que considerar que está havendo uma mudança nos critérios de divisão, de forma que o tamanho da torcida passa a ter menos peso na distribuição – o que talvez seja reflexo da maior consciência acerca da difícil mensuração.
Já no que tange ao "marketing", a argumentação parte da premissa de que os clubes de futebol não comercializam patrocínio e sim espaço publicitário, pois acenam como retorno o número de  aparições espontâneas do uniforme para “venderem” aquela propriedade. Agindo assim, ignoram que estão entrando em um mercado disputado por grandes players especializados na comercialização de mídia e que um clube de futebol tem em sua marca valores riquíssimos que, certamente, são atrativos e valiosos para as marcas que poderiam o patrocinar. 
As receitas obtidas através das vendas de produtos licenciados têm peso pequeno nas contas dos clubes, visto que, além de dependerem da oferta – qualidade, quantidade, sortimento, preço e distribuição –, proporcionam margem pequena.
Então quer dizer que o tamanho de torcida não importa? Resistindo à tentação de fazer analogia à anatomia, acho mais prudente responder que favorece, mas não é garantia de performance, pois, é fato de que não existe a tal correlação perfeita entre torcida e receitas.
Convém esclarecer que, embora essas últimas reflexões tenham como base as pesquisas publicadas sobre tamanho de torcida, isso  não significa admitir que as mesmas traduzam perfeitamente o universo de fãs, visto que, como já foi escrito anteriormente, seria necessário segmentar a amostra em critérios qualitativos de engajamento, afinal há uma diferença muito grande entre ser torcedor e ser simpatizante. 
Todavia, ainda que ocorram falhas de metodologia e, talvez, até de definição amostral, são números a serem considerados e analisados, desde que, é claro, sejam repetidos numa frequência na qual se consiga identificar tendências ou mesmo concluir que não oferecem nenhuma credibilidade. Sim, a frequência é fundamental para evitar situações em que se constata, pasmem, que certos times, grosso modo falando, perderam cerca de 600 mil torcedores em quatro anos, um verdadeiro genocídio.









terça-feira, 19 de julho de 2022

Adidas sem adidas


O ano de 2022 será considerado um marco para a história da adidas. Dessa vez o acontecimento não estará relacionado aos produtos por ela desenvolvidos, nem aos resultados dos atletas/equipes que a vestem,  mas sim à alteração em sua logo, pois, mesmo a marca tendo sido atualizada ao longo do tempo desde 1949, essa será a primeira vez em que o nome não aparecerá em sua representação. 
Embora as logos que trazem apenas símbolos transmitam uma conexão mais pessoal e uma identidade mais moderna, as marcas para chegarem nesse ponto precisam estar muito seguras quanto ao seu reconhecimento sem a escrita.
Ao compararmos a adidas com sua principal concorrente, a Nike, vemos que a empresa alemã levou 73 anos para abdicar do texto, enquanto a norte-americana abandonou o nome em 1995, lembrando que a empresa foi fundada em 1964, mas só em 1971 adotou o soosh – símbolo que a caracteriza.
Fora do segmento de produtos esportivos, há outros casos que ilustram o movimento destacado.
A Mastercard, fundada em 1966, só abdicou do nome na logo meio século depois, enquanto a Starbucks, cuja primeira loja foi inaugurada em 1971, tirou o nome apenas em 2011, nesse caso houve também a influência da incorporação de novos produtos diferentes do café ao cardápio. 
O Mc Donald’s, que passou a adotar o M como representação dos arcos dourados em 1960, aboliu o nome 35 anos depois.
Por ser uma decisão bastante complexa, o número de empresas que optam por essa, digamos, ousadia, ainda não é muito significativo.
Contudo, é preciso estar atento a dois fatos que vêm acelerando esse processo: (i) o mundo digital, onde até aplicativos requerem símbolos como meio de identificação; (ii) a  globalização, visto nem sempre a pronúncia de um nome ser igual em todos os países.
A propósito, empresas do setor de tecnologia, principalmente as mais novas, costumam ser mais ágeis nesse processo, vide o caso da Apple, por exemplo.
Além de uma suposta maior coragem, a maioria dessas marcas tem um grande orçamento, códigos gráficos e simbólicos bem solidificados e forte orientação ao marketing.
A observação acima serve, sobretudo, como alerta para as empresas que, ao invés de entenderem o processo de evolução de uma marca, usam alguns dos casos citados como benchmarking esquecendo, porém, que existem etapas a serem cumpridas. 
Quando se lida com marcas, a pressa tem importância pequena, sendo mais recomendável dedicar tempo a estudos e pesquisas junto a todos os elementos que fazem parte da jornada de consumo.
Outro ponto de atenção diz respeito ao segmento em que a empresa atua, pois, em alguns deles, como o de bens de consumo, a escolha do produto se dá na maioria das vezes no ponto de vendas e, nesse caso, o nome bem identificado da marca/produto é essencial, ainda que as cores da embalagem e a logo sejam sedutoras. Acrescente-se que o nome em destaque contribui para a sinergia entre os demais produtos da marca. Sob o prisma em questão, é recomendável  observar o que costumam fazer as empresas líderes para dimensionar, posicionar e escrever – sim, a fonte utilizada é fundamental – o nome de suas marcas, jamais esquecendo que uma embalagem simplesmente  bonita não é sinônimo de boas vendas.













