Os leitores mais assíduos já devem ter percebido que o blog nunca teve artigos que colocassem o MMA como foco, porém dessa vez será aberta uma exceção para refletirmos sobre o suposto doping do lutador Anderson Silva, um tema que tem tomado bastante espaço na imprensa.
Trata-se da possibilidade do lutador disputar as classificatórias brasileiras de tae-kwon-do em busca de uma vaga na seleção olímpica da modalidade.
Uma intenção, sem dúvida, inquestionável, porém não sei até que ponto dentro da legalidade.
Levanto esse ponto, pois penso que, caso ele efetivamente tenha usado substâncias ilícitas em dada modalidade esportiva e punido pelo ato, essa punição deveria se estender para as demais.
Sei que é uma medida que num primeiro momento pode parecer muito severa e antipática, mas não podemos deixar que o uso do doping seja minimizado por questões relacionadas a patriotismo ou coisas do gênero.
O doping deve ser sempre combatido da forma mais rígida possível, sob o risco do esporte perder sua identidade e se afastar dos princípios nobres que o norteiam.
Imaginem um atleta que dispute mais de uma modalidade olímpica e que tenha sido pego numa delas. Isso lhe daria o direito de competir na outra?
Penso que não!
E antes que achem que ser atleta olímpico de mais de uma modalidade é uma situação hipotética, esclareço que, apesar de rara, é uma situação real, entre as quais valem ser citados:
- O australiano Peter Macken que competiu no pentatlo moderno nas edições de 1960, 1964, 1968, 1972 e 1976, sendo que em 1968 também representou seu país na esgrima.
- Outro caso interessante é o da americana Sheila Taormina, que nos Jogos de 1996 integrou a equipe de natação de seu país, nos de 2000 e 2004 disputou as provas de triathlon e em 2008 foi atleta de pentatlo moderno.
- No Brasil, João Gonçalves Filho representou o Brasil na natação em 1952 e 1956, enquanto que em 1960, 1964 e 1968 foi da equipe de polo aquático.
Eventuais argumentos de que o MMA não é uma modalidade olímpica ou que o controle de dopagem é feito por uma comissão não signatária da WADA (Agência Mundial de Antidoping) não se sustentam no meu modo de ver, a menos que não almeje se tornar um esporte olímpico, ou mais, que não se trata de um esporte
Aí talvez haja negociação, mas não creio que tal classificação seja benéfica para a modalidade.
No entanto, se for muito mais adiante nesse “projeto”, estará dando um tiro no próprio pé ao permitir que associem a modalidade com permissividade ao doping.
Quanto ao lutador, creio que a associação ao Olimpismo seja uma estratégia inteligente, pois assim consegue capitalizar um pouco dos valores olímpicos - Amizade, Excelência e Respeito - num momento em que sua imagem está arranhada.
Não quero afirmar com isso, que os movimentos do lutador e da Confederação tenham sido planejados, mas se forem, espero que encontrem uma boa solução para o final do processo, ou seja, que nem a Confederação nem os princípios olímpicos sejam maculados.