terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Um futuro sempre melhor

Se por um lado o fato de publicar um artigo no último dia do ano prejudica a audiência, por outro é uma ótima oportunidade para se passar uma mensagem com desejos de um futuro melhor, embora tanto o texto como o conceito sejam atemporais.
Melhorar não significa estar insatisfeito com a situação presente, mas sim estar em busca de uma evolução permanente, o que tem também como causa o dinamismo da sociedade.
Cumpre ainda registrar que tais melhorias não devem ser direcionadas somente às situações em que os “resultados não estejam a contento”, se assim fosse se geraria um comodismo que, talvez, nos deixasse com a percepção de que existe limite para o progresso.
Para ilustrar o racional desta mensagem utilizaremos uma notícia recentemente divulgada, a qual dá conta que a NBA estuda fazer algumas alterações no seu formato de competição.
Mas como assim? O que mais pode querer a liga que mais cresceu nos últimos anos? Uma liga que em 2009 faturava US$ 3,7 bilhões e dez anos depois soma US$ 8,01 bilhões de receitas.
Tal sucesso deve ser creditado à boa gestão, principalmente no tocante ao marketing, que, além de privilegiar o equilíbrio entre as equipes e dessa forma aumenta a atratividade da competição, transforma seus ativos em produtos altamente demandados e os distribui para toda parte do mundo - atualmente mais de 50 países recebem a transmissão dos seus jogos.
Pois bem, é justamente em função desta visão obsessiva pelo mercado que a NBA está sempre em busca do crescimento.
Entre as mudanças que estão sendo estudadas/cogitadas para a próxima temporada, quando a liga completará 75 anos de existência, estão:
- a criação de um torneio no meio da temporada, no caso em novembro e dezembro que, guardadas as proporções, poderia ser comparado às copas nacionais de futebol. Nessa competição haveria uma fase classificatória mais uma final com as oito melhores franquias que se enfrentariam em jogos únicos eliminatórios. 
O receio aqui é que as franquias resolvam poupar jogadores para preservá-los, o que diminuiria a atratividade do torneio. Para combater esse problema, a NBA pretende oferecer US$ 1 milhão por jogador da equipe campeã. 
- a elaboração de um desenho de campeonato que minimize os riscos de uma final sem a presença das melhores equipes, explico: hoje os playoffs acontecem dentro de cada uma das conferências, sendo a final disputada entre o campeão da leste contra o da oeste.
A mudança que se cogita faria com que a partir da semifinal, isto é, depois da 2a rodada dos playoffs,  os confrontos sejam definidos em função da classificação na temporada regular, ou seja, passa a ser possível ter uma final com times da mesma conferência.
Certamente a efetivação destas e das demais ideias se baseará em estudos e pesquisas, assim como deveria ser qualquer decisão em termos de gestão, mas a mensagem que fica é que o futuro sempre pode ser melhor independentemente de como esteja o presente.

Feliz 2020!






terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Por que parou?


O post dessa semana terá muito provavelmente um número baixo de leitores, fato que credito ao período de festas natalinas, o qual faz com que as rotinas e os ritmos se alterem.
Mesmo ciente dessa característica, optei em publicá-lo por duas razões: (i) manter o dia em que os artigos são publicados e, dessa forma, cumprir o acordo tácito com os leitores que se acostumaram com essa rotina; (ii) discutir sobre a "quebra de ritmo" que toma conta de vários setores da economia.
Não se questiona aqui o direito de as pessoas terem seus momentos de folga e relaxamento, tais ocasiões servem inclusive para renovar as energias e descansar. O ponto que se traz para a reflexão diz respeito ao período que isso envolve. Explico: mesmo os feriados sendo oficialmente nos dias 25 e 1o de janeiro, os demais dias que se avizinham já contemplam um clima de desaceleração que, no meu modo de ver, não deveria existir. Ok,dias 24 e 31 são "quase feriados", tudo bem, e os demais?
E a máxima que preconiza que no Brasil o ano começa na primeira 2a feira após o carnaval? Nem na 5af após a 4af de cinzas vale para dar início.
A alegação de que as férias escolares influenciam a marcação de férias dos pais faz algum sentido, pois essa linha de raciocínio indica que menos colaboradores estarão nas corporações. Entretanto, assim como se provisionam verbas para férias e demissões, deveria haver processos para que, mesmo com menos pessoas, o trabalho não fosse afetado em um espaço de tempo curto.
Ainda que muitas empresas tenham esse tipo de atuação com processos eficazes e culturas voltadas ao trabalho árduo, existem outras que não conseguem impingir o mesmo ritmo e, consequentemente, acabam contaminando a economia.
Ao contrário dos diversos estudos que avaliam o montante de impostos pagos pela população, ainda não tive acesso, e nem sei se existe, a algum que estime as perdas da economia em função da queda da intensidade aqui descrita. Seria interessante quantificar esses valores, pois, provavelmente, chegaríamos à conclusão de que uma postura diferente aceleraria a economia e proporcionaria mais qualidade aos períodos "oficiais" de férias e feriados curtidos, afinal de contas, um crescimento econômico viria acompanhado de redução do desemprego e até melhorias na remuneração.
Não saberia dizer as causas que levam a esse hábito, uma delas pode estar associada a uma preferência bem maior em não trabalhar do que trabalhar, não podendo ser descartada a cultura que acaba contaminando o ambiente, só que aqui entramos num looping pois vem a dúvida sobre as razões que levaram a essa cultura.
Creio que não caiba investir muito tempo especulando tais razões, sendo mais salutar pensar em como reverter esse quadro, ou até mesmo se vale essa tentativa de reversão.
Para concluir deve ser citado que há setores que não diminuem as atividades, valendo também lançarmos uma provocação acerca de eventuais oportunidades que podem ser desenvolvidas com as “folgas” da concorrência, ilustram essa condição algumas ligas que realizam partidas em datas como Natal e Ano Novo e assim conseguem excelente audiência.
No mais, desejo a todos bom descanso e um ótimo Natal!



terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Distribuição ou desconhecimento?


