terça-feira, 23 de julho de 2024

Quais são as potências no Triathlon?

Assim como vem fazendo desde 2012, a Jambo Sport Business acaba de publicar um estudo sobre o Triathlon nos Jogos Olímpicos, o qual, além de trazer números e curiosidades sobre a modalidade no evento, passa um panorama acerca do grau de desenvolvimento dos principais países.
No caso desse esporte, os indicadores que permitem essa avaliação compreendem, além do quadro de medalhas, o número de atletas qualificados, cujos critérios, ainda que venham mudando um pouco ao longo do tempo, costumam privilegiar o desempenho durante o ciclo olímpico, de forma que cada país classifique de zero a três atletas por edição. A propósito, essa correlação "qualidade esportiva da nação vs. quantidade de atletas classificados" tem ficado mais fidedigna pelo fato de a prova de team relay – revezamento onde que cada equipe é composta por dois homens e duas mulheres – ter passado a fazer parte do programa olímpico desde os Jogos de Tokyo.
Entre os pontos interessantes detectados no estudo, que pode ser acessado através do link https://www.linkedin.com/posts/halfen_o-triathlon-nos-jogos-ol%C3%ADmpicos-2020-2024-activity-7218603900801589251-IHNZ?utm_source=share&utm_medium=member_desktop, destacamos os seguintes:
- Em Paris, teremos mais uma vez a participação de 55 atletas por gênero, representando 42 países. Será a edição com mais nações disputando a modalidade.
- Desde 2000, 59 nações já tiveram representantes nesse esporte, o que pode ser considerado um número pequeno, visto que há cerca de 170 federações filiadas à World Triathlon, entidade que rege a modalidade globalmente.
- Debutarão nessa edição:Islândia, Guam e Togo.
- Dos 110 triathletas que estarão em ação, 48 (43,6%) participaram dos Jogos Olímpicos em Tokyo – em 2020 esse percentual era de 39,1% em relação à competição anterior no Rio.
- Apenas a Alemanha e a França levarão equipes completas para os Jogos de 2024 (três representantes no masculino e três no feminino).
- Os países que mais classificaram atletas na história do Triathlon nos Jogos Olímpicos são: Austrália, EUA e Grã-Bretanha. O Brasil aparece nesse quesito em 11º lugar com 27 participações - melhor país da América do Sul e 3º das Américas.
- A triathleta com mais participação na modalidade é Flora Duffy de Bermuda, que em Paris competirá pela 5ª vez, buscando repetir a vitória que obteve na edição anterior.
- Nas seis edições em que o Triathlon esteve presente nos Jogos Olímpicos, dezesseis países já foram medalhistas.
- A Grã Bretanha é o país que mais conquistou medalhas, tanto de ouro (três) como no somatório geral (oito), aqui seguida por Austrália, Suíça, EUA e Nova Zelândia.
- Embora, seja possível correlacionar o número de participação com o de medalhas, o que não deve ser creditado a razões meramente probabilísticas, há situações que invalidam a assertividade total da hipótese. A França, por exemplo, sempre levou equipes completas no masculino, mas só veio a conquistar sua primeira medalha em Tokyo, e ainda assim no revezamento, onde foi a terceira colocada.
A partir do dia 30 de julho, veremos se a correlação preconizada se fortalece, o que acreditamos que sim. Quem sabe, também, não vemos o Brasil conquistar sua primeira medalha olímpica no Triathlon, o que não seria nenhuma surpresa para os que acompanham o trabalho que vem sendo feito pela confederação.
Superação com responsabilidade!





terça-feira, 16 de julho de 2024

Title sponsor no futebol


Os que acompanham o futebol e, por que não dizer, o esporte de uma forma geral, certamente notaram um expressivo aumento na quantidade de competições que passaram a ter patrocinadores dando o nome ao evento. É o que chamamos de title sponsor.
Diante desse cenário, um estudo produzido pela Jambo Sport Business se propôs a analisar o comportamento das marcas que investem nesse tipo de patrocínio.
O detalhamento da amostra que contempla cem campeonatos/ligas da primeira divisão, além de outras informações adicionais, podem ser acessados pelo link: https://www.linkedin.com/posts/halfen_title-sponsor-nas-principais-ligas-de-futebol-activity-7216356884214128640-cCbH?utm_source=share&utm_medium=member_desktop
No estudo é possível ver que o setor de apostas é o mais presente, são 26 campeonatos que têm alguma empresa do segmento nominando a competição. Na segunda posição aparece o setor financeiro com 13,5%, seguido pelo de telecomunicações com 12,5%. A razão para se ter números fracionados é devido ao fato de o campeonato paraguaio ter duas marcas dividindo a propriedade, daí o trabalho ter considerado cada uma dessas como meia.  
Ao analisarmos o histórico desse tipo de investimento, notamos que há realmente uma espécie de “onda” no que tange a setores. Se nos primórdios poucos campeonatos adotavam essa iniciativa, hoje apenas 24% não a utilizam, sendo que alguns por razões legislativas e outros, como é o caso do inglês, por entender que a receita auferida não compensa as eventuais perdas dos clubes. 
Ao longo do tempo já tivemos o domínio das empresas de telecomunicações, vimos o crescimento das instituições financeiras e agora chegou a vez das empresas do ramo de apostas.
Se o title sponsor atende aos intentos das marcas que o adotam é difícil responder, até porque não sabemos quais são eles, tampouco sabemos se os gestores têm essa intenção contemplada no planejamento estratégico que definiu a adoção desse patrocínio como parte de algum objetivo de marketing. 
Mais grave, a própria mensuração é complexa, fruto da dificuldade de expurgar a influência das demais ações da mesma marca, da reação da concorrência e da escolha dos indicadores de avaliação. Quais seriam eles? Recall? Receita? Quem sabe market share? Lucratividade? As opções são vastas, além do que, a resposta pode não ser única, tampouco generalista, já que as características de cada país são diferentes sob os mais diversos focos, seja no que tange ao perfil socioeconômico da população, à competitividade de dado mercado e até à maturidade do mercado.
Sobre essa última, vale citar que entre os 50 campeonatos que geram mais receitas, apenas 14% deles não têm title sponsors e quando vamos reduzindo a amostra até chegar aos TOP 10, esse percentual aumenta para 40%, conforme pode ser visto no gráfico ao lado. Tais índices dão legitimidade à hipótese de que, quanto mais madura a liga, menor a necessidade de comercializar a propriedade que estamos analisando.
No caso das marcas de empresas de apostas – atuais líderes nessa propriedade de marketing -  a resposta sobre a eficácia do investimento se torna ainda mais difícil, pois, se nas empresas de telecom, bancos ou até de cervejas, é possível identificar diferenças de atributos ou mesmo de posicionamento, nas bets a confusão é grande, o que faz com que a aquisição dos direitos aos nomes de eventos prescinda mandatoriamente de fortes ativações, encarecendo assim a operação.
O trabalho, fornece ainda uma análise sobre a evolução dessa propriedade no Brasil, cita as parcerias mais longevas no mundo, comenta o case da Premier League que extinguiu a comercialização do title sponsor, além de comentar sobre segmentos inusitados que já fizeram o uso desse tipo de patrocínio. 