terça-feira, 12 de julho de 2022

Fred Etern9


Despedidas são complicadas, emocionam, servem como um aviso formal de que um ciclo se encerrou e que não mais acontecerá. Escrever a respeito é mais difícil ainda, principalmente quando o personagem é o maior ídolo que vi no Fluminense.
Não há nessa escolha do melhor, que fique bem claro, nenhum menosprezo aos demais, até porque é uma mera opinião, baseada em valores identificados nas atitudes do craque. Em suma, um clube centenário como o Flu teve centenas de ídolos, todos enormes, mas nesse momento, para mim, o Don é o maior.
Passemos então às razões da escolha, ressaltando que outras, talvez, tenham sido esquecidas e/ou estejam apenas no subconsciente impossíveis de serem transcritas: 
- Nunca jogou por um rival regional do Fluminense, o que é extremamente valorizado, principalmente pelo fato de o futebol ser um ambiente onde o amor à camisa costuma perder para a necessidade de se fazer dinheiro numa carreira curta.
- Gratidão à instituição, sempre demonstrada ao reconhecer o apoio dado pelo clube após uma Copa do Mundo em que não jogou tão bem e foi tido como um dos vilões do fracasso. 
- Sua capacidade de recuperação, pois mesmo depois das injustiças sofridas conseguiu dar a volta por cima e nesse mesmo ano ser o artilheiro do campeonato brasileiro. Erguer-se depois da queda é tarefa que poucos conseguem.
- Ao sair do Fluminense em 2016, nunca escondeu que a transferência se dava contra a sua vontade. Aqui cabe um testemunho: uma vez o encontrei no aeroporto de Congonhas e começamos a conversar sobre sua saída, eu dizendo o quanto foi ruim e ele narrando o quanto sentia falta da “casa dele” com os olhos marejados.
- Sua generosidade com os mais necessitados e sem fazer publicidade dos inúmeros casos em que ajuda os que precisam.
- Sua opção por estar do lado do certo, independentemente se isso o deixaria contra os que têm o poder ou o dinheiro. Os exemplos aqui não serão narrados, pois haveria que citar nomes ou cargos, o que mancharia um artigo que tem como tônica o ídolo.
- As demonstrações de admiração dos seus colegas e torcida na sua despedida, denotando o quanto é querido e respeitado.
- Inúmeras expulsões e atitudes destemperadas em campo que, vistas pelo lado profissional, podem parecer ruins, mas que são facilmente entendíveis quando fazemos uma reflexão e nos questionamos acerca do que somos capazes de fazer para defender quem amamos.
Alto lá, essa última razão não vai contra o conceito de ídolo que sempre se preconizou?
De fato, no passado, a “descrição de cargo” de um ídolo tinha a “infalibilidade” como requisito, afinal de contas, o ídolo deve ser um exemplo. Todavia, a expectativa por não haver falhas leva à frustração quando essa acontece e arranha a imagem do ídolo, sendo mais razoável e contemporâneo entender que ídolos são seres humanos e não super-heróis, os quais não existem na vida real. 
Por fim, para que não se perca o objetivo de trazer conteúdo sobre marketing e gestão, podemos usar muitas das razões enumeradas acima como benchmarking de carreira, principalmente as manifestações positivas dos colegas e reconhecimento das pessoas ao fim dos ciclos. 