A cada mudança de fornecedor de material esportivo ocorrida nos clubes de futebol costuma-se escutar os mesmos discursos exaltando o novo e "espetando" os antigos. 
Ainda que ignoremos os aspectos éticos que são desprezados quando as críticas públicas atingem alguma relação do passado, não podemos ficar cegos quanto à fragilidade de tais discursos no que tange ao embasamento sobre o assunto. 
Dentre as "frases prontas e sem nexo" que recheiam tais falas está a que promete uma distribuição de produtos melhor que a realizada outrora. 
Ao prometerem tal façanha certamente acreditam que o fornecimento de material esportivo é similar ao de bens de consumo com giro rápido e prazos de validade curtos, onde a logística é essencial para que o produto chegue aos canais de vendas através de melhores rotas, de veículos com as capacidades adequadas e pontos de armazenagem estrategicamente bem localizados e dimensionados. Devem crer ainda que o varejo só não tem o produto em sua área de vendas porque o fornecedor não entregou. 
Como já foi escrito outras vezes, as marcas esportivas baseiam sua produção nos pedidos que são feitos previamente pelos varejistas, além das estimativas dos gestores de suas lojas e e-commerce próprios, portanto, eventuais rupturas têm como causa principal o aspecto comercial e, se fôssemos elencar uma causa secundária poderíamos citar o lead time (período que compreende o tempo decorrido do pedido de um cliente até a efetiva chegada), o que nesse caso tem muito mais a ver com o tempo da produção. 
Para ficar mais claro usaremos o case do Fluminense, que acaba de anunciar a Umbro como sua nova fornecedora de material esportivo, acontecimento que criou uma enorme expectativa quanto a uma maior disponibilidade de produtos  em comparação ao que era no passado. Esse anseio pode até fazer algum sentido em função de a Umbro possuir operação fabril, ao contrário das marcas anteriores que terceirizavam essa etapa, o que, consequentemente, proporciona em tese capacidade superior para produzir mais rapidamente os pedidos extras - aqueles que "corrigirão" as estimativas de demanda pessimistas feitas na ocasião da pré-venda. 
Todavia, essa suposta vantagem não garante que as rupturas não acontecerão, até porque a expectativa do varejo é ainda a principal variável para se deixar o produto disponível ao consumidor, ou seja, se esse canal for muito conservador na gestão do seu capital de giro, as chances de ruptura continuarão a existir, e, por favor, não responsabilizem a Umbro por isso, mesmo porque a marca não possui lojas próprias. 
O ponto negativo que vejo na parceria diz respeito ao fato de a marca inglesa ter um portfólio restrito basicamente ao futebol, o que pode vir a ser um fator de fragilidade nas negociações com as key accounts. 
Por outro lado, é de se esperar que haja uma maior flexibilidade em relação ao desenho dos materiais. 
No cômputo geral achei a decisão excelente, principalmente diante da atual conjuntura desse mercado. 
Com esse parceiro, o único clube brasileiro detentor da Taça Olímpica continua a ter como fornecedor uma marca de relevado reconhecimento e importância, assim como são Adidas e Under Armour, o que fortalece o conceito de co-branding e dá visibilidade ao clube.





terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Especialista ou generalista?


O questionamento que dá título ao artigo costuma estar presente na mente daqueles que iniciam uma carreira corporativa ou que estejam buscando um profissional para alguma posição no organograma.
Vale salientar que a discussão levantada considera como objeto de reflexão a experiência em algum ramo de atividade e não o conhecimento específico de alguma área. A razão para adotarmos essa linha de desenvolvimento do texto é por se entender que, por mais experiência que se tenha em alguma área da administração, é requisito fundamental conhecer outras disciplinas.
Enriquece o assunto a defesa que o jornalista científico David Epstein faz no livro Range — Why Generalists Triumph in a Specialized World (“Abrangência: por que os generalistas triunfam num mundo de especialistas”), onde discorre sobre o maior valor do generalista citando casos na música e no esporte. Segundo Epstein, a razão de Roger Federer, por exemplo, ter atingido o sucesso se deve ao fato de na infância ter praticado diversas modalidades além do tênis, o que lhe propiciou uma maior experiência em ambientes diferentes.
Esta tese também pode ser derivada para o ambiente corporativo, já que existem inúmeros casos de profissionais que levam suas vivências e práticas de um setor econômico para outros com características diferentes e, dessa forma, conseguem excelentes resultados, o que tem provavelmente como causas: os questionamentos a paradigmas enraizados pelos especialistas e à visão distinta acerca do mercado.
Exemplos que contestem os casos citados também existem, no tênis vemos a jogadora Serena Williams praticando seu esporte desde a infância, assim como vemos executivos triunfando sem que para isso tenham atuado em ramos de atividade diversos.
Apesar de ver alguma coerência na frase de Bernard Shaw: “o especialista é um homem que sabe cada vez mais sobre cada vez menos, e por fim acaba sabendo tudo sobre nada”, penso que, como tudo que acontece relativo à gestão, não há uma verdade absoluta para responder ao questionamento.
No que tange à seleção do profissional a decisão envolve entre outras coisas: a especificidade do cargo, a composição atual do time da empresa, os objetivos e a cultura da mesma, além do plano de carreira que se vislumbra para o profissional, e mesmo assim devendo se estar atento ao dinamismo do mercado. Já em relação ao rumo que se deve dar à carreira, a resposta à questão que dá título ao artigo é ainda mais difícil, pois o dinamismo citado se faz ainda mais presente graças à perspectiva de tempo maior, cabendo então escolher em função do que entende ser mais convergente com suas aptidões e características, contudo, nunca se esquecendo de que o maior ativo de um profissional é o seu caráter e esse independe do quão generalista ou especialista se é.





terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Quem paga? O outro



Para grande parcela da população o governo deveria sempre e tudo subsidiar para assim fazer com que os produtos e serviços cheguem baratos aos consumidores. De onde viriam os recursos para esse fim é uma questão que nem passa pela cabeça dos que pensam dessa forma e caso sejam pressionados a responder, provavelmente dirão que isso não é problema deles. 
Talvez achem que dinheiro dê em árvore, ainda assim se esquecendo que o ato de plantar e cultivar requer investimento. 
O mesmo processo ocorre no setor varejista, onde os clientes reclamam dos preços das mercadorias, certamente supondo que a indústria e o próprio estabelecimento deveriam praticar margens menores. Desconsideram aqui que essa margem não pode ser tão pequena em relação a outras opções de investimentos, pois dessa forma muitas indústrias e estabelecimentos varejistas iriam encerrar suas atividades, acarretando assim num cenário em que os  preços seriam até maiores em função da diminuição de oferta, isso sem falar no maior índice de desemprego. 
Com os preços dos ingressos no futebol acontece a mesma discussão, só que em níveis até mais constrangedores, pois envolve jornalistas defendendo os preços baixos através de um discurso populista de inserção social. É óbvio que a inserção social deve ser sempre defendida, mas sinceramente não acredito que o pilar para essa causa seja o “ingresso de uma partida de futebol”. 
Há ainda que se ter em mente que o mesmo torcedor que clama por ingresso barato é também o que reclama por não ter bons jogadores na equipe. Nesse contexto fica difícil fechar a conta. 
Será que os jogadores estariam dispostos a diminuir seus salários para subsidiar os ingressos? 
Será que os mesmos jornalistas, que defendem a política de preços baixos, estariam dispostos a encurtarem seus salários para assim diminuir os custos das emissoras que detém os direitos de transmissão, ação que poderia redundar numa cota maior para os clubes que, assim, ficariam menos dependentes das receitas advindas da bilheteria? 
É claro que os questionamentos acima devem ser respondidos de forma negativa, mesmo porque o preço baixo irá obrigatoriamente derivar para ações fortes de cambismo diante do cenário de uma demanda maior. 
O que se pretende mostrar com o texto é que a solução “abaixe o preço” é fácil em um primeiro momento, porém pode trazer consequências que deixarão o mercado ainda mais desequilibrado e injusto. 
Por fim, sempre é bom esclarecer que o intuito do texto não é preconizar, tampouco defender margens exageradas, as quais também têm a capacidade de causar desequilíbrios até maiores, mas sim defender que a precificação seja praticada com uma visão macro da sociedade e não apenas de interesses de uma parte.








terça-feira, 26 de novembro de 2019

A Nike sem Amazon



Os que se interessam pelas relações entre o varejo e a indústria devem ter recebido com surpresa a notícia de que a Nike decidiu parar de comercializar seus produtos através da plataforma da Amazon.
Faz parte dos objetivos de qualquer executivo de marketing deixar seus produtos distribuídos no maior número possível de pontos de vendas qualificados, sejam esses físicos ou virtuais. Dessa forma se consegue auferir receitas através das compras dos varejistas, se toma espaço da concorrência no que tange às áreas de vendas, de estoque e do próprio capital de giro, além de deixar o produto mais disponível para o consumo.
Portanto a opção de abrir mão de uma plataforma que é referência em vendas online se mostra uma iniciativa bastante arrojada e que provavelmente pode impactar as vendas no curto prazo, apesar de provavelmente oferecer boas perspectivas para o futuro.
A aposta da Nike é trazer o consumidor para sua própria plataforma e assim propiciar uma melhor experiência, a qual pode ser fortalecida através do próprio conceito de omnichannel, ou seja, uma maior e melhor integração com as lojas físicas e demais canais da marca.
Oferecer maior variedade de produtos e direcionados com maior assertividade aos clientes, tanto em função do perfil dos mesmos como também por layouts mais interativos, também faz parte das expectativas da Nike.
Deve ser registrado que a marca norte-americana sempre foi reticente em relação a comercialização de seus produtos na Amazon, tanto que demorou a aderir à plataforma. Nas negociações que propiciaram a parceria foi exigida a extinção das ofertas por intermediários que vendiam Nike naquele canal e, evidentemente, das réplicas piratas.
Contribuiu também para esta decisão a contratação do novo CEO, John Donahoe, cuja experiência contempla posições na eBay e na PayPal, empresas com estreita ligação com o setor de ecommerce.
Apesar de reconhecer a dificuldade e os riscos de se quebrar um paradigma solidificado na indústria: o de estar presente para o maior número de potenciais clientes, creio que a decisão foi acertada, pois, deixa para trás os aspectos estritamente ligados aos resultados de curto prazo e privilegia o lado estratégico que permitirá posicionar a marca e conhecer melhor aqueles que interagem com ela, isso sem falar na extensa rede de lojas físicas – próprias inclusive – e nos demais comércios eletrônicos em que continuará presente.