terça-feira, 9 de julho de 2024

Lojas emblemáticas

 
Alguém sabe o que significa uma loja emblemática?
O termo é relativamente novo e surgiu através da tradução do termo “tiendas insígnias”, que é a denominação utilizada no México pela cadeia varejista chamada Oxxo, uma rede de mercados de proximidade, ou loja de bairros, como queiram. 
Trata-se da iniciativa de “envelopar” a loja com símbolos de algum fornecedor, de modo que ela fique com características que remetam à marca deste. Só no Brasil, já são 10 lojas que ficaram “emblemáticas” por algum período. Entre as marcas que aderiram a esse tipo de ação, podemos citar a Bauducco no período do Natal - quando customizou a loja em formato de panetone – a Nestlé no período de Páscoa, a Yoki na época de festas juninas e a Ambev no carnaval.
Segundo dados da Oxxo, esse tipo de ação fez com que as lojas participantes tivessem um crescimento expressivo dos itens da marca que vestiu a loja e aumento no ticket médio.
Apesar da exaltação à iniciativa, a qual acho muito interessante, creio que também devam ser avaliados os eventuais reflexos à identidade da Oxxo. Admito haver nessa provocação um preciosismo, ou talvez, protecionismo à marca, afinal, não podemos ignorar que a imagem unificada propicia sinergia e menores custos de mídia, principalmente às voltadas ao institucional.
Falando em mídia, as tais lojas emblemáticas são consideradas uma ação de retail media para o varejo físico. A propósito, como o blog tem uma audiência diversificada, explicarei a seguir que vem a ser essa expressão. Na verdade, trata-se de uma estratégia de publicidade, que se utiliza da inteligência de dados para a promoção de campanhas mais assertivas, principalmente as digitais. 
Pelo fato de a indústria ter “acesso” às informações relativas ao comportamento dos clientes, ela consegue ofertar algo, digamos, mais customizado.
Ah, mas os Ads tradicionais também permitem a segmentação dos clientes. 
Sem dúvida, porém, não há termo de comparação entre uma segmentação feita pelo varejista que tem rastreada toda a jornada de consumo do cliente com outra que se baseia em plataformas de terceiros.
Nesse modelo de negócio, ou de mídia, o anunciante paga ao varejista um dado valor para que seus produtos sejam anunciados na plataforma.
Remetendo ao varejo tradicional, seria algo parecido com o pagamento que a indústria faz para ter seus produtos nos encartes físicos e virtuais, porém, com um direcionamento mais focado no público-alvo e com mais chances de conversão.
Cumpre relatar que muitos dos programas de relacionamento desenvolvidos pelos varejistas permitem que o hábito de compras, mesmo em ambientes físicos, seja analisado e redunde em ofertas especiais para os clientes de forma segmentada. A diferença é que na situação narrada, há a necessidade de o consumidor acessar aplicativos e/ou ler mensagens que lhe chegam por diversas plataformas de comunicação para tomar ciência e validar a oferta, enquanto que no retail media no comércio eletrônico, ele já se encontra no ambiente de compras.



terça-feira, 2 de julho de 2024

Tá ruim? Então troca!

Não gostei da demissão do técnico Fernando Diniz!
Expurgar o aspecto “gratidão”, por mais esforço e frio que eu queira ser, não seria possível, embora isso aqui pouco importa, já que o artigo terá um foco voltado essencialmente à gestão.
Os resultados estavam ruins. Ok, mas qual o intervalo de tempo que estamos nos referindo? Ou melhor, qual deve ser o intervalo padrão para avaliação? Difícil responder!
No final de temporada, quando é possível iniciar um novo ciclo? No meio dela, quando não há tempo hábil para se instaurar e treinar uma filosofia de jogo diferente, a qual, não necessariamente será melhor?
O momento da competição e as pretensões também não podem ser desprezados, o que aumenta a quantidade de variáveis e a complexidade da decisão.
Podemos incluir nessa equação, as opções de reposição, considerando aqui as perspectivas no que tange o relacionamento com os jogadores, se o estilo de jogo é compatível com as características do elenco, se tem a “cara” do clube e qual a capacidade financeira para se trazer um profissional adequado às necessidades.
Deixo propositalmente de fora um ponto que admito ter forte influência, mas que não deveria existir: a pressão imposta pelos torcedores, cada vez mais inflados pelas redes sociais. Pior, uma pressão advinda da emoção, a qual deve ficar de fora tanto no que diz respeito à gratidão, como na insatisfação proporcionada pela sequência de resultados ruins.
Por mais que a emoção esteja presente no esporte, ela não combina com gestão, onde a frieza - não confundir com ausência de empatia - é fundamental para o atingimento dos objetivos.
Qual organização nunca passou por uma crise, substantivo utilizado para identificar uma situação na qual a realidade está divergente da expectativa, sendo que, muitas das vezes, essa última é otimista demais. Não digo que seja o caso do Fluminense, mas, não custa incluir essa variável na reflexão.
Seria apropriado demitir um CEO que deu uma lucratividade recorde no exercício anterior por não ter performado bem nos dois trimestres posteriores? 
Acrescentamos nesse exercício de imaginação o fato de que o tal CEO é extremamente querido por sua equipe, a qual confia plenamente nele. 
Claro que de fora é fácil criticar, dentro de um clube, sei bem como é, a pressão é enorme. Mas em empresas, por mais que não tenham torcedores ou mesmo que não exista a imprensa e blogueiros alimentando o assunto, a pressão também é enorme, pois mexe com dinheiro de acionistas e emprego de colaboradores, tanto os próprios como os dos fornecedores.
A opção de trocar o gestor sempre irá existir, o que pode acontecer inclusive por vontade dele, todavia, essas mudanças não podem vir sem o devido estudo, sem se ter havido, mesmo que hipoteticamente, um plano de sucessão. 
Fazer concessão à pressão denota falta de convicção no planejamento elaborado, se é que ele existe.





terça-feira, 25 de junho de 2024

Não, obrigado!