terça-feira, 5 de julho de 2022

Assédios imorais

A notícia sobre o afastamento do, até então presidente da Caixa, banco público brasileiro, por supostamente ter cometido assédios moral e sexual traz à tona um tema que deve suscitar o máximo de atenção de todas as organizações.
Como o próprio título esclarece ambos os assédios são imorais, covardes e denotam a incapacidade do assediador em conseguir seus objetivos através de argumentos convincentes.
Sobre o assédio moral, é preciso esclarecer que, por mais que um superior hierárquico seja focado em resultados, a forma de atingi-los não contempla em hipótese alguma a humilhação e demais demonstrações de desrespeito aos seus subordinados. Não se ignora aqui os eventuais momentos de explosão e conflitos inerentes a qualquer tipo de relação, o que não significa dizer que são certos, mas reconhecer que podem acontecer desde que não ocorram frequentemente e que haja pedidos de desculpas pelos excessos. Além do que, liderar através do medo e de agressões é a forma mais idiota para alcançar objetivos de forma sustentável. Ser enérgico não significa ser desrespeitoso.
Quanto ao assédio sexual, a coisa é ainda mais repugnante por beirar às raias de um estupro, visto estar se forçando uma situação de cunho sexual sem o consentimento da outra parte.
Antes que surja a discussão em torno do falso moralismo da sociedade, é necessário esclarecer que o teor condenatório do artigo não se estende aos eventuais envolvimentos que venham a ocorrer no ambiente de trabalho, caso esses sejam consentidos e não firam as normas de compliance das empresas. 
Contudo, tão condenável quanto os assédios é a tentativa de politizá-los, o que em nada contribui para a sua erradicação.
A pessoa que comete esse tipo de atitude não o faz em função de sua ideologia e/ou partido, ela faz por ser desprovida de caráter, de educação, de moral e de competência entre outras carências. 
Por outro lado, quem a defende seja por qual motivação for, mostra o quão semelhante é com o assediador, visto ser inaceitável, sequer, tolerar esse tipo de atitude.
Será que esses que minimizam o ocorrido o relevariam se o mesmo fosse cometido contra suas mães, filhas ou mulheres?
Difícil responder, talvez condenassem e quisessem até agredir o autor, se esse fosse de uma ideologia oposta. Não causaria espanto, no entanto, se minimizassem o ocorrido se o assediador comungasse dos mesmos discursos políticos. Isso se chama fanatismo, visto estarem tomando posição em função de pessoas e não de atitudes, abrindo mão do direito de estudar, pesquisar, refletir e formar suas opiniões sem preconceitos.
Por mais que fatos passados não sejam garantia para se estabelecer uma avaliação definitiva sobre alguém, afinal existe a possibilidade de evolução e regeneração, esses podem trazer indicadores valiosos para o processo de contratação e retenção de colaboradores, principalmente em cargos com maior representatividade, cujos ocupantes acabam sendo associados à “cara” da empresa, a qual, se for séria, optará por ter em seus quadros pessoas com princípios e valores inquestionáveis.