terça-feira, 19 de novembro de 2019

A pirâmide invertida de remuneração

Os que acompanham o noticiário esportivo já devem ter reparado que grande parte das demissões dos técnicos de futebol traz como justificativas a “insatisfação” do elenco. Nesse contexto até suspeitas de boicotes fazem parte das suposições. 
Querer que num ambiente repleto de pessoas não exista nenhum tipo de insatisfação chega a ser utópico, contudo, é inadmissível que as eventuais contrariedades venham a contaminar o ambiente profissional, ainda mais quando isso ocorre de forma voluntária, deixando explícita a insatisfação através da falta de empenho e de situações conflituosas. Atos extremamente lamentáveis que deixam evidentes os princípios e valores de quem os comete. 
Todavia, mesmo reconhecendo a fragilidade de personalidade dos que se utilizam de tais artifícios, temos que reconhecer que no futebol a estrutura organizacional dá margem para que tais incidentes ocorram com relativa facilidade e frequência.
Antes de detalhar as razões que nos levam a considerar o “futebol” fora do padrão, vale entender o conceito de uma gestão de cargos e salários.
É fato que o processo de busca pelo desenvolvimento profissional costuma ter como um de seus alicerces a hierarquia, o que faz com que os cargos mais altos também sirvam como meta e estímulo, porém é fortemente recomendável que a estrutura de cargos guarde estreita relação com a remuneração. Vale lembrar que grande parte das insatisfações advém das inevitáveis comparações que são feitas tanto internamente quanto externamente no ambiente corporativo, daí a necessidade de se instituir políticas que permitam uma proporcionalidade justa e coerente entre cargos e salários. Tal advento serve não apenas para minimizar as prováveis sensações de injustiça, como também para instituir um aspecto motivacional ao colaborador, além, é claro, de reforçar os desenhos hierárquicos.
Voltemos então ao futebol e veremos uma pirâmide invertida norteando os cargos e salários, reparem que o salário de grande parte dos jogadores costuma ser maior do que o do técnico, o qual hierarquicamente está numa posição acima e comanda os jogadores. O técnico, por sua vez, tem uma remuneração superior à do diretor de futebol, que é seu superior imediato. Este diretor responde ao presidente que por exercer um cargo estatutário nada recebe.
É claro que a remuneração não deve ser vista como o único fator para se exercer autoridade, se assim fosse estaríamos ignorando o conceito de liderança, mas também não podemos desprezar que na maioria das organizações a hierarquia está ligada à remuneração.
No caso dos técnicos a relação fica ainda mais desequilibrada pela maior facilidade de desligá-lo quando comparada à que se tem com os jogadores, ou seja, como a multa pela rescisão é função da remuneração os custos são mais baixos quando se demite quem ganha menos, isso sem falar que é menos complexo desligar uma pessoa do que várias.
Encontrar soluções para a correção desse problema no futebol não me parece viável sob o prisma de cargos e salários, entretanto, a possibilidade de minimizá-lo passa também pela área de RH, mais especificamente pelo recrutamento & seleção e pela avaliação de desempenho. Ainda assim, não acredito que seja algo factível, visto ser improvável que os clubes venham a contratar por aspectos que não sejam estritamente técnicos e/ou que sofram a influência de empresários, lembrando que dentro do modelo que rege os clubes brasileiros nem o presidente é recrutado e sim eleito.






terça-feira, 12 de novembro de 2019

O fim do marketing


O título do artigo, apesar de trazer um tom meio trágico, não significa que o marketing deixará de existir.
O que está acontecendo é que a distorção acerca do que realmente é, e para que serve, o marketing chegou a um ponto tão elevado que a disciplina se afastou de forma aparentemente irremediável da sua essência.
Infelizmente o mercado ficou infestado de “promotores de ações”, de detentores de “ideias geniais”, de pessoas que entendem e/ou gostam de algum assunto e para dar peso a este acrescentam a palavra “marketing” ao título de sua qualificação.
Antes de prosseguirmos na narrativa, convém pontuar que não cabe nenhum tom de crítica aos “avatares” citados acima, ao contrário, muitos deles têm ampla capacitação e importância no mercado.  O que quero dizer é que tais skills isoladamente não são suficientes para atender o que as empresas, com foco realmente no marketing, demandam de um profissional para liderar essa área. Deste se espera o devido embasamento em análise de retorno, uma aguçada capacidade analítica, habilidade numérica, visão geral de toda a cadeia de consumo, sólidos conhecimentos em economia/finanças, forte viés estratégico e foco nos resultados, entre outros requisitos.
As empresas querem – e necessitam – para o exercício dessa função de executivos que foquem no crescimento sustentável de seus resultados.
Diante deste cenário, muitas organizações iniciaram um movimento de extinção do cargo de CMO (Chief Marketing Officer), – substituindo-o por outros cujas nomenclaturas contemplam o foco na inovação e nos resultados. Como exemplo dessa “metamorfose” vale citar a Coca-Cola, que instituiu a posição de CGO (Chief Grouth Officer) que tem o escopo do antigo marketing convergindo com o retorno baseado numa lucratividade bem tangível.
Para os menos afeitos às siglas e cargos, poderíamos derivar, de forma simplória, as posições citadas na seguinte conversão: CMO = diretor de marketing e CGO = diretor de “crescimento”. 
Não creio, no entanto, que a extinção dos cargos de CMO venha a ocorrer rapidamente, tampouco acredito que atinja um contingente considerável de empresas. Para embasar esta expectativa vale lembrar que num passado não muito distante, a área de marketing era confundida com vendas/comercial e que muito tempo levou para se corrigir esta anomalia, aliás, pasmem, algumas organizações não a corrigiram até hoje.
Na verdade penso ser um movimento bastante interessante e vital para as empresas, o qual pode vir a restabelecer a essência de uma disciplina tão rica e importante.
Por outro lado, fica a tristeza de constatar que a verdade é frágil diante de movimentos populares, como o que desvirtuou o marketing e criou a figura dos marqueteiros.





