Em pesquisas de mercado, a avaliação do atributo preço, seja esse de produtos ou de serviços, costuma ser ruim, independentemente de ele ser alto ou baixo.
Mesmo diante dessa peculiaridade, não podemos ficar cegos em relação às discussões sobre o valor dos ingressos em jogos de futebol, principalmente, após as reformas dos estádios brasileiros.
Certos críticos comparam os valores aos praticados no futebol europeu, o que de fato seria um absurdo caso os parametrizássemos com o poder aquisitivo do brasileiro.
Entretanto, grande parte dos clubes tem folha salarial similar à de certos times europeus, além do que, os custos de operação de algumas arenas são bastante altos e precisam ser remunerados.
Trata-se de um problema de difícil solução, onde a hipótese de subsídios governamentais deve passar longe, até porque, certamente o valor envolvido nessa conta virá sob a forma de mais impostos para a população.
Tentar estabelecer políticas salariais também é difícil, pois há a influência de fatores exógenos, tais como o mercado internacional e dirigentes que visam apenas o curto prazo, deixando eventuais endividamentos para as gestões posteriores.
Curiosamente, o mesmo torcedor que reclama dos preços, também reclama de ter um time ruim, o que acaba pressionando o clube a investir em jogadores mais caros, que precisam ser remunerados, sendo que uma das fontes de receita é o preço do ingresso.
Obviamente se as redes de comunicação, que criticam os valores dos tickets, aumentassem o que pagam aos clubes, o preço dos ingressos poderia ser menor, mas para isso, elas também precisariam “fechar a conta”.
Ou seja, criticar os detentores de direitos de transmissão sem conhecer as respectivas estruturas de custos é repetir os mesmo erros que eles cometem ao criticarem o preço dos ingressos.
A equação fica ainda mais complicada, quando se presume que para o “conteúdo” ficar mais atrativo, com maior audiência e, consequentemente, mais interessante para os anunciantes, é recomendável que os times estejam reforçados, com estádios adequados e...cheios.
E assim roda a ciranda...
Apesar de reconhecer que todos os players envolvidos nessa operação devem rever seus números para uma solução de curto prazo, não há como negar que se trata de um problema muito mais ligado à estrutura econômica do país.
Dessa forma, cabe perfeitamente aqui um termo criado pelo mestre Edmar Bacha na década de 70, mas ainda bem atual: Belíndia - onde argumentava que o regime econômico brasileiro estava criando um país dividido entre os que moravam em condições similares à Bélgica e os que tinham um padrão de vida da Índia.
Hoje temos preços de ingressos e salários no futebol semelhantes às potencias europeias, porém um público potencial com poder aquisitivo bem diferente.