terça-feira, 26 de junho de 2018

O que vestem as seleções na Copa


Repetindo o que já foi feito nas Copas de 2010 e 2014, analisaremos aqui as marcas esportivas que suprem as seleções que disputam o Mundial de 2018, utilizando para efeito de parametrização o histórico de fornecimento desde a Copa de 2002. 
Assim temos que em 2018 a Adidas com doze seleções é pela 3ª vez a marca mais presente. 

Em segundo aparece a Nike com dez, lembrando que na Copa passada a marca norte-americana ficou na liderança com o mesmo número de equipes. Cumpre observar que a Nike é o único fornecedor presente em equipes dos cinco continentes. 
A Puma completa a relação de marcas reconhecidamente globais com apenas quatro times, metade do que tinha em 2014, valendo salientar que em 2006 foi o fornecedor com mais seleções. 
As mudanças em relação ao número de equipes por marca costumam ocorrer basicamente em função da classificação dos países, o que não significa que não ocorram trocas de fornecedores. 
Vinte seleções estiveram presentes tanto em 2014 como em 2018, dentre essas quatro (25%) mudaram a marca dos uniformes: 
Bélgica de Burrda para Adidas, Costa Rica de Lotto para New Balance, Iran de Uhlsport para Adidas (foi a 3ª marca diferente em 3 Copas, pois em 2006 vestia Puma) e Nigéria que após duas Copas com Adidas voltou a usar Nike, que tinha sido a sua fornecedora em 2002. 
Desde 2002 apenas nove seleções participaram de todas as Copas, das quais  sete não trocaram de fornecedor: Alemanha, Argentina, Espanha e Japão (Adidas) e Brasil, Coreia do Sul e Portugal (Nike). 
Essa estabilidade de fornecimento advém da maior atratividade que essas seleções despertam, o que faz com que as marcas envidem os maiores esforços para manterem essas equipes em seus portfólios, afinal de contas estar presente no maior evento do futebol mundial é um enorme diferencial. 
Evidentemente, há um custo maior envolvido nessa operação, o que talvez não retorne em vendas, mas certamente fortalece a marca. 
Tal condição faz com que as marcas com menor capacidade de investimento tenham que seguir estratégias alternativas para estarem presentes nesse universo, o que pode acontecer através de “apostas” em seleções menos tradicionais, no fornecimento de chuteiras para jogadores que participam do evento ou ainda como fez a italiana Macron que fechou um acordo com a UEFA (Union of European Football Associations) para vestir as seleções menores, pois dessa forma consegue ao menos ter visibilidade na Euro (campeonato europeu de futebol). 
Para quem tiver interesse no tema, sugiro a leitura dos dois artigos desse blog referentes às Copas anteriores: 2010 - A Copa das marcas esportivas - http://halfen-mktsport.blogspot.com/2010/07/copa-das-marcas-esportivas.html e 2014 - Material Esportivo na Copa - http://halfen-mktsport.blogspot.com/2014/07/material-esportivo-na-copa.html.




terça-feira, 19 de junho de 2018

A palavra tem poder? Deveria ter

O Congresso da FIFA que decidiu a escolha da sede da Copa do Mundo de 2026 deixou o Brasil em uma situação bastante constrangedora. Isso porque o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, após ter se comprometido a votar na candidatura "EUA/Canadá/México" e tendo inclusive assinado um documento referendando essa posição, resolveu na hora "mudar de ideia" e apoiar a candidatura de Marrocos, a qual perdeu a eleição. 
Evidentemente que é um direito de cada um fazer suas escolhas, concordemos ou não com elas, porém, mudar o que foi acordado é, no meu modo de ver, uma atitude deplorável, mesmo porque sempre há a possibilidade de não se comprometer previamente. 
Por ser contra linchamentos, inclusive virtuais, não focarei meus argumentos na pessoa, e sim no ato que, infelizmente, se faz presente a todo o momento do nosso cotidiano, muitas vezes em situações aparentemente simples como cumprimento de prazos e horários, onde a parte infratora provavelmente infere que seu tempo é mais valioso do que os dos demais e assim pouco se importa se a outra parte terá algum compromisso depois ou se cancelou algo para estar pontualmente cumprindo o que foi combinado. 
Ah, mas um atraso não é tão grave assim. Pode ser que não seja, mas conceitualmente é o mesmo processo, pois se combinou algo previamente que não foi cumprido. 
Tenho claro em minha visão que a palavra é o ativo mais importante que se possui, visto ser perene e depender da própria pessoa para que seja mantido, ao contrário, por exemplo, da saúde e do patrimônio. 
Daí ser difícil entender a razão que leva as pessoas a abrirem mão desse ativo como se nenhuma importância tivesse. Pensando bem, a razão para não se cumprir a palavra parece estar ligada à priorização dos interesses particulares de curto prazo. 
Pascácios! Caso dessem tanto importância aos benefícios para si saberiam que o mundo gira e que o egoísmo e a ingratidão não são esquecidos. Assim como não é esquecido aquele que não honra a própria palavra. 
No caso da votação para a sede da Copa, a situação ficou mais grave em função de três fatores: 
  • Maior repercussão, já que a mídia divulgou massivamente. 
  • Jogou o nome do país num terreno lamacento que pode se refletir em vários outros setores da sociedade. É importante haver a consciência de que ao se representar uma empresa ou qualquer tipo de instituição, as falhas deixam de ter caráter individual. 
  • Ter ocorrido no meio esportivo que, em tese, deveria ser um ambiente responsável pela formação de cidadãos e pela consolidação de princípios e valores nobres.
Enfim, mais um péssimo exemplo advindo de um setor carente de credibilidade que, se antes precisava convencer aos potenciais investidores/patrocinadores que dava retorno, agora pode ter que garantir que cumpre acordos e contratos.



terça-feira, 12 de junho de 2018

Complicado!