terça-feira, 5 de novembro de 2019

Os clubes de futebol no contexto olímpico


Os que acompanham as modalidades olímpicas já devem ter notado que os chamados clubes de camisa – clubes notoriamente reconhecidos pela atuação no futebol  estão voltando a ter equipes participando das principais competições nacionais.
Como já foi escrito no artigo Esportes Olímpicos como extensão de marca -  http://halfen-mktsport.blogspot.com/2013/10/esportes-olimpicos-como-extensao-da.html, tal tipo de iniciativa seria em teoria uma excelente oportunidade para atrair torcedores, pois os clubes se aproveitariam do conceito de extensão da marca para angariar novos simpatizantes.
A prática, no entanto, não tem correspondido às expectativas citadas no artigo, o que pode ter como causas: (i) as dificuldades de os clubes explorarem todo o potencial das modalidades; (ii) a forte influência do futebol e de seus torcedores apaixonados que acabam não dando espaço para um novo público; (iii) a própria carência de aculturamento da população em relação aos esportes olímpicos; (iv) a pequena divulgação das modalidades; (v) um misto destas opções.
Além disso, é preciso considerar que o futebol é o principal gerador de receitas da instituição, sendo natural que ele venha a demandar maiores investimentos, o que acarreta em menos verbas para as equipes de esportes olímpicos e, consequentemente, desempenhos, na maioria das vezes, mais modestos – fato que gera insatisfação e desinteresse nos potenciais fãs.
Por outro lado, não podemos esquecer que estes clubes têm forte parcela de participação na formação de atletas.
Todos estes pontos nos levam ao seguinte questionamento: qual deve ser a efetiva participação dos clubes de futebol nos esportes olímpicos coletivos?
De forma proposital todo o racional aqui desenvolvido não abrange os esportes individuais por entendermos que não há grande necessidade de investimentos vultosos para a formação de uma equipe, mesmo porque não existe geralmente nenhuma obrigatoriedade no que tange à quantidade mínima de atletas. 
A título de provocar uma reflexão sobre o problema seria interessante avaliar a possibilidade de estes clubes participarem exclusivamente das competições voltadas às divisões de base, pois o investimento é menor, além de se conseguir manter as tradicionais rivalidades -  vitais ao esporte - em um nível racional e ponderado.
Já as competições nacionais voltadas aos adultos teriam a cidade que sedia as equipes como representante. Exemplificando: o Rio de Janeiro se constituiria como uma entidade esportiva e passaria a ter equipes de algumas modalidades olímpicas, se capacitando assim para atrair patrocinadores – eventualmente a própria prefeitura e, consequentemente, melhores jogadores.
Algo, guardadas as devidas proporções, semelhante ao modelo das ligas americanas, onde as principais cidades costumam sediar franquias que as representam e atraem público para seus jogos.
Nesse desenho, as próprias instalações erguidas e/ou reformadas para os Jogos de 2016 poderiam ter uma utilização maior e melhor.
O argumento de que haveria uma diminuição no número de equipes disputando os campeonatos nacionais não parece coerente na medida em que essa limitação já existe, visto ser finita a quantidade de times, além do que, poderiam ser criadas ligas intermediárias para o aproveitamento dos atletas que não são demandados naquele momento pelas equipes que disputam as competições principais.
Se as ideias aqui contidas são viáveis só um estudo mais aprofundado poderá dizer, contudo, creio que valha desenvolver projetos que supram as carências de formação, que não deixem os clubes de futebol distantes dos seus objetivos e que permitam formatar as competições de modalidades olímpicas como um produto desejado e rentável.




