terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Kobe Bryant - as lendas inspiram


Não há muito mais o que escrever sobre a carreira de Kobe Bryant, a imprensa e as redes sociais certamente esgotaram o assunto após o trágico acidente.
Há, no entanto, dois pontos que acredito serem dignos de destaque sobre o prisma de marketing e gestão.
Um deles diz respeito ao perfil “trabalhador” do jogador, pois, mesmo sendo portador de um talento raríssimo, tanto que foi galgado à NBA com 18 anos sem sequer ter passado pelo basquete universitário, o atleta nunca abriu mão da dedicação aos treinos e aos jogos.
Talvez pareça uma observação óbvia, afinal de contas a dedicação à atividade que se exerce deveria ser algo usual, mas todos sabem que não é o que acontece na prática, ainda mais com aqueles que conseguem com o talento suprir eventuais “desleixos”.
Poderíamos citar aqui centenas de exemplos de atletas que, apostando no talento, abriram mão do empenho nos treinamentos e desperdiçaram seus potenciais, mas não perderemos tempo com esses, o foco aqui é a lenda Kobe Bryant.
Mais importante até do que o efetivo aproveitamento do binômio “talento + dedicação” é o exemplo que deixou, afinal uma das responsabilidades dos ídolos, se é que não a principal, é servir como modelo para os mais jovens, daí a razão de se exaltar essa característica, infelizmente tão rara.
Nesse ponto, Kobe Bryant exerceu com maestria sua posição, passando por cima de dores e problemas físicos para cumprir seus compromissos.
O segundo ponto a ser exaltado foi o fato de ele ter jogado sempre na mesma equipe, o Los Angeles Lakers, ressaltando que não faço aqui  apologia ao “amadorismo romântico” em detrimento ao profissionalismo, ao contrário, acho que muitas vezes o desenvolvimento passa por mudanças de equipe/empresa. O que exalto aqui é a importância de fortalecer a relação e a identidade com um time e dessa forma aumentar sua idolatria perante seus torcedores, além de provocar nos rivais um sentimento de admiração e respeito.
Em sua última temporada, Bryant, convivendo com inúmeros problemas físicos, se poupou de alguns jogos em casa para estar presente no maior número de cidades possíveis e assim poder se despedir de mais fãs. Nessas partidas foi possível notar que até os torcedores rivais o reverenciavam por sua técnica e forma de ser.
Tal postura de lealdade ao time também deveria servir de exemplo para alguns jogadores - e até técnicos  - que juram “amor eterno” a alguma equipe e logo depois aparecem exaltando o novo time como se aquele fosse realmente o verdadeiro amor de sua vida. Não percebem que agindo assim conseguem ao mesmo tempo perder a admiração dos torcedores que acreditaram que naquele discurso de falsidade e, sobretudo, despertar a desconfiança dos torcedores do novo time.
Reitero que sou um defensor ferrenho do profissionalismo e, como tal, acredito piamente que a busca por “melhores condições” profissionais deve fazer parte da carreira de todas as pessoas, só chamo a atenção para o fato de que dentro dos atributos incluídos em “melhores condições” está a gratidão àqueles que lhe proporcionaram condições de progredir, ou seja, algumas mudanças podem até trazer mais dinheiro, porém podem manchar a admiração conquistada e gerar desconfianças.
É grande a tentação de terminar o texto por aqui,  está muito difícil escrever sobre uma lenda que sempre admirei, todavia o artigo ficaria incompleto se deixasse de registrar outro aspecto que marca a vida do jogador e que deixa ainda mais dolorida a perda: o amor e a dedicação à família. No momento do acidente, Kobe levava sua filha de treze anos para jogar uma partida de basquete, não precisamos dizer que a escolha da menina teve como causa a admiração que nutria pelo seu pai, mais do que um herói, uma lenda para ela. 
Sei bem, felizmente, o que é isso. 
Fiquem com Deus!