Se você estivesse trabalhando numa boa empresa e fosse convidado para assumir o mesmo cargo em uma empresa que seja referência na sua área de atuação, você aceitaria? Depende, né?
E se essa empresa "referência" oferecesse também um contrato maior tanto em termos de compensação financeira como de duração? Difícil recusar, não é mesmo?
E se a capacitação técnica dos colaboradores que você liderará nessa “nova” empresa for superior à dos atuais? 
Pois bem, situação similar aconteceu recentemente com Dan Hurley. Quem???? Explico: Hurley é o atual técnico da equipe de basquete da UConn – University of Connecticut – e recebeu um convite para ser o treinador do Los Angeles Lakers, franquia que tem entre seus jogadores ninguém menos do que LeBron James. A proposta girava em torno de US$ 70 milhões por seis anos, o que equivale a um pouco mais do que o dobro do contrato com a UConn.
Ainda que comandar a equipe campeã da NCAA  - National Collegiate Athletics Association, o campeonato universitário dos EUA -, seja algo extremamente atrativo, não há, em tese, como comparar com a oportunidade de dirigir uma das equipes mais vitoriosas da liga de basquete mais rica e popular do mundo, tendo, consequentemente, a oportunidade de conviver com os melhores jogadores de basquete do planeta.
Diante de todo esse enredo, os leitores devem estar ávidos para saber quando ele assume o Lakers e, provavelmente, fazendo algum prognóstico quanto ao sucesso, ou não, do treinador.
Podem parar! Hurley recusou a proposta.
As causas, nunca é uma só, estão ligadas às raízes que ele tem em Connecticut junto à família, além, talvez, de um certo receio de assumir a responsabilidade de fazer um time de estrelas, sem resultados expressivos no momento, virar a chave e triunfar.
Analisando a decisão, é certo que não teremos unanimidade. As opiniões variarão em função do jeito de ser de cada um, dos anseios, dos valores, do momento de vida e da necessidade econômica, entre outros fatores. Não há decisão certa ou errada antes de tomá-la.
Todavia, mesmo reconhecendo que há motivos coerentes para a recusa, cabe ao Lakers refletir a respeito do ocorrido, pois, se uma proposta é recusada, a responsabilidade pode não ser apenas da parte que a rejeita, principalmente em situações recorrentes. É preciso, sobretudo, entender o que vem acontecendo tanto em termos de resultados como de atratividade de talentos, os quais podem até estar interligados.
Todo esse relato que tem o esporte como pano de fundo pode, e deve, ser replicado ao mundo corporativo. Entender a razão pela qual as pessoas não aceitam ofertas aparentemente boas, por exemplo, é fundamental para se gerir qualquer organização. Engana-se quem acha que os “bastidores” das corporações ficam restritos a elas. Hoje em dia, há até sites que trazem comentários e críticas de colaboradores sobre suas ex e atuais empresas, isso sem falar nas redes sociais que auxiliam na conexão entre pessoas, o que pode ajudar no esclarecimento de dúvidas sobre qualquer assunto, inclusive na vida dentro de alguma empresa.
Portanto, ainda que uma boa remuneração seja um fator de extrema relevância para avaliação de uma proposta, há pontos, muitos deles aparentemente sem importância, que nortearão o processo de decisão.




terça-feira, 18 de junho de 2024

Bens de consumo no futebol

 
A mudança do controle acionário da SAF do Cruzeiro de Minas Gerais trouxe na sua esteira a entrada de várias marcas de bens de consumo como patrocinadoras do clube. 
Será, então, que a indústria de bens de consumo “descobriu” que estar no futebol é uma excelente iniciativa? Lamento informar que não! O futebol já vem ao longo do tempo atraindo empresas desse setor, embora, excetuando uma fase em que a Coca-Cola patrocinou simultaneamente dez clubes brasileiros, as marcas desse segmento nunca “dominaram” o mercado da modalidade, tal como acontece agora com as empresas do setor de apostas ou no passado, quando as marcas do ramo de telecomunicação e do financeiro eram ostentadas nas camisas dos times.
Trata-se, na verdade, de uma situação provocada pelo fato de o atual dono da SAF do Cruzeiro ser proprietário também da 5ª maior rede de supermercados do Brasil, os Supermercados BH.
Podemos então inferir que o prestígio do proprietário foi responsável por atrair marcas como Unilever, Kodilar, Vilma Alimentos e outras que ainda podem chegar? Em tese sim! Afinal, um enorme e eficiente canal de vendas é interessante para as marcas, sendo importante para elas estar bem com o “dono”. É fato também que a negociação de patrocínio com o clube pode incluir, em função da "estreita" relação deste com o varejo, entregas que vão desde a garantia de sempre se ter produtos do patrocinador fazendo parte do sortimento das lojas, até posições privilegiadas no que tange à exposição, isso sem falar numa eventual pactuação de quantidade a ser comprada.
Falta acrescentar nessa análise a situação do supermercado, pois, ao contrário do que muitos pensam, há reflexos na sua operação. Não vou entrar no mérito de que a provável garantia de presença dos produtos dos patrocinadores pode vir a tirar o espaço de outros da mesma categoria com uma capacidade de rentabilidade maior. Prefiro partir da premissa que todas elas são marcas preferidas ou, na pior das hipóteses, sem rejeição. Todavia, não dá para ignorar que as habituais ações promocionais – trade, bonificação, publicidade, descontos, etc. do fornecedor/patrocinador - serão impactadas, o que pode vir a afetar a atratividade desses produtos na rede varejista. 
É preciso ter em mente que as áreas de marketing da indústria costumam elaborar o orçamento/planejamento, definindo um montante de verba que será dedicado individualmente aos principais varejistas e que a hipótese de aumentá-la é bastante remota. 
Vale lembrar que essa forma de operação de patrocínio não é inédita. Um caso emblemático ocorreu na Fórmula 1, mais precisamente com o piloto Pedro Paulo Diniz, filho do Abílio Diniz que era o principal acionista do Pão de Açúcar. Basta olhar uma foto do carro do piloto para perceber a presença de várias marcas de bens de consumo, as quais agiam da forma narrada acima.
Previamente mensurar as consequências dessa condição para a rede é impossível, mesmo porque, ela também pode se beneficiar do fato de as marcas estarem mais divulgadas, atreladas ao esporte e, quem sabe, ter um incremento de venda em função disso, daí não caber nenhum tipo de crítica à iniciativa.  
O que se pretende com o artigo é alertar para o fato de que as marcas de bens de consumo não passaram a ver o futebol como um espaço perfeito para se investir, elas apenas aproveitaram a oportunidade de alocar suas verbas de forma diferente do convencional.






