Incumbido de elaborar um concurso entre equipes de vendas, concluí que independentemente do critério que viesse a ser adotado, alguém seria beneficiado. Essa foi uma das primeiras lições que aprendi na vida profissional.
Tal reflexão me veio novamente à lembrança em função da negociação dos direitos de transmissão dos jogos do campeonato brasileiro.
Nessa, os clubes estão segmentados em grupos (G1, G2 e G3), sendo que os que ficarem no chamado G2 receberão 18% a menos dos que os do G1 e os do G3, 31 % a menos.
Nessa, os clubes estão segmentados em grupos (G1, G2 e G3), sendo que os que ficarem no chamado G2 receberão 18% a menos dos que os do G1 e os do G3, 31 % a menos.
Em meio à polêmica, alguns alegam que esse tipo de divisão pode fazer com que os clubes do G1, por terem uma capacidade maior de investimento, tenham mais chances de vencer o campeonato, outros discordam, pois defendem a tese de que não basta ter dinheiro, mas sim, uma gestão eficaz.
Para auxiliar o processo de formação de opinião, listarei abaixo os critérios adotados em outras ligas/países.
Espanha – A negociação não é coletiva, Real Madrid e Barcelona recebem bem mais do que Atlético de Madrid e Valencia, que por sua vez recebem quantias superiores aos demais clubes.
Esse formato tem gerado protestos das demais equipes, que defendem um modelo no qual 40% do montante seja dividido igualmente entre todas as equipes e 60% rateado em função de audiência de TV e classificação no campeonato.
Tal solicitação vem embasada no fato de que Real Madrid e Barcelona conquistaram 65% dos títulos de campeão espanhol, sendo que nos últimos 10 anos, esse percentual subiu para 80% e nos últimos 5 anos para 100%.
Itália – Até a temporada 2009/2010, a negociação era feita individualmente e facultava a possibilidade dos clubes negociarem com emissoras distintas. No caso de jogos entre essas equipes, a transmissão era feita pela que tinha contrato com a equipe mandante.
A partir da temporada 2010/2011, o governo interveio e a negociação passou a ser coletiva com a seguinte distribuição: 40% dividido entre todas as equipes, 30% conforme a classificação do ano anterior e 30% em função do tamanho da torcida (média de público).
Desde a temporada 2005/2006, a Internazionale tem sido campeã da Serie A.
Inglaterra – A negociação é coletiva, 50% da receita é dividida igualmente entre as equipes, 25% em função da classificação no ano anterior e 25% com base na audiência.
Mesmo com esse critério, digamos, mais "democrático", desde a temporada 2004/2005, o título da Premier League - campeonato inglês da 1ª divisão - foi conquistado apenas por Chelsea e Manchester United, três vezes cada.
Mesmo com esse critério, digamos, mais "democrático", desde a temporada 2004/2005, o título da Premier League - campeonato inglês da 1ª divisão - foi conquistado apenas por Chelsea e Manchester United, três vezes cada.
França – A negociação é coletiva, 50% é rateado entre os clubes, 30% baseado na classificação do ano anterior e 20% em função da audiência.
Alemanha – Os clubes também negociam coletivamente, 50% é dividido entre todos e o restante é baseado na classificação do ano anterior e no tamanho da torcida.
NFL - National Football League (EUA) – Os direitos são divididos igualmente entre todas as equipes, o que sem dúvida prioriza a competitividade, tanto que as últimas edições do Superbowl foram vencidas por 5 equipes diferentes.
NBA - National Basketball Association (EUA) – Os direitos de TV são divididos igualmente entre todas as equipes, entretanto vale mencionar que é cobrada uma taxa das equipes que ultrapassam o limite da folha salarial estabelecido pela NBA.
Esse montante excedido é depositado num fundo e dividido entre as equipes que têm a folha dentro do limite.
Outra curiosidade a respeito da NBA diz respeito ao licenciamento, pois independente das receitas individuais de cada equipe, o resultado apurado é rateado igualmente entre todos os times.
Porém, mesmo com essa divisão mais "socialista", o Los Angeles Lakers conquistou 4 campeonatos na década passada enquanto que o San Antonio Spurs venceu 3, o que denota uma considerável concentração.
Esse montante excedido é depositado num fundo e dividido entre as equipes que têm a folha dentro do limite.
Outra curiosidade a respeito da NBA diz respeito ao licenciamento, pois independente das receitas individuais de cada equipe, o resultado apurado é rateado igualmente entre todos os times.
Porém, mesmo com essa divisão mais "socialista", o Los Angeles Lakers conquistou 4 campeonatos na década passada enquanto que o San Antonio Spurs venceu 3, o que denota uma considerável concentração.
Como podemos ver, existem variados critérios, cada um com uma justificativa coerente, entretanto, os resultados apurados nas diferentes competições não permitem uma conclusão definitiva a respeito da forma mais justa de rateio.
Também não podemos esquecer que esse tipo receita não é a única fonte de arrecadação de um clube, visto que ingressos, licenciamentos e patrocínios são linhas importantes de faturamento.
Sob esse prisma, uma boa gestão de marketing é fundamental, pois permite:
- a criação de pacotes e promoções que incrementem a venda de ingressos;
- o licenciamento de bons produtos, assim como sua correta precificação e distribuição;
- posicionar mercadologicamente o clube, e com isso se tornar mais atrativo para patrocinadores com foco em soluções sinérgicas.
De qualquer forma, mesmo preconizando o marketing como ferramenta indispensável para uma gestão eficaz, considero primordial que um percentual considerável das receitas referentes aos direitos de transmissão seja dividido igualitariamente entre todas as equipes.