terça-feira, 29 de outubro de 2019

As lições de Nova York

Imaginem um time que seguidamente apresenta excelentes resultados financeiros, mas não conquista o principal campeonato desde a década de 70. Nesse exercício de imaginação vale acrescentar que o time está localizado na maior cidade do planeta e que manda seus jogos na arena mais famosa do mundo, o que faz com que seus jogos sejam sempre demandados e o valor dos ingressos alto. 
Estamos falando do New York Knicks.
É provável que o leitor suponha que a gestão deva ser péssima, afinal as características elencadas no parágrafo anterior aparentam levar para esse caminho. Antes de sermos definitivos nesta conclusão, vale acrescentar que o proprietário do time é também dono do New York Rangers, equipe de hockey que, mesmo não sendo a potência de outrora, tem resultados superiores aos dos Knicks.
Ainda assim, os que acompanham os bastidores da NBA são categóricos em afirmar que o proprietário é sim um grande problema, fato que poderia explicar a razão pela qual as principais estrelas do basquete recusam os seguidos  convites para atuar no Knicks.
Considerar a conclusão fechada diante desta informação não seria correto, até porque em gestão os problemas não podem, nem devem ser examinados de forma isolada. É preciso acrescentar ao contexto que o local de treinamento do Knicks em Westchester County está a 50 km de Manhattan, uma distância expressiva, e que a rotatividade de técnicos e de executivos tem sido bastante alta. 
Ok, podemos agora até admitir que tais situações são originárias de uma gestão ruim, afinal a escolha do local de trabalho tem sido cada vez mais um fator de retenção de colaboradores. A propósito, tal dedução se aplica com exatidão em qualquer organização, inclusive nas não esportivas.
Ainda que abrangente, esse diagnóstico não está completo, falta avaliar o que o mercado oferece, ou seja, o que os demais times podem ofertar aos jogadores em termos de remuneração, relacionamento com colegas/treinadores/dirigentes, estabilidade, qualidade de vida, chances de bons resultados e demais fatores que contribuam para que a decisão atenda aos anseios e necessidades do profissional. Reforça-se aqui mais uma vez a analogia com a vida corporativa.
Diante destes parâmetros podemos perceber que a franquia de Nova York não aparenta estar muito bem posicionada quando comparada com as demais, excetuando, obviamente, o fato de que seus jogos são realizados na maior cidade do mundo, fator que até poderia compensar os demais pontos “negativos”. 
Essa vantagem competitiva, no entanto, acabou sendo perdida – ou diluída – quando o Nets mudou sua sede de Nova Jersey para o Brooklyn em Nova York e paralelamente a isso implantou uma estrutura de gestão que o deixa ainda mais atrativo. Comprova esta afirmação a opção de jogadores como Kevin Durant e Kyrie Irving que se integraram ao Brooklyn Nets mesmo tendo ofertas similares de outras franquias.
A presente narrativa nos permite concluir que uma boa gestão não deve ser analisada apenas por indicadores financeiros, pois, por mais que esses estejam bem, certamente poderiam estar muito melhores se o objeto da corporação  – neste caso o desempenho esportivo – fosse satisfeito. 
As avaliações acerca do que se oferece para atrair e reter colaboradores (jogadores), assim como da movimentação dos competidores, inclusive sob o prisma de gestão, são fundamentais para que os resultados venham satisfazer toda a cadeia de stakeholders







terça-feira, 22 de outubro de 2019

A incontinência digital

O texto que será aqui desenvolvido tem como motivação a polêmica criada pelo tuíte do gerente geral do Houston Rockets, equipe de basquete da NBA, porém a reflexão pode ser estendida a todos que, ocupando posições com relevantes responsabilidades, utilizam as redes sociais de forma inconsequente.
A frase “lute por liberdade, esteja com Hong Kong” postada pelo dirigente no seu Twitter causou sérios problemas para a NBA, inclusive a suspensão dos patrocínios advindos das empresas chinesas.
Antes que venham a evocar a liberdade de expressão como justificativa para a postagem, adianto que a discussão não passa por esse ponto, a liberdade é sagrada, entretanto, qualquer mensagem que seja pública deve ser previamente analisada, de forma que sejam avaliados os benefícios e as potenciais consequências negativas que possam existir.
No caso, a postagem pedindo para “se estar com Hong Kong” certamente não influenciará os destinos do território, até porque o tal dirigente não é nenhum estadista ou liderança que venha fazer diferença nesse sentido. Por outro lado, as reações por parte da China podem colocar em risco a situação financeira de muitos que nada têm a ver com o imbróglio.
A facilidade, isto é, praticidade e alcance, com que se consegue propagar alguma “citação” nas redes sociais atingiu um nível bastante elevado, daí, aqueles desprovidos de uma visão estratégica acabam criando situações constrangedoras tanto para si próprios como para as entidades que representam.
Diante deste tipo de problema, o qual acontece até com presidentes da república e seus assessores, vem a dúvida: será que o tempo utilizado para as postagens não poderia ser aproveitado para outro tipo de função? Aliás, até o exercício de pensar sobre as possíveis reações de cada ação poderia ocupar este tempo, supostamente ocioso.
Por mais que as opiniões como pessoa física sejam um direito inalienável de todos, ao se ocupar certos cargos o risco de as opiniões pessoais serem confundidas com as posições das entidades é enorme, razão pela qual preconizo que qualquer postagem, por mais “inocente” que possa parecer, seja exaustivamente discutida com um staff composto por pessoas inteligentes e de visão estratégica.
Nesse contexto as entidades passam por um momento bastante delicado, afinal de contas uma declaração "infeliz" pode impactar os mais variados indicadores de desempenho. 
Na iniciativa privada, a solução em tese parece mais fácil, pois bastaria o aprimoramento de alguns códigos de conduta para coibir esses problemas, todavia, a alegação de que se trata de uma opinião pessoal e que foi externada através de suas plataformas individuais prejudica a aplicação das sanções dispostas nos códigos de conduta, ainda que o prejuízo à imagem da marca seja enorme.
No que diz respeito a chefes de estados e seus fiéis escudeiros a situação é ainda pior, pois, ao se colocarem como senhores da razão e acima do bem e do mal, deixam a incontinência digital trazer instabilidade num campo onde a estabilidade é fundamental para se gerir uma nação.
Há uma frase de Fernando Pessoa que diz: “existe no silêncio uma tão profunda sabedoria que às vezes ele se transforma na mais perfeita resposta”
Um pensamento que beira a perfeição e que, por mais inusitado que possa parecer, se deu numa época onde nem se cogitava a existência das redes sociais e o marketing era pouco conhecido.











terça-feira, 15 de outubro de 2019

Descaracterizar para popularizar?