terça-feira, 11 de junho de 2024

Mercado tropical


O processo de expansão costuma ser um dos mais sensíveis quando se fala em gestão. Embora, a “expansão” seja na maior parte das vezes associada à abertura de novos pontos de vendas, é importante esclarecer que não se resume a isso, pois vai desde o aumento da quantidade de produtos e categorias por parte das marcas até a questões geográficas, e é sobre isso que versará o artigo.
Se uma simples mudança de bairro já é capaz de demandar esforço, imaginem uma mudança de cidade, estado e/ou de país.
Nos casos de expansão no âmbito nacional, ainda que existam problemas relacionados às diferenças culturais, perfil do público e complexidades ligadas à distribuição, a situação é um pouco menos complicada do que a que ocorre nas expansões internacionais, nas quais, além dos obstáculos citados anteriormente, há o aspecto da adaptação. Por viver no Brasil, chamo esse processo de tropicalização, o qual nada mais é do que a adequação de algo de sucesso em outros países às características brasileiras.
E quando me refiro a características, incluo as instabilidades provenientes da legislação tributária e trabalhista, da política e, não menos importante, do entendimento do mercado - hábitos/costumes dos consumidores e concorrência, além dos canais que muitas vezes não são usuais em outras partes do mundo.
É fato que grande parte dos fracassos ocorre em função de se seguir uma espécie de “receita de bolo”, talvez exitosa em outras regiões, mas, quem sabe, desconectada da realidade local. Tal situação acaba se agravando pelo receio de se questionar ou mesmo propor “adaptações” à matriz.
Questões relacionadas à nomenclatura são cruciais, visto serem importantes tanto no que diz respeito à pronúncia, como também em relação a propiciar uma associação melhor ao produto.
A própria definição do mix de produtos, no caso do varejo, nos fornece lições interessantes. Quando o Walmart veio para o Brasil era possível encontrar tacos de golfe sendo ofertados na área de vendas. O mesmo varejista, ao incorporar postos de serviço, tentou implantar o sistema de self-service, o qual já tinha sido testado por aqui anos antes pelas distribuidoras tradicionais e reprovado.
Por outro lado, vimos no mercado de marcas de luxo, as joalherias Tiffany e Cartier, passando a aceitar pagamentos parcelados, o que não acontecia em outros países. Aliás, o mesmo ocorreu no comércio eletrônico.
Eximir a responsabilidade da matriz nos casos de fracassos não seria totalmente justo, afinal, muitas vezes as orientações de lá advindas não permitem qualquer tipo de contestação, provavelmente têm a certeza absoluta de que o que deu certo em alguns países dará certo aqui.
Não podemos, no entanto, ignorar que há situações em que o “country manager”, seja pela pouca experiência corporativa, seja pelo receio de confrontar seus superiores, acaba adotando as orientações como verdades absolutas e incorporando as diretrizes ao dia a dia da empresa.
Ser visto como contestador, de fato, não é das melhores imagens a se ter, porém, deixar o barco afundar em função desse receio é uma situação muito pior.



terça-feira, 4 de junho de 2024

Um novo público-alvo

No último final de semana ocorreu mais uma edição da Maratona do Rio, um evento que, além da própria prova de 42 km, abrigou em dias diferentes competições de 5 km, 10 km e 21 km.
Ao observarmos o perfil dos corredores, as ações das marcas patrocinadoras e as iniciativas dos organizadores do evento, podemos concluir que houve uma significativa mudança quando comparamos com o período em que esse tipo de prova surgiu no nosso cotidiano.
Se no passado, grande parte dos praticantes tinha como objetivo principal a performance e a superação de limites agressivos - o que era bastante desafiador visto que os métodos de treinamentos, os equipamentos e a alimentação não eram tão avançados -, hoje vemos um público mais preocupado com a saúde e estilo de vida, ainda que, evidentemente, queiram melhorar seus recordes pessoais.
A própria concessão de medalhas talvez ilustre com propriedade essa mudança. Se antes só os vencedores eram premiados, temos agora medalhas para todos que concluírem as provas.
As redes sociais, por sua vez, também ajudaram essa metamorfose ao guiarem as diretrizes mercadológicas das marcas. Tempos excelentes, supostamente, são menos interessantes para as marcas do que número de seguidores, os quais são cultivados graças, entre outras coisas, ao exemplo proporcionado por pessoas “normais” no que tange à adoção da disciplina e hábitos saudáveis.
No vácuo desse processo, novos serviços vão sendo incorporados ao dia a a dia, como é o caso dos fotógrafos que passam horas nos locais de treinamento registrando os “momentos”, vendendo os produtos “instagramáveis” e fazendo com que o lado fashion seja parte integrante da atividade esportiva.
Interessa a uma marca de material esportivo ou alimentos, por exemplo, ter mais embaixadores que sejam pessoas "copiáveis" e inspiradoras para a  maioria da população, do que atletas com performances que poucos conseguem chegar perto. Esse quadro não significa que o aspecto “aspiracional” deva ser abandonado como argumento dos gestores de marketing, mas sim que a aspiração tem limite e esse passou a ser melhor mensurado quando se decide pela prática de uma atividade e/ou pelo consumo dos produtos inerentes a ela.
Os próprios organizadores de provas, reconhecendo esse novo público, passaram a oferecer “benefícios” aos que se propõem a pagar mais caro pelo preço da inscrição. São kits diferenciados em termos de produtos, direito a largadas "mais confortáveis" etc, tal qual uma companhia aérea faz em relação à segmentação de assentos e até ao direito à escolha desses. Conseguem, grosso modo falando, transformar uma commodity em produto.
Quer dizer que a performance está sendo relegada a um plano inferior? Por um lado, sim, já que a lucratividade é o combustível para a saúde das marcas e dos organizadores, daí a busca por um público disposto a pagar. Porém, não podemos desprezar que parte dessa rentabilidade é reinvestida no esporte, o que pode propiciar o surgimento de mais e melhores atletas.
Embora a Maratona do Rio tenha servido como inspiração para o presente artigo, é fato que o novo boom das corridas é um fenômeno mundial. Um estudo do rastreador de exercícios Strava nos mostra que a proporção de corredores que competiram em maratonas quase dobrou em sua plataforma em 2022 quando comparado com o ano anterior.
Mais do que uma competição de atletismo, as corridas de rua se transformaram também num espaço de diversão e relacionamento, que abriga pessoas com interesses em comum. No centro de Londres, o Friday Night Lights, um clube de corrida, se posiciona como uma “noitada”, na qual grupos percorrem os percursos ao som de música e sinalizadores coloridos.
Todas essas iniciativas corroboram para que a modalidade atraia cada vez mais um público jovem. Em 2019, apenas 15% das pessoas que terminaram a Maratona de Nova Iorque tinham 20 anos, em 2023, essa percentagem atingiu 19%. Na Maratona de Los Angeles, esse índice passou de 21% para 28% no mesmo período.
Para os que viveram os primórdios das corridas, tais mudanças soam um pouco estranhas, todavia, contanto que leve as pessoas à prática do esporte e a uma vida realmente saudável, tá valendo. Há espaço para todos!