A relação entre patrocinador e patrocinado costuma ser fonte de inspiração recorrente para os artigos desse blog, muitos dos quais evocam a falta de maturidade de alguma - ou ambas - das partes para mostrar o quanto esse mercado ainda pode e precisa evoluir. 
Por mais que tenhamos esperanças e torçamos para que o esporte se desenvolva em nosso país, e para que isso ocorra o patrocínio privado é um agente de fundamental importância, vemos com imensa tristeza que o caminho a ser percorrido é muito extenso e árduo. 
Esse quadro ficou ainda mais evidenciado no último fla x Flu, mais precisamente nas redes sociais, onde um "curso" de pré-vestibular online, que até então patrocinava as duas equipes, resolveu publicar posts passionais em favor de uma das equipes. 
Tal atitude, além de provocar a revolta dos torcedores que tiveram seu time preterido, denotou uma enorme falta de inteligência por parte de quem fez ou autorizou fazer os posts. 
Se o curso tinha preferência por algum dos patrocinados deveria ter canalizado seu investimento para um só clube e não para os dois, a menos que acredite na falácia de que o benefício do patrocínio se resuma a uma mera exposição da marca. 
Tão triste quanto o malefício que fizeram ao esporte ao disseminar mensagens que insuflam os piores sentimentos dos torcedores, é saber que a citada empresa atua no ramo de educação. Que exemplo! 
Como escrevi acima, a verba dos patrocinadores é importantíssima para os clubes, porém, independentemente dessa necessidade, não compensa ter uma marca dessa estirpe exposta junto aos símbolos do clube, ou melhor, daqueles clubes que entendam que imagem e marca são ativos valiosíssimos. 
Uma eventual justificativa de que são neófitos no esporte não convence, pois bastaria buscarem experiências passadas de empresas que patrocinavam rivais para aprender como se comportar. Caixa e Guaraviton no Brasil, por exemplo, sempre se mostraram respeitosos às instituições e suas torcidas, o mesmo aconteceu com a Portugal Telecom que chegou a patrocinar os três maiores times de Portugal. E olhem que nenhuma dessas estava ligada ao setor de educação, que considero o mais importante, pois através dele que os cidadãos são formados. 
Um episódio como esse é bastante desolador, pois nos mostra o quão atrasados estamos no tocante ao marketing e, pior, que o setor da educação, estratégico para o desenvolvimento do país, tem como um de seus agentes uma empresa que parece não valorizar a paz, a harmonia e o respeito às instituições. 
Complicado!




terça-feira, 5 de junho de 2018

Gestão não combina com emoção

A recente greve de caminhoneiros no Brasil trouxe fatos que nos ajudam a ter uma boa noção do desafio de se gerir algo onde os fatores emocionais da participação popular estejam fortemente presentes. Refiro-me mais precisamente à Petrobras, que viveu dias similares aos dos clubes de futebol, no que tange ao aparecimento de milhares de "catedráticos" com a solução perfeita para os problemas, sem terem, contudo, um nível razoável de conhecimento.
Nesse caso, a pressão culminou no pedido de demissão do CEO da empresa, um dos mais capacitados executivos do país e almejado por grandes conglomerados. 
Comentaremos a seguir algumas situações vistas no movimento grevista e que guardam forte similaridade com o que se vê nos clubes. 
Um delas diz respeito à beligerância entre os que apoiavam e os que eram contra a greve, sendo que a maioria dos envolvidos no embate se posicionava sem o menor conhecimento de como o preço dos combustíveis é formado, tampouco das consequências que sua redução trará na matriz econômica do país. 
Circunstância semelhante à dos torcedores que pouco se importam se os compromissos financeiros assumidos pelo clube serão honrados e quais serão as consequências da inadimplência, querem é combustível barato, ou melhor, querem um time. 
Pleitos justos, desde que compatíveis com a conjuntura econômica.
É verdade também que as pessoas não têm a obrigação e muitas vezes a oportunidade de ter um conhecimento detalhado dos respectivos cenários, no entanto, deveriam ponderar que tomar algum partido, ainda mais de forma enérgica, sem o devido embasamento, os deixam reduzidos a massa de manobra. E mais grave: vão se informado e se influenciando através das redes sociais e de amigos até formarem exércitos de fanáticos defensores da causa que encamparam. 
No caso da Petrobras, vimos muitos dos defensores dos caminhoneiros tentando correlacionar o preço do combustível com a corrupção que se alastra no nosso país, desconhecendo certamente que os cinco países que são considerados os menos corruptos do mundo pela Transparency International têm o preço do combustível ao consumidor mais caro do que o praticado no Brasil. Pois é... 
Existem vários fatores que impactam a formação do preço do combustível, entre os quais estão a nossa dependência externa e os altos impostos que, infelizmente, não se transformam em benefícios para a população. 
Todavia, os protestos não se importaram com as causas e sim com os efeitos dela. Pleitearam – e conseguiram – a diminuição dos impostos sobre o óleo diesel, ignorando que as receitas necessárias para fechar as contas do governo precisarão vir de outro lugar, ou seja, os impostos passarão a incidir mais fortemente sobre alguns produtos e serviços. 
Isso sem falar que a pressão exercida sobre a estatal poderá implicar em medidas que façam a empresa perder competitividade, ter seus indicadores rebaixados e o valor de mercado diminuído. 
Torcerá o governo para que os próximos impactados sejam mais pacatos e com um menor poder de engajamento, caso contrário a ciranda não parará. Analogamente, muitos clubes decidem ceder à pressão e deixar a conta para o futuro, até o dia em que talvez o futuro não mais exista.