terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Bandidos com camisas


Quando algum jogo apresenta uma baixa presença de público as discussões sobre as causas giram em torno do preço dos ingressos, do calendário, do horário, da crise econômica, do mau momento do time, da concorrência de outras atividades, da transmissão pela TV, etc. Todas essas razões, sem dúvida, contribuem para o afastamento do público.
De forma proposital não adicionei a violência à relação de causas citadas, e não o fiz por entender ser essa uma variável que envolve muito mais do que ajustes mercadológicos, econômicos ou técnicos. Envolve uma forte política voltada à educação, elaboração de leis severas e um poder judiciário competente que puna com o máximo de rigor àqueles que covardemente se utilizam da violência para depredar patrimônios e saquear ambulantes que tentam subsistir vendendo produtos para os que ali estão para se divertir.
Os incidentes ocorridos no jogo final da Copa Sul-americana de 2017 deixaram evidente o processo de degradação da sociedade e as índoles perversas dos marginais.
Isso mesmo, não passam de marginais, e para esses nem vou entrar no mérito de explicar que suas ações afastam público, patrocinadores e interesse da mídia. Idiotas que são não iriam entender, mas para os leitores vale desenvolver o assunto dentro dessas três linhas de receitas citadas acima.
Em relação à não ida ao estádio, a explicação é óbvia: ninguém quer estar numa zona de risco, porém há algo ainda pior, que é o fato de que ao se afastar as famílias se afasta as crianças, o que inibe a renovação da torcida e de fãs da modalidade.
Sobre patrocínio, a história nos mostra algumas situações de empresas que preferiram ficar fora do futebol após verem suas marcas serem expostas não apenas nos editorias esportivos, mas também nas páginas policiais com elementos sendo presos ou brigando de forma covarde. É importante lembrar que a decisão de um patrocínio, por mas evidências de retorno que possam existir, é discutida e questionada frequentemente pelos demais membros do board de uma corporação, sendo que qualquer incidente negativo fortalece a ala que é contra a iniciativa.
Quanto às receitas advindas da mídia é importante entender que essas se formam através do que as emissoras arrecadam com as vendas dos patrocínios das transmissões aos anunciantes, os quais, além de audiência querem ver suas marcas associadas a algo bom. 
Pode até ser que a audiência não sofra muito impacto em um primeiro momento, ainda que a concorrência com outras formas de entretenimento esteja crescendo, porém, com o processo de formação de novos torcedores sendo prejudicado, conforme escrito anteriormente, é de se esperar que no futuro a queda na audiência ocorra. Além disso, a possibilidade de despertar o interesse  e transmitir os jogos para o mercado externo, o que aumentaria a audiência, também se torna improvável.
Tal quadro pode levar naturalmente a um menor interesse dos anunciantes por esse tipo de entretenimento, o que afetaria sobremaneira os clubes de futebol.
Diante dessas reflexões, creio que o título do artigo se enquadre perfeitamente aos marginais que causam o mal ao esporte.



terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Patrocinar é associar

Creio que não haja dúvida de que a demanda por patrocínio costuma ser maior do que a oferta, ainda que no caso dos grandes eventos possa haver uma procura superior e até disputas pelas propriedades disponibilizadas entre marcas de uma mesma categoria de produto.
Diante dessa condição, se espera dos “patrocináveis” um empenho muito grande no âmbito da elaboração dos projetos e na preparação para as negociações, além do que, caso o acordo não se concretize, é usual que a responsabilidade pelo revés lhes seja imputada.
Acho até que na maioria das vezes a avaliação quanto ao responsável pelo insucesso se encontra bem perto da realidade, contudo, não podemos fazer vista grossa em relação ao grau de consciência dos potenciais patrocinadores acerca dos benefícios dessa ferramenta de marketing.
Corrobora para o questionamento acima o patrocínio ao carnaval de rua exercido por uma marca de cerveja que, ao decidir pelo investimento, demonstrou pouco se importar com os eventuais danos a sua imagem.
A marca em referência ignorou totalmente as interferências que a "diversão popular" traz na cidade, os percalços causados no trânsito que tiram o direito de ir e vir do cidadão e deixam certas vias sem acesso a veículos de serviços essenciais, tais como ambulâncias e carros de bombeiros.  Desprezaram também os hábitos mais primários de higiene ao não dimensionar que as aglomerações regadas à cerveja têm o poder de provocar necessidades mais frequentes de urinar e que a quantidade de banheiros não daria a devida vazão. Isso sem falar nos demais atos pouco elogiáveis, entre os quais se enquadram o assédio, o atentado ao pudor e a depredação do patrimônio alheio.
É óbvio que à empresa não pode ser imputada a responsabilidade pela falta de educação da população e pela incompetência dos órgãos públicos na organização do evento, todavia, ciente dessas duas variáveis, deveria ser mais cuidadosa com seu patrimônio mais valioso: sua marca.
Para os que acham que a função do patrocínio é simplesmente influenciar o aumento de vendas no curto prazo, a ação pode ser considerada um sucesso, porém, assevero que se trata de uma visão bastante míope acerca dos potenciais benefícios de um patrocínio.
Na verdade, a ação foi na contra mão do que as empresas mais avançadas no que tange ao marketing e ao branding estão praticando, que é trabalhar para que suas marcas sejam percebidas como responsáveis por fazer um mundo melhor e guiadas por valores de respeito e sustentabilidade.
Claro que vender é importante, mas não vislumbrar que esse maior consumo imediato e "não consciente" pode vir a trazer consequências na saúde das pessoas ou até mesmo redundar em restrições/proibições desses eventos, o que influenciaria as vendas futuras, é desprezar o poder do marketing.
Além do que, à medida que uma marca de cerveja não trabalha um posicionamento que a diferencie na mente do consumidor, ela passa a disputar um mercado fortemente baseado na guerra de preços, onde a fidelidade é não se faz presente.
Curiosamente, muitas dessas empresas que investem suas verbas em atividades desse tipo, pouco se comovem com propostas de patrocínios relacionadas a fomentar o esporte como um agente de educação.
As razões para essa opção são difíceis de precisar, podem estar realmente relacionadas à obtusa confusão entre marketing e vendas, ou pior, à convicção de que um maior contingente de praticantes de esportes – e consequentemente mais consciente - inibiria o consumo de seus produtos, o que também não condiz com a realidade.



terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Falta de gentileza gera...


Entre as inúmeras variáveis para se avaliar um profissional, existe uma que costuma esclarecer muito a respeito da pessoa com quem estamos lidando, essa não se refere à facilidade de comunicação, raciocínio lógico, conhecimento técnico ou demais valências que costumam ser investigadas num processo seletivo. Refiro-me à educação, e não se trata aqui da educação formal, tampouco de etiqueta, ambas também valorizadas. Falo da educação social, aquela que se adquire em casa, desde os mais tenros tempos.
Uma das melhores formas de avaliá-la é observando o comportamento em relação ao retorno de uma ligação ou de uma mensagem. 
Não me refiro aqui às mensagens de spam ou ligações de telemarketing, aliás, os próprios remetentes e as células de call center ativo já contemplam um elevado índice de abordagens sem sucesso em suas campanhas. Porém, quando se trata de um contato pessoal/individual, fica difícil encontrar explicações para a atitude, ou não.
Nem vou entrar no mérito do tempo de demora para os retornos e respostas, pois apesar de achar que esses deveriam ocorrer num prazo máximo de 24 horas, entendo que as atribuições do dia-a-dia e a elevada carga de trabalho, o que inclui receber e responder mensagens, fazem com que o tempo fique cada vez mais escasso, sem contar que muitas vezes se deixa para responder mais tarde e o esquecimento acontece.
Corrobora para a tese de que a “não resposta” está relacionada à falta de educação social, a observação dessas pessoas em outras ocasiões, tais como refeições, reuniões e eventos sociais.
A outra possível causa para essa atitude pouco gentil poderia estar relacionada à personalidade, digamos, interesseira, dessas pessoas, ou seja, só respondem àquilo que possa lhe trazer um benefício futuro. É uma possibilidade, sem dúvida, todavia, denota falta de inteligência, pois o julgamento acerca do interesse de algo deve sempre ultrapassar o curto prazo.
Sobre isso, vale narrar um episódio que ocorreu recentemente acerca de uma consulta que me fizeram sobre um profissional com quem eu já tinha trabalhado e que, por uma dessas coincidências do destino, concorria para uma posição de alta responsabilidade numa organização multinacional cujo representante dos acionistas me conhecia. Mais coincidência ainda tinha sido o fato de que pouco tempo antes da consulta, havia eu tentado contato algumas vezes com o tal candidato, que não respondeu nenhuma das tentativas, fato que junto com os elogios sobre a sua capacidade foi relatado ao representante dos acionistas.
Soube depois que o citado cidadão foi preterido, pois a empresa que o estava entrevistando não tolera atitudes relacionadas à má conduta social, entre as quais, obviamente está incluída a falta de retorno nos contatos.
O exemplo que ilustra o raciocínio foi extraído de forma proposital do ambiente corporativo, isso porque no esporte a incidência desse tipo de postura é ainda bem frequente e sem grandes consequências, o que pode ocorrer devido ao costume com esse tipo de atitude, no entanto, esse tipo de hábito, assim como o de chegar atrasado aos compromissos, tem feito com que eventuais patrocinadores não enxerguem nos potenciais patrocinados a devida credibilidade para investirem suas verbas de marketing.
Falta de visão de longo prazo/inteligência? Falta de educação social? Todas as respostas anteriores?




terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Debate sobre os atletas transgêneros

A Superliga de vôlei feminino 2017/18 apresentou uma novidade que pode fazer com que a modalidade assuma uma posição de protagonismo na história do esporte brasileiro. Refiro-me à inclusão da atleta Tiffany Abreu, que nasceu sob o gênero masculino, mas que através de tratamentos se transformou numa mulher e como tal disputa a competição. Apesar de o seu caso ser o mais comentado, vale citar que no vôlei de praia no Brasil há outra jogadora nas mesmas condições, assim como em outras modalidades ao redor do mundo.
Como era de se esperar, os debates sobre o tema vão se tornando cada vez mais frequentes e interessantes, pois envolvem estudos científicos, opiniões de esportistas e, de nossa parte, reflexões que envolvam os aspectos mercadológicos e operacionais.
Pelo lado dos que defendem a permanência da atleta no esporte de alto de rendimento, temos o endosso da medicina através dos critérios aceitos pelas entidades que regem o esporte.
Deve ser descartada também qualquer tipo de suspeição em relação à intenção de a jogadora ter feito a transformação com o intuito de auferir vantagem no esporte, afinal não parece ser razoável supor que alguém esteja disposto a sofrer os mais diversos tipos de discriminação, exposição e riscos para tão pouco.
Quero também dizer que, apesar do bom nível técnico da atleta, não vejo uma situação de desequilíbrio inconteste por sua presença nas quadras.
Todavia, ainda diante dos argumentos discorridos a favor da jogadora, tendo a ser contra a sua participação, o que se deve a uma única razão: o fato de a atleta ter chegado à estrutura e à altura que tem por ter nascido e crescido sob a influência de hormônios masculinos. Claro que existem mulheres até mais altas e mais fortes, essas, porém, chegaram à estrutura que têm de forma, digamos, natural.
O problema nesse caso é a possibilidade de no futuro haver toda uma preparação para o surgimento de atletas trans com tamanha vantagem em relação às mulheres, que essas venham a desaparecer das competições.
Ressalve-se aqui que tal raciocínio se aplica ao voleibol e demais modalidades nas quais uma estrutura maior auxilia no desempenho.
Como solução para o imbróglio foi ventilada a hipótese da adoção de cotas nos times, só não entendi se nesse caso a proposta contempla a extinção das competições segmentadas por gêneros ou se trata da simples inclusão de um número definido de pessoas nessa condição em uma equipe. De antemão acho bem complicada a operacionalização desse regime, além do que, pode abrir espaço para pleitos de inclusão através de cotas para outros tipos de minorias além das relacionadas ao gênero.
A possibilidade de inclusão de mais categorias segmentadas por gênero - não nos esqueçamos das pessoas que nasceram sob o gênero feminino e se transformaram em homens – pode até ser avaliada, mas não acredito que haja espaço, tampouco um número significativo de atletas nessas condições, para que no curto prazo sejam organizadas competições capazes de despertar o interesse do público, dos patrocinadores e da mídia, até porque está cada vez mais difícil atrair um grau razoável de atenção do público, em função de o mercado vir disponibilizando cada vez mais conteúdos - não apenas de cunho esportivo - enquanto o dia permanece com 24 horas.
Sei que pode parecer duro proibir alguém de atuar em esportes de alto rendimento pelo simples fato de ter buscado uma forma de se sentir feliz. Contudo, a abertura do precedente nesse caso deixaria o esporte  vulnerável a novos tipos de artifícios para se auferir vantagens, o que aumentaria o risco de descaracterizar essa atividade já tão infestada por subterfúgios relacionados ao doping e à corrupção.
Por fim cabem dois esclarecimentos: (i) independentemente de a minha opinião divergir do regulamento atual, defendo o cumprimento do mesmo enquanto estiver em vigor; (ii) minhas desculpas por eventuais erros de nomenclatura sobre gêneros, eles são frutos de minha ignorância.