terça-feira, 28 de maio de 2024

Extensão de linhas e de marcas


A estratégia de extensão de linhas ou de marcas consiste na transferência do nome de uma marca reconhecida e de sucesso em algum produto/serviço para outros, visando com isso se aproveitar da transferência de credibilidade e posicionamento da marca existente.
Embora aparentem similaridade, existe diferença entre os dois tipos de extensão.
A de linhas consiste basicamente no aproveitamento de uma marca de sucesso para outros da mesma categoria, o que pode se dar através de novos sabores, embalagens, fragrâncias e funcionalidades.
A Coca-Cola quando lança a versão zero do refrigerante Coca-Cola, embalagens com volumes diferentes das que estão disponíveis no mercado ou outros sabores, exemplifica bem o processo de extensão de linha.
Em termos de fragrâncias, a Lux traz em seu portfólio sabonetes com aromas que vão desde a tradicional lavanda até a sedutora flor de lótus.
No segmento de produtos esportivos essa prática também é comum, vide a Asics que conseguiu destaque neste mercado através dos calçados para voleibol e hoje é uma das líderes e referência no segmento running.
Já no caso da extensão de marcas, a ampliação envolve categorias diferentes às do produto original. Aqui podemos citar:
A Gillette, que se aproveita do sucesso dos aparelhos de barbear para lançar as linhas de espuma, loção e desodorante.
No setor de alimentos, a Nestlé utiliza as marcas de seus chocolates, iogurtes e biscoitos para os seus sorvetes.
Voltando ao segmento esportivo, a Asics, citada acima, trabalha também a extensão de marcas quando passa a oferecer produtos de vestuário.
A Omo, líder de mercado na categoria de sabão em pó, incorporou uma rede de lavanderias ao seu portfólio. Nesse caso, chamamos de “estratégia de horizontalização” por se tratar de outro negócio.
Já os casos narrados acima de Gillette, Nestlé e Asics se referem a “estratégias de verticalização”.
Entre os principais benefícios das iniciativas de extensão estão: 
- a possibilidade de se conseguir mais espaço nas prateleiras físicas/digitais do varejo; 
- arregimentar novos clientes;
- eventuais melhores negociações junto aos varejistas graças à capacidade de se atingir a margem total objetivada através do mix delas por produto;
Além desses benefícios, o advento da "extensão" é interessante por substituir os processos de construção de marca, que demandam maior investimento, tempo e mais incerteza quanto à aceitação. 
Todavia, embora possa aparentar uma suposta simplicidade, essa iniciativa envolve expressiva complexidade por exigir minuciosos estudos e pesquisas segmentadas sobre valor da marca,  características das novas categorias, perfil da concorrência, viabilidade econômica e posicionamento a ser adotado, entre outros.
Cumpre relatar que já em 2010, as extensões de marca correspondiam a 95% dos produtos disponíveis no mercado americano e 77% do mercado brasileiro. Apesar desses números significativos, não podemos ser categóricos sobre o grau de sucesso de tais iniciativas, pois algumas vezes, essas causam o enfraquecimento da marca em função de uma eventual pulverização na mente do consumidor, além do sempre presente risco de descaracterização.




terça-feira, 21 de maio de 2024

Profissional ou amador?

Ao analisarmos o histórico dos Jogos Olímpicos, notaremos que durante muitos anos os atletas “profissionais” foram preteridos, pois a carta olímpica preconizava que as competições deveriam ser entre amadores.
No decorrer do tempo, as restrições começaram a cair. Muitos questionamentos passaram a ser feitos acerca da subjetividade do que poderia ser considerado “amador”, o que deu margens para uma série de manobras criativas para driblar a proibição.
Além disso, a busca por deixar o evento mais atrativo envolve, evidentemente, a participação dos melhores atletas. Como destaque para essa evolução, temos o time de basquete dos EUA – o Dream Team - nos Jogos de 1992 em Barcelona, que se utilizou dos jogadores que atuavam na NBA, fato que pode ter sido uma espécie de abertura para para a entrada formal de atletas profissionais nas competições olímpicas, afinal, não faz sentido alguém se dedicar a uma modalidade, renunciar a uma série de fatores, e não ser compensado financeiramente.
Para Paris 2024 teremos outro fato inédito: a premiação que será concedida pela World Athletics, entidade que gere o atletismo no mundo. Polêmico!
Estaria essa iniciativa indo contra os princípios do olimpismo? Talvez, mesmo porque já houve muita concessão a respeito. Todavia, se pensarmos no macro ambiente do esporte, temos que outras competições da mesma modalidade costumam oferecer premiações, inclusive para quebra de recordes, o que pode fazer com que alguns atletas prefiram priorizar outros eventos em detrimento dos Jogos Olímpicos. Diante desse raciocínio, é de se esperar que outras modalidades adotem a mesma iniciativa sob o risco de verem o “concorrente” em estágios mais avançados no que tange à atratividade.
Ainda que um certo purismo possa influenciar a minha opinião sobre a iniciativa, tendo a concluir que se trata de um movimento sem volta e que tenha mais benefícios do que malefícios.
Por mais que o esporte envolva valores e princípios nobres, o mercado tem o poder de “arbitrar” as devidas evoluções, daí a necessidade de ser gerido com as mais avançadas técnicas de marketing e por profissionais capacitados e experientes.
Aproveitando o gancho da discussão, mudemos o foco para o cotidiano popular, onde a expressão “profissionalismo” virou uma espécie de sinônimo de comprometimento, ao passo que “amadorismo” representa o inverso.
Nesse contexto, não temos como, sequer cogitar, que a maioria dos atletas que eram amadores não se entregavam de forma absolutamente engajada nos treinos e nas competições. Por outro lado, quantos “profissionais”, que recebem para executar suas funções, agem de maneira negligente e sem o devido empenho?