E não é que se correu 42,195 km – distância de uma maratona – para menos do que duas horas?
O autor da façanha foi o queniano Eliud Kipchoge, apontado pela grande maioria dos que acompanham corridas de longa distância como o melhor maratonista da atualidade, quiçá da história, afinal de contas ele tem o melhor tempo do mundo – 2:01”38 -, obtido na maratona de Berlim em 2018 e vitórias nas principais provas.
De fato conseguir correr a citada distância em menos de duas horas - mais precisamente 1:59’40” - é, sem dúvida, digno dos mais efusivos elogios e admiração, pouquíssimos acreditaram que o feito seria possível nessa década, inclusive eu, que se registre.
Na contramão da empolgação com a quebra da barreira das duas horas deve se trazer luz sobre o seguinte questionamento: até que ponto uma modalidade pode ter sua essência descaracterizada em prol da conquista de atenção?
Tal pergunta se aplica à situação em função de a estupenda marca ter sido alcançada sob condições não usuais em provas “oficiais”, dentre essas vantagens devem ser citadas: (i) o acompanhamento de 41 corredores de elite que se dividiram em grupos para em cada parte do percurso dar ritmo e quebrar a resistência do ar, tal como atuam os gregários no ciclismo; (ii) ciclistas que levavam e facilitavam a hidratação do atleta; (iii) um carro elétrico que projetava na pista uma luz verde que servia de referência de ritmo, eliminando assim o risco de não cumprir a estratégia traçada; (iv) um percurso plano com longas retas e protegido do vento por grandes árvores; (v) pouca diferença de fuso horário em relação ao do Kenya; (vi) baixa umidade; (vii) torcedores para o apoiarem durante o desafio. 
Poderia se acrescentar aqui a eficácia dos calçados utilizados, mas, apesar de tudo levar a crer que realmente influenciaram, seriam necessários mais estudos científicos confiáveis para a devida suposição se confirmar.
Reitero que os pontos elencados acima em nada arranham o talento e a qualidade de Kipchoge, a ideia do artigo é simplesmente provocar a reflexão sobre a descaracterização de uma tradicional competição. 
Atenção especial também deve ser dedicada ao patrocinador do desafio, uma multinacional de produtos químicos chamada Ineos, que já estava presente no segmento esportivo através da recente aquisição do Team Sky, uma das principais equipes de ciclismo.
Ver uma empresa investir no esporte, ainda que seus produtos não tenham associação direta com a atividade, não é algo muito frequente, fato que pode ter causado a deflagração de algumas críticas relacionando os investimentos "esportivos" a um suposto plano para melhorar a imagem da Ineos diante de algumas polêmicas que se envolveu no passado. E se fosse isso? Qual seria o problema? Acreditar no esporte como um meio de associação aos seus valores é pensar de forma estratégica e como tal, elogiável.
Em busca dos verdadeiros objetivos do investimento, descobrimos que o  principal acionista da empresa o fez por considerar a iniciativa divertida.
Ainda que decepcionante, não há como negar que se trata de um raciocínio bastante coerente com a linha adotada de se descaracterizar uma prova tradicional em busca de diversão sem considerar as consequências – positivas e/ou negativas – que a modalidade pode vir a sofrer no futuro.
Pelo visto, talvez seja mais fácil quebrar a barreira das duas horas do que os paradigmas de algumas empresas acerca do que efetivamente é e para que serve o marketing.