terça-feira, 21 de janeiro de 2020

O aceite do azeite

A necessidade de verbas tem feito com que os clubes de futebol abram mão de certos conceitos e, por que não dizer, até de princípios quando o assunto é patrocínio. 
Esperar que a escolha do patrocínio leve em consideração a valorização da marca do clube, ou mesmo que se avaliem as consequências do co-branding, parece utópico num cenário em que o equilíbrio financeiro se faz cada vez mais essencial à sobrevivência das organizações esportivas. 
Diante desse cenário não causa surpresa que clubes levem calotes e/ou vejam seus patrocinadores aparecerem em páginas policiais. 
A pergunta que se faz quando surgem esses casos é: será que não analisaram o candidato a patrocinador? 
Em grande parte dos casos esse tipo de análise não acontece, afinal o dinheiro é fundamental para a sobrevivência. Em outras ocasiões a avaliação até ocorre, porém sem o devido cuidado e/ou embasamento, mesmo porque em muitas dessas vezes o simples fato de o “patrocinador” estar presente em outro clube já demonstra para o “avaliador” que o potencial parceiro é firme. 
Na realidade, penso que estar em muitos clubes pode ser até um sinal de alerta no caso de marcas pouco conhecidas. Explico: como o montante da verba de marketing costuma ser estabelecido em função de um percentual das receitas – percentual este que varia em função do ramo de atividade, ler em http://halfen-mktsport.blogspot.com/2015/01/qual-verba-de-marketing.html – quanto mais alto o investimento, maior deve ser o faturamento, o que não é comum em empresas menores. Além desse simplório cálculo, uma conversa para entender as intenções da empresa deixa mais clara a real sustentabilidade da iniciativa aos olhos de quem conhece o mercado. 
Outro motivo de preocupação deve ser a origem dessa verba, visto haver o risco de processos em esferas criminais caso o dinheiro venha de práticas ilegais. 
Para deixar mais evidente o abismo que existe entre as gestões das organizações esportivas que possuem visão estratégica e as que só buscam o imediatismo, vale narrar o caso do Dallas Mavericks que, após quase seis meses sem patrocinador na camisa – única franquia na NBA nessa condição - anunciou recentemente o acordo com o Chime, um banco digital. 
O patrocínio em si não tem nada de excepcional, o que chama a atenção é que o Mavericks faz sua prospecção voltada basicamente para o mercado de tecnologia. Seu antigo patrocinador, por exemplo, era o aplicativo 5miles, especializado em promover a compra e a venda de bens entre pessoas. A ideia de seguir nesta linha é deixar a franquia cada vez mais associada aos conceitos de inovação e pioneirismo, o que serve como atributo de posicionamento. 
É claro que a comparação proposta é injusta, afinal as realidades econômicas das entidades e dos próprios países são distintas, o que faz do imediatismo uma constante na operação de quem sofre por falta de dinheiro, contudo isso não significa que se deva aceitar qualquer tipo de patrocínio, até porque o risco de calote e/ou de associação com marcas que venham a denegrir clubes centenários pode vir a inviabilizar definitivamente tais organizações.



terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Patrocínio se nega?