 

terça-feira, 14 de maio de 2024

Uma hora aqui, a outra ali

Ficar arraigado a uma convicção não dando oportunidade a eventuais mudanças seja no âmbito de uma corporação, de uma equipe esportiva ou mesmo de si próprio é de péssima valia, pois, além de denotar teimosia, em nada ajuda na melhoria dos respectivos desempenhos.
Tal constatação parece inquestionável, a dúvida se aplica ao grau de flexibilidade que se deve ter em relação às opiniões contrárias, as quais, nem sempre são proferidas por pessoas com a devida capacitação.
Além do que, a pecha de teimoso costuma ser imposta a todos que pensam ou agem diferente do que é sugerido por alguém. Qual técnico de futebol, por exemplo, nunca foi chamado de teimoso? Faz parte!
Ainda assim, melhor errar pelas próprias convicções do que pelas de terceiros.
Há, no entanto, outra situação que é muito mais preocupante do que a do convicto, ou teimoso, como preferirem. Refiro-me à do sujeito que muda toda hora de opinião, conduta e planos.
No meio corporativo, esse tipo de postura fica ainda pior quando se lidera uma área ou mesmo uma empresa, pois, além de deixar evidente a falta de objetividade e de consciência acerca do que se pretende atingir, passa aos colaboradores uma enorme sensação de insegurança, além de desânimo, visto que, provavelmente aquilo que hoje se executa, amanhã não servirá para nada, já que o rumo certamente mudará. Isso sem falar nos prejuízos advindos com a formação de equipes -  quantidade e características dos colaboradores - o que consequentemente influencia no dimensionamento das instalações.
As causas dessa, digamos, pouca firmeza, pode estar relacionada pelo prisma pessoal à insegurança do gestor, à sua incapacidade de suportar pressão ou mesmo à sua pouca maturidade corporativa, a qual, por sua vez, dá vazão a instintos megalomaníacos provenientes da já mencionada insegurança.
Mas ainda que algum líder tenha o perfil citado acima, a existência de um planejamento estratégico bem estruturado contribui sem dúvida para minimizar a compulsão por mudanças. O problema é que muito provavelmente tal líder nem saiba direito o que vem a ser estratégia, confundindo-a muitas vezes com tática, aliás, algo bastante comum naqueles que baseiam sua forma de gerir em mudanças frequentes em curto espaço de tempo. 
É inadmissível que empresas não tenham claramente definidas sua missão, visão e valores, que não mapeiem corretamente seus stakeholders, que não utilizem ferramentas de análises como SWOT, que não estabeleçam os respectivos pilares, objetivos e mapas estratégicos. Sem isso, qualquer tentativa de firmar indicadores e metas é mera retórica e dão margem para o contínuo processo errátil de gestão sem conteúdo.
Por fim, vale esclarecer que, embora o texto tenha confrontado teimosia com mudanças frequentes, há um cenário ainda pior: o do teimoso que insiste em mudanças frequentes.






sábado, 4 de maio de 2024

Centenário

Como exaltar a tradição e a solidez propiciada por estar há 100 anos no mercado sem parecer antiquado? Como inovar sem perder a essência? Como se adaptar às novas gerações sem renunciar às características que consolidaram a marca?
Bem-vindo ao desafio de gerir marcas centenárias!
Independentemente dos desafios assinalados, trata-se de uma ótima oportunidade para os gestores de marketing, afinal é um privilégio poder trabalhar com marcas fortes, principalmente numa data em que há espaço para se contar sua jornada, enaltecendo fatos marcantes que vão desde a fundação a momentos de superação e conquistas. Ah, e isso tudo dentro de um contexto mercadológico.
A história do desenvolvimento de certos produtos, se bem contada, tem o poder nos transportar no tempo e entender o dinamismo do mercado, além de criar vínculos emocionais, os quais são de suma importância para as marcas.
O esforço pela manutenção da qualidade, se narrado de uma forma agradável e simpática, consegue também dar autenticidade a atributos que têm o tempo como aliado de sua associação com as marcas.
A própria inclusão de aspectos nostálgicos, além de reforçar a característica longeva, é capaz de despertar emoções que nos remetem aos tempos vividos por nossos antepassados queridos. 
A propósito, tão difícil quanto chegar aos 100 anos, é realizar uma campanha a respeito que consiga sair do lugar comum de se criar “selos comemorativos” ou algum anúncio do fato.
Aqui vale ser citado o caso da Disney, que ao longo de 2023, ano do seu centenário, entre outras ações, lançou diversas coleções de produtos em parcerias com marcas como Adidas, Havaianas, Funko, Kimberly-Clark, Lego etc. reforçando ainda mais sua imagem através do eficiente cobranding e da grande quantidade de eventos de lançamentos. Podemos também falar do Itaú, que desenvolveu um novo projeto de design no ano centenário, ou da Danone, que inundou as ruas de Paris com cartazes de seus primeiros anúncios.
Não faltam bons exemplos, inclusive de marcas que no ano em que completaram um século não tinham mais a liderança de market share de outrora, porém, graças ao posicionamento bem trabalhado, conseguiram ocupar ao longo dos anos, a liderança em algum atributo na mente do seu público-alvo.
Paro por aqui a reflexão sobre marketing, a qual dessa vez serviu apenas como pretexto para o objetivo principal do artigo dessa semana: falar que hoje, 04 de maio, meu pai Nathan Halfen, estaria – está – completando 100 anos, razão que me levou inclusive alterar, de forma inédita, o dia da publicação do blog de terça para sábado.
As saudades não acabam, por vezes são atenuadas pelos afazeres do cotidiano. Todavia, ainda bem, há horas em que elas voltam forte e de forma comovente, como acontece quando quero dividir uma alegria, nas ocasiões em que as palavras dele certamente me fariam enxergar uma saída para os momentos de angústia e em eventos cuja sua ausência física é atenuada pela certeza da presença de alguma forma, exemplifico com a conquista da Libertadores pelo Fluminense.
Dói, é fato, hoje não poder dar um abraço, um beijo ou mesmo presenteá-lo com alguns livros - seu presente favorito - os quais certamente seriam devorados simultaneamente em poucos dias...
Para finalizar, volto ao marketing, agora usando o Nathan para ilustrar o conceito de posicionamento, pois, depois de tantos anos consegue ainda se manter na mente do seu público-alvo (família e amigos) como um exemplo de retidão, generosidade e apego aos princípios.
Feliz aniversário, Papai! Obrigado por tudo, mesmo!!!



terça-feira, 30 de abril de 2024

Torcer contra ou a favor?