terça-feira, 8 de outubro de 2019

As marcas esportivas no futebol em 2019-20

A 6ª edição do estudo elaborado pela Jambo Sport Business acerca das marcas esportivas que vestem os principais clubes de futebol do mundo, além de nos brindar com o panorama deste mercado, põe luz sobre dois fatos bastante interessantes.
O primeiro diz respeito à aparente postura mais criteriosa das principais marcas globais (Adidas, Puma e Nike) no tocante aos investimentos em clubes futebol. Os números apresentados nos levam a crer que tais marcas perceberam que o retorno deste tipo de patrocínio tem ficado aquém do planejado em grande parte dos clubes que estão presentes.
Isso ocorre não apenas em função das vendas dos produtos por eles licenciados não atingirem a um patamar que remunere o investimento, como também por entenderem que o retorno menos tangível – aquele que se consegue através da exposição, ativação e associação da marca – não está a contento. Nesse contexto dão mostras efetivas de estarem priorizando a qualidade das equipes - onde se incluem aspectos técnicos, torcida e popularidade - do que a quantidade.
Auxilia essa conclusão um quadro onde se vê claramente que na temporada analisada, nove das vinte ligas viram a concentração das três citadas marcas descer ao pior percentual desde que o trabalho vem sendo realizado.
O segundo ponto a se destacar é o aparecimento das marcas próprias, pois, ainda que praticamente restrita ao Brasil, onde está presente em quatro dos clubes contemplados no estudo, e na Itália suprindo o Lecce, essa forma de suprimentos começa a apresentar alguma significância. Exemplificando, caso agrupássemos as quatro marcas que vestem clubes no campeonato brasileiro em apenas uma, essa seria a 2ª mais presente.
Tal fato está provavelmente ligado à observação anterior, ou seja, ao desinteresse das marcas globais, o que faz com que as propostas de fornecimento por parte destas fiquem abaixo das expectativas dos clubes ou nem sequer existam.
É cedo para afirmar se tal movimento irá perdurar, devendo ser ressaltado que, ao contrário do segmento varejista que controla e domina o ponto de venda - tendo assim ingerência para ofertar, expor e armazenar seus produtos -, os clubes de futebol serão sempre dependentes de investimentos comerciais.
Todavia, independente da fragilidade do setor sob esse prisma, é provável que haja a curto e médio prazo uma perspectiva de manutenção ou até crescimento da presença das marcas próprias, cenário que ganha ainda mais força se o desinteresse no fornecimento aos clubes se estender às demais marcas. Outra dúvida diz respeito à internacionalização de tal movimento, o que, dependerá da situação econômica de cada país, de forma que a demanda pelos produtos licenciados possibilite o retorno dos investimentos das marcas.
Cumpre relatar que o presente estudo identificou a presença de 53 marcas como fornecedoras, sete a menos do que na temporada 2018-19. 
São inúmeras as análises disponibilizadas no citado trabalho, dentre as quais podemos destacar as que trazem a Nike na liderança geral, a Adidas sendo a marca mais presente entre os cinco clubes mais ricos do mundo e a Puma aumentando sua participação em número de campeonatos. 
Caso desejem acessar o estudo façam pelo link https://www.slideshare.net/jambosb/as-marcas-esportivas-nas-20-principais-ligas-20192020 .






terça-feira, 1 de outubro de 2019

Chobani e o anti-CEO



A escolha do tema deste artigo poderia estar relacionada ao fato de a marca Chobani já ter patrocinado o time olímpico dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos. Esse fato, por si só, permitiria perceber que se trata de uma empresa atenta à importância de se associar a princípios e valores nobres como os que estão embutidos no esporte.
Outra motivação para o desenvolvimento do texto poderia ser a atenção que é dedicada ao desenvolvimento de seus produtos, o que pode ser considerado um forte diferencial competitivo da marca, mesmo que com o decorrer do tempo a concorrência passasse a segui-la – ou copiá-la, situação bastante usual na indústria de bens de consumo.
Todavia, mesmo diante dessas valiosas características, o que chama mais a atenção e deve ser destacada é a forma com que o fundador da empresa, um turco chamado Hamdi Ulukaya, encara as atividades econômicas.
Resumindo, ele preconiza que as pessoas devem ser colocadas à frente dos lucros.
Por mais inusitado que possa parecer, o conceito é de uma coerência ímpar, já que as pessoas - estejam elas na função de colaboradores, clientes ou fornecedores - são fundamentais para a sustentação e perenidade dos negócios. Além do que, num cenário cada vez mais competitivo, onde a busca pela diferenciação torna-se um desafio bastante complexo, privilegiar “gente” é uma excelente proposta de posicionamento pois consegue propiciar um aspecto humano às organizações.
Esse modelo de gestão inspirou até um manual: o do anti-CEO, que entre os principais pontos elencados estão:
- expressar gratidão aos seus colaboradores, pois através da dedicação deles é que os resultados surgirão.
- participar ativamente das comunidades onde está presente, o que pode ser feito através de benfeitorias voltadas à infraestrutura e ações sociais. Na contramão de grande parte das empresas que, em busca do lucro, poluem e causam transtornos às sociedades locais, a Chobani entende que o envolvimento com as cidades em que está de alguma forma presente é fundamental para o sucesso da empresa.
ouvir as necessidades dos seus colaboradores e clientes. No início da operação o telefone para atendimento ao cliente que constava nas embalagens do produto era o do próprio fundador.
- tomar partido de causas, mesmo reconhecendo que a neutralidade talvez seja o mais seguro em termos de imagem.
Após um crescimento relevante, a empresa não atravessa atualmente seus melhores momentos. Em função disso, muitos se aproveitam para responsabilizar o modelo de “humanização” pelos atuais resultados. 
É bom que se esclareça que nunca um só motivo será capaz de comprometer o sucesso de algo e, mesmo que algum tipo de exagero tenha eventualmente prejudicado a operação, a iniciativa de “humanizar” jamais pode ser vista como errada, afinal de contas tratar bem as pessoas que estão ao seu redor chega a ser uma obrigação, ainda mais se essas tiverem algum tipo de relação com seus objetivos.
Negar que erros aconteceram na gestão seria leviano, pois, ainda que se defenda a visão da Chobani, é claro que alguns pontos não foram corretamente avaliados no que tange aos aspectos mercadológicos, até porque o dinamismo da economia, da concorrência e dos hábitos dos consumidores fazem com que o que deu certo hoje, já não sirva para amanhã. Antever tais movimentos são fundamentais para se atingir objetivos, os quais também são dinâmicos, que se ressalte.
Feito tal reconhecimento, devo confessar que as críticas oportunistas ao modelo Chobani não causam surpresas, pois provavelmente muitos desses autores o fazem por se sentirem incapazes de serem “humanos” e consequentemente ameaçados caso tal forma de gestão venha proliferar, afinal só pensam nos bônus e nas promoções pessoais sem contemplarem o futuro do ecossistema que habitam. Pouco visionários que são, esquecem que o mercado, seja o de consumo seja o de trabalho, é composto por pessoas.