terça-feira, 19 de julho de 2011

Teto de vidro



A NBA (National Basketball Association) costuma ser apontada pelos especialistas como uma das melhores operações esportivas no que tange ao uso do marketing. 
As iniciativas para a geração de receitas são dignas dos maiores elogios, sejam essas no tocante aos direitos de transmissão, nas vendas de ingressos, nas ações de licenciamento ou na internacionalização da marca. 
É fato que a resistência à exposição de marcas no uniforme ainda existe, mas nada que possa arranhar o belo trabalho dos profissionais de marketing envolvidos nessa liga. 
Entretanto mesmo com as espetaculares receitas obtidas, as equipes estão atravessando uma crise tão severa que as fizeram anunciar um "lockout", uma recusa das entidades patronais a disponibilizarem os meios de trabalho aos trabalhadores, o que ameaça a realização da temporada 2011-2012. 
Segundo dados da Forbes, os prejuízos vêm se sucedendo pelo menos desde a temporada 2005-2006, onde 19 equipes totalizaram um prejuízo de cerca de US$ 220 milhões. 
Esse montante alcançou US$ 285 milhões em 2006-2007, US$ 330 milhões em 2007-2008, US$ 370 milhões em 2008-2009, US$ 340 milhões em 2009-2010 e US$ 300 milhões na última temporada, na qual 23 equipes tiveram resultados operacionais negativos. 
As franquias alegam e demonstram que o grande responsável por essa situação é o elevado salário dos jogadores, sobre os quais gostariam de instituir um teto. 
A situação está tão crítica que os jogadores estão proibidos de treinarem nas dependências de suas equipes, o que fatalmente acarretará em prejuízos técnicos.  
Dirigentes das equipes estão proibidos de se encontrarem com jogadores, o que pode levar Michael Jordan, ex-jogador e atual proprietário do Charlotte Bobcats a ser multado caso participe de um torneio promocional de golfe, que contará com a presença de alguns jogadores em atividade da NBA. 

Na verdade, a negociação entre equipes e jogadores envolve mais pontos, porém o conceito básico é o teto salarial, sobre o qual vale a reflexão e até um exercício sobre tal prática no futebol. 

Teoricamente, trata-se de uma medida até certo ponto interessante num cenário em que essas cifras atinjam valores exorbitantes.
Entretanto, na prática, existem dúvidas operacionais que fragilizam tal decisão, entre as quais destaco: 
  • Qual seria o parâmetro desse teto? Seria com base nas equipes com maiores capacidades de investimento ou nas de menores. Não resta dúvida que se for dentro da realidade das equipes de menores investimentos haverá um êxodo dos principais jogadores.
  • Seria possível evitar o êxodo? Alguns jogadores da NBA já negociaram suas transferências para equipes europeias. Eventuais medidas que reprimam essa possibilidade vão contra o direito constitucional de ir e vir do cidadão. 
  • Como evitar alguns artifícios que possam burlar a determinação? No Brasil, jogadores recebem parte do seu salário através do direito de imagem, o que o teto contemplaria?

Realmente as dificuldades são enormes e pelo visto, aqui no Brasil tal tipo de iniciativa teria grandes chances de dar errado.

Vale acrescentar que o texto não preconiza limites salariais para quem quer que seja, entretanto toda remuneração deve ter como princípio básico a lucratividade da operação, sob o risco das instituições simplesmente acabarem.
O que fazer para manter bons jogadores e sem abrir mão da saúde financeira é o maior desafio dos gestores dos clubes brasileiros. 
Desafio esse, que em minha opinião passa primordialmente pela união honesta e leal dos clubes no que diz respeito às negociações dos direitos de transmissão, licenciamento e, sobretudo, ética na contratação de jogadores e técnicos. 
É inadmissível que os clubes insistam em contratar profissionais que usualmente criam problemas nas equipes que defendem. 
Se esses jogadores passassem a ter dificuldade em encontrar novas equipes,  certamente repensariam suas condutas. 
Porém, os clubes preferem se esquecer do passado e, mesmo sabendo que se enganam, acreditam que ali será diferente.

Em suma, a NBA não é só exemplo nas iniciativas de marketing, mas também na conscientização de seus gestores, que sabem que para uma competição sadia e rentável é necessária a união. 


2 comentários:

  1. Jr, Wilson Rodrigues19 de julho de 2011 às 09:34

    Considerando o mote do blog, o Marketing e seus processos, para o ocorrido com a NBA, qual seria a reflexão a fazer ? "O que o Marketing não consegue fazer ?", ou "O marketing não é suficiente para atrair ou manter grandes patrocinadores do baskete americano ?"; enfim, seguindo a linha do marketing, sobre o que seria interessante discorrer no blog ?
    Apesar de ser inexorável e contundente que a crise americana, como qualquer outra, prioriza a sobrevivência e, por outro lado, atinge, às vezes até corta o que é considerado "supérfluo" (Ex: Entretenimento), pode ser que estas (auto)avaliações identifiquem os milagres que o melhor marketing não é capaz de fazer - e, quem sabe, o que ele pode fazer.

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  2. Fala Jr.

    Obrigado por seu comentário.
    O marketing é importante na gestão de qualquer operação, entretanto ele não se pode esperar que ele resolva todas as questões, nem que ele consiga propiciar uma fonte inesgotável de receitas.
    Abs

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