Nas situações em que um time rival enfrenta um adversário de outra cidade, estado ou país, uma dúvida pode pairar sobre a cabeça do torcedor: para quem torcer? Ok, para muitos essa dúvida não existe, sendo certo que torcerá para o adversário do rival local. A maioria, acredito!
Sadismo, receio de ser zoado pelos torcedores rivais ou mesmo antipatia estão entre as razões que levam à tal decisão. Legítimas? Sem dúvida. Coerentes? Talvez.
Sim, a coerência mencionada guarda relação com uma factível racionalidade, a qual serve para amplificar os argumentos advindos da “implicância” com torcedores rivais e/ou da busca de uma suposta superioridade que, provavelmente, só se consegue sentir através do time que torce.
Essa racionalidade tem como base as receitas que são auferidas através das premiações pelas conquistas de títulos, os quais servem como impulso para compra de produtos licenciados, adesão a planos de associação e assinatura de pay-per-view. Tais cifras já deixam os resultados financeiros bem interessantes, o que permite equacionar eventuais dívidas e reforçar o time.
Deduzindo que as conquistas também têm a capacidade de formar torcedores, seja através da conversão dos simpatizantes, seja através das crianças em idade de decidir pelo time que irá torcer, a equação fica ainda mais estimulante.
Aliás, no cenário ainda pouco maduro do marketing no esporte, a quantidade de torcedores pode ainda servir como justificativa para que alguma empresa decida patrocinar o time com “tantos torcedores”, esperando, talvez, que essa “massa” fique simpática ou venha a consumir sua marca, mas isso é discussão para outro artigo.
Ok, diante de tantos argumentos parece não haver dúvida de que o melhor a se fazer é sempre torcer contra o rival. Só que não é bem assim, por uma
simples razão: a falta de rivalidade, ou melhor, de competidores fortes, tem a capacidade de fazer com que a atividade fique desinteressante e afaste não apenas os torcedores dos clubes com menos chances, mas também os dos vencedores. Tentando ser bem sucinto, o que quero dizer é que ganhar é ótimo, mas para que as competições se mantenham sustentáveis é preciso que a competitividade, que muito tem a ver com a imprevisibilidade, seja preservada.
Na teoria, essa é a descrição do processo que explica as nuances envolvidas nas decisões sobre para quem torcer – aliás, como se isso fosse influenciar no resultado.
Na prática, não existe a menor pretensão de o torcedor levar em consideração qualquer tipo de racionalidade, até porque, os próprios gestores carecem de informações que poderiam ajudar na formatação de um planejamento estratégico bem estruturado, o qual permitiria definir objetivos e metas de forma mais assertiva.
Há perguntas que, por mais que frequentem algumas rodas de discussão, estão longe de serem respondidas, entra as quais, destaco: Qual a quantidade de times competitivos que o campeonato brasileiro comporta? Quais os fatores determinantes para se propiciar competitividade? Dinheiro, torcida, tradição? Além de outras ligadas a indicadores econômico-financeiros...quem sabe um dia isso não é considerado...







terça-feira, 23 de abril de 2024

Violência digital

Embora não goste muito da expressão “marketing digital”, fato que se deve à interpretação de que em grande parte das vezes os aspectos “digitais” se sobrepõem ao marketing e assim contribui para a crescente distorção sobre o que efetivamente é marketing, é preciso admitir que os resultados propiciados pelas pessoas, áreas e empresas que exercem as funções do “marketing digital” têm sido de extrema importância para as marcas, produtos e serviços.
Afinal, alcançar o público-alvo em locais, situações e momentos diversos é,  sem a menor sombra de dúvida, um dos objetivos dos gestores de marketing, visto que o princípio da distribuição, inclusive de mensagens, é parte crucial na elaboração das estratégias mercadológicas.
Todavia, a busca pelo alcance tem muitas vezes passado do limite, criando situações invasivas e desconfortáveis.
Acessar um site e se deparar com anúncios frequentes que interrompam a leitura não parece ser benéfico nem para o anunciante, tampouco para o leitor. Não se ignora com essa constatação a necessidade de se remunerar as plataformas, isso é inquestionável, a observação tem como objetivo provocar a reflexão para eventuais exageros que podem ser maléficos tanto para aqueles que anunciam como para os próprios provedores de conteúdo. Afinal, quantas vezes desistimos de ler algo em função de anúncios que "tapam" o conteúdo? Quantas vezes procuramos outro portal na esperança de uma navegação mais amigável, o que inclui menos anúncios “hostis”.
Penso que a conta a ser feita pelos portais deveria levar em consideração não apenas a receita advinda da comercialização de mídia, mas também métricas relativas às revisitações, fidelidade e retenção. 
Outra ação por parte do “marketing digital” que tem causado bastante incômodo é a prática de envio de e-mails de forma insistente. Basta fazer um simples cadastro em algum site para, a partir daí, receber uma enxurrada de ofertas. Ainda que menos invasiva, lembra as ações de telemarketing que, de tanto incomodarem, passaram a ser coibidas por órgãos de defesa ao consumidor, o que pode servir de alerta para a turma do marketing digital.
Mesmo sendo mais fácil de evitar, graças aos mecanismos de descadastramento e bloqueio, espanta perceber que os responsáveis por esse tipo de ação não se preocupam com uma eventual possibilidade de se criar um cenário de rejeição às marcas que insistem nessa abordagem, o que talvez seja fruto da falta de conhecimento de marketing.
Se no universo da mídia tradicional a frequência das inserções é parte fundamental para a obtenção de um bom retorno de mídia – obviamente combinado com a cobertura – no ambiente de correio eletrônico, ela não tem a mesma utilidade, ao contrário, tem o poder de provocar o cancelamento e acabar com um canal de comunicação.
Cabe aqui uma frase atribuída ao médico Paracelso, que viveu no século XVI: “a dose faz o veneno”.






segunda-feira, 15 de abril de 2024

O que os tenistas estão usando?

