O Nubank, quinto maior banco do Brasil, anunciou recentemente que a cantora Anitta irá fazer parte do seu Conselho de Administração, fato que rendeu algumas críticas, porém as mesmas tiveram um cunho muito mais político em função das frequentes declarações da cantora contra o presidente da república do que por aspectos que avaliem sua capacidade e experiência em relação ao escopo do cargo.
Quanto à carreira de sucesso da artista não há o que discutir, nem mesmo seus detratores podem atacá-la sob esse flanco. Creditar seus resultados à equipe ou até à sorte, nada arranha o mérito, afinal de contas, formar equipe não é algo simples e ter sorte é sempre importante.
Também não creio que caibam críticas ao fato de o setor de entretenimento ser diferente do financeiro, pois bons profissionais têm forte capacidade de adaptação, propiciando inclusive a possibilidade de adequar experiências de um setor a outros.
Todos estes predicados, no entanto, não excluem a possibilidade de se questionar alguns pontos, entre os quais podemos enumerar:
(i) a falta de experiência da cantora como executiva em empresas de médio/grande porte, as quais certamente têm suas gestões baseadas em processos, ou seja, não basta ter ideias, é preciso entender como transformá-las em soluções cumprindo os trâmites de governança.
(ii) a conclusão de que Anitta possui conhecimento em estratégia de marketing denota desconhecimento sobre o que vem a ser estratégia, pois, ainda que o processo abrigue uma parcela de intuição, é imprescindível a utilização de dados, informações, métodos e detalhadas análises para ser bem elaborada. Fora isso, por mais que seja desejável a heterogeneidade no conselho, espera-se, sobretudo, que o integrante possua formação multidisciplinar, isto é, que tenha razoável conhecimento acerca de outras áreas da administração.
A estratégia do Nubank de atingir a população “desbancarizada” focando jovens e pessoas das classes D e E parece coerente para se destacar no mercado, nesse contexto, a ajuda da “nova conselheira” tem muito a agregar, embora essa contribuição pudesse vir através de uma consultoria, o que nos leva a inferir que o “convite” trata-se mais de uma ação de posicionamento do banco do que propriamente do aproveitamento dos “aconselhamentos” da Anitta que, como já foi dito, poderia vir sem a necessidade de assento no conselho, aliás, ela exerce - ou exerceu - o cargo de head de inovação para a Skol Beats da Ambev.
Além do que, para se atingir os objetivos que estamos depreendendo, haveria a necessidade de uma divulgação massiva de sua contratação, sendo que o público tido como alvo talvez nem tenha ciência das funções e responsabilidades de um conselho de administração.
Na verdade, há outro público que pode ser afetado com a contratação da Anitta, o de potenciais acionistas, já que o Nubank tem planos para fazer brevemente seu IPO (Initial public offering).
Pois bem, independentemente da capacidade e história de sucesso da artista, tendo a achar que a iniciativa vai contra o que se espera de um conselho, todavia, por ser algo relativamente inédito, o mais prudente é aguardar para, se possível for, avaliar se esse tipo de ação pode ser replicado em função dos resultados obtidos e não por modismos.