Dando continuidade à iniciativa de analisar o material utilizado pelos jogadores e jogadoras melhores ranqueados, apresentamos aqui a edição de 2024 do costumeiro estudo a respeito.  Observe-se que foram considerados os rankings publicados em 18 de março de 2024, assim como as marcas utilizadas pelos tenistas nesta data.
Encontramos no estudo quarenta nações com representantes em pelo menos um dos rankings. São trinta e dois no ranking da ATP (Association of Tennis Professionals), trinta no da WTA (Women's Tennis Association) e vinte e dois em ambas as relações. Somando os dois ranking, temos que os cinco países com mais tenistas são: EUA – 26, Rússia – 21 França – 15, Itália – 12 e Rep. Tcheca – 11.
Desde que o estudo vem sendo realizado, as alterações de um ano para o outro costumam ser tímidas. A edição desse ano, no entanto, nos brinda com inúmeras situações inéditas, dentre as quais destacamos:
Os EUA, que desde a primeira edição do material era a nação com mais representantes entre as TOP 100, perdeu essa posição para a Rússia no ranking feminino. Em terceiro se mantém a Rep. Tcheca com oito, agora seguida de perto pela China com sete.
A queda abrupta da utilização das raquetes da Head entre as tenistas da WTA, fato que não ocorreu no masculino. A Wilson continua a ser a marca mais utilizada em ambos os naipes.
A Adidas se tornou a marca de uniforme mais utilizada pelos tenistas da ATP, desbancando a Nike que ocupava a liderança desde a edição 1 do estudo. No feminino a marca norte-americana se manteve como a mais utilizada.
O mesmo processo ocorreu em relação a calçados, onde a Asics na ATP quebrou a sequência da Nike e se tornou líder. Já na WTA, não houve essa inversão. 
Vale observar que, enquanto a quantidade de marcas de raquetes decresceu ao longo do período – em 2017 eram dez e em 2024 são sete no masculino e seis no feminino – processo inverso ocorreu no que tange às marcas de uniformes.
O gráfico ao lado permite constatar o significativo crescimento citado acima. No masculino eram 25 marcas em 2017, agora são 33, já no feminino passou de 16 para 25. Esse fenômeno pode ser creditado à entrada de marcas até então mais voltadas a outros públicos, o que parece ser uma tendência, visto que até nos Jogos Olímpicos os uniformes de desfiles, principalmente, começaram a ostentar marcas diferentes das tradicionais esportivas.
Apesar dessa massiva entrada de marcas, a liderança em 2024 se divide entre Adidas e Nike com 13,5% cada, seguidas por Lotto (9,5%), Joma (7%), Yonex (6,5%) e Lacoste (6%). Seis jogadores usam uniformes sem marca, três de cada gênero.
Em relação aos calçados, não se identificou nenhuma variação significativa no número de marcas ao longo do tempo. No presente estudo, encontramos dezenove marcas usadas pelos jogadores dos dois rankings – uma a menos do que em 2023.  São dezesseis no feminino, dezoito no masculino e quinze em ambos. A marca mais utilizada continua sendo a Nike com 19%, seguida por Adidas com 14,5%, Asics com 14,0%, Lotto com 9,5% e Joma 7%. 







terça-feira, 9 de abril de 2024

A polarização e os influenciadores

O tema que será colocado para discussão diz respeito à utilização por parte de algumas marcas de influenciadores cujo posicionamento político é público. Ilustra essa situação, a contratação do Felipe Neto para participar de uma campanha do chocolate Bis, da Mondelez.
Polarizado como está o país – será que o mundo? -, era certo que ocorreriam batalhas nas redes sociais e, pasmem, que algumas pessoas deixassem de consumir o produto enquanto outras passassem a consumir compulsivamente. 
Não é razoável desprezar que o aspecto “aspiracional” é um componente importante a ser contemplado nas campanhas de marketing. O raciocínio “se fulano usa é porque é bom” ou “quero fazer igual a beltrano”, de fato, pode até fazer sentido na decisão de compra, principalmente no segmento esportivo, afinal, equipamentos, alimentos e suplementos acabam tendo algum tipo de influência na performance. 
Contudo, derivar a escolha do que se vai consumir em função da coincidência ou não da predileção política beira o hebetismo. Mesmo porque, eventuais boicotes que redundem em sucesso pesarão inicialmente sobre os colaboradores das empresas que, certamente,  precisarão cortar custos para atenuar as quedas nas receitas.
Vale relatar que nem no futebol, onde a paixão é um componente sempre presente, há fortes rejeições e aceitações em relação às marcas que patrocinam os clubes.
Creditar essa situação exclusivamente à polarização também não seria correto, é preciso colocar nessa conta uma certa insegurança que leva os fanáticos a buscarem tudo de ruim no oposto e tudo de bom no que admiram, deixando que a generalização se sobreponha à capacidade de raciocinar e de ser honesto consigo mesmo. Sabe-se lá quais serão as consequências existenciais se tiverem que admitir que seu lado pode errar e que o outro pode acertar.
Por outro lado, não se pode eximir de responsabilidade as marcas que contratam pessoas capazes de gerar rejeição aos seus produtos, até porque, é função dos gestores de marketing entender seu público-alvo e cuidar da marca como um ativo, o que exige atenção ao comportamento da sociedade. É fato também que a situação chegou num grau tão alto de exagero que até o ato de anunciar numa emissora já deixa a marca suscetível a um cancelamento.
Cientes desse universo conturbado, a realização de pesquisas e o monitoramento das redes sociais são iniciativas mandatórias antes de se aprovar uma campanha. Nesse processo, caso detectem que a quantidade de fanáticos pode vir a influenciar negativamente os resultados da empresa, é salutar evitar o uso de pessoas polêmicas, salientando que há situações em que o objetivo é justamente causar o acirramento como forma de se posicionar.
Aliás, com o avanço da tecnologia, hoje é possível monitorar uma infinidade de indicadores durante as campanhas, permitindo que correções sejam realizadas de forma bastante rápida.
Até admito que, da mesma forma que a utilização de personalidades em campanhas de marketing possam servir para posicionar positivamente uma marca e/ou aumentar a demanda dos seus produtos, a recíproca pode também ser factível. É do jogo! 
Todavia, a situação chegou num ponto extremamente perigoso. A Ypê, marca de produtos de higiene e limpeza teve seus produtos boicotados pelo fato de seus donos terem doado dinheiro para a campanha de um candidato à presidência do Brasil. Na outra mão, os eleitores desse candidato lançaram uma campanha preconizando o boicote das marcas que anunciavam no Fantástico - programa da Rede Globo -, por, supostamente, a  emissora apoiar o outro candidato. Só não perceberam que entre esses anunciantes estava a marca de sabão em pó Tixan, a qual pertence a Ypê, coitada.
O mais curioso nessa história toda é constatar que marcas que valorizam as práticas de ESG e que zelam pela reputação, possam a ser malvistas por terem em algum momento utilizado algum influenciador com posições políticas declaradas, sendo que muitas das posições políticas, seja as dos influenciadores, seja as dos seus seguidores e críticos, careçam de base para ser formada.