O anúncio do patrocínio da rede varejista Havan ao Vasco da Gama provocou nas redes sociais uma discussão que julgo bastante emblemática, principalmente a título de reflexão sobre as relações das empresas com o esporte.
A ala que se posiciona contra alega que o dono da empresa tem posições extremadas em defesa da direita, fato que guarda certa incoerência com as tradições populares do clube patrocinado.
Ora, inicialmente é preciso ficar claro que a pessoa jurídica não pode ser confundida com a pessoa física, ou seja, mesmo sendo a empresa de um dono a marca é outra, e como tal deve ter vida própria.
Claro que há o risco da contaminação, contudo essa avaliação requer análises menos rasas do que as que estão sendo feitas pelos ditos especialistas.
Um bom parâmetro que contribuiria nessa decisão pode vir do próprio resultado das lojas, isto é, se a participação de mercado da mesma está sofrendo com o jeito "extravagante" do seu dono, isso sem falar nas pesquisas de mercado para avaliação de eventual rejeição.
Já a discussão que coloca o clube como um bastião das tradições populares não me parece razoável pois o futebol é um esporte popular, não sendo o atributo popularidade um monopólio deste ou daquele clube, portanto, a eventual busca por se posicionar desta maneira contraria o princípio básico do posicionamento:  ser diferente na mente dos públicos-alvos.
Confrontando os opositores do patrocínio estão os que defendem a iniciativa com a alegação de que o clube precisa de dinheiro e, dessa forma, não pode recusar nenhum tipo de verba. Argumento que, no meu mode ver, reforça a imoral frase de que os fins justificam os meios e sobre a qual discordo veementemente.
Por mais que se necessite de dinheiro, é preciso pensar no longo prazo, ou seja, de nada adianta receber uma verba significativa hoje se houver um risco considerável de a base de torcedores não aumentar de forma sustentável.
Ressalto que falo em tese e não em relação ao caso da Havan.
Feitas as devidas argumentações, teria tudo para terminar o artigo sem uma posição definitiva sobre o tema, visto faltarem pesquisas e informações sobre o patrocínio, inclusive em relação aos valores. Entretanto, a declaração do dono da empresa ao anunciar a parceria: "Quero dizer para todos os vascaínos que em 2020 vai ter um patrocínio da Havan aqui. Está confirmado. É um presente de ano novo para todos os vascaínos. Obrigado", me faz tender a ser contra a iniciativa, na medida em que o empresário interpreta o patrocínio como um presente, ou seja, está fazendo um favor para os torcedores e não pensando no retorno que as partes poderão auferir, demonstrando claramente que não enxerga o esporte como uma ferramenta de marketing.





terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Então rescinde!

Um dia após fazer o lançamento dos novos uniformes, em tese para 2020, o Cruzeiro anunciou que irá rescindir o contrato com o fornecedor.
Apesar de estranho em função do espaço de tempo, trata-se de um direito que ambas as partes contemplam em contrato. Faltou acrescentar à informação acima que não apenas a coleção era nova, mas também o fornecedor, pois, seria a estreia da Adidas no clube mineiro em substituição à Umbro.
A inusitada situação lança luz sobre as mudanças que o mercado de fornecimento de material esportivo vem passando nesses últimos anos.
Após um aquecimento causado não apenas por uma avaliação um pouco distorcida sobre o retorno dos investimentos, mas também, no caso do Brasil, pela proximidade de megaeventos como Jogos Olímpicos e Copa do Mundo, as marcas passaram a ser mais criteriosas em suas ações e propor modelos de negócios diferentes.
Se no passado os principais clubes recebiam das marcas valores fixos mais variáveis baseados em performances esportivas e de  vendas, além de um número de peças de vestuário que permitia suprir com folga suas necessidades, agora a maioria ganha basicamente a parte variável e/ou as peças – mesmo assim numa quantidade inferior ao que era no passado.
É natural que toda mudança traga insegurança e insatisfação em um primeiro momento, o que se agrava em clubes de futebol, pois as alterações costumam ocorrer em mandatos presidenciais diferentes, o que deixa a gestão que sofre a mudança vulnerável quando comparada com a anterior. Em resumo, além do impacto que é causado no orçamento em função da redução de receitas, há que se justificar internamente pelo ocorrido, pois, certamente será colocado em dúvida o poder de negociação dos envolvidos.
O problema se agrava na medida em que não há mais muitos caminhos para buscar por se tratar de um movimento das marcas globais, o qual acaba se refletindo nas menores. Diante desse quadro, passa a surgir como opção as chamadas “marcas próprias”, aliás, bastante forte no Brasil.
Os clubes que aderiram a essa “modalidade” se dizem satisfeitos, devendo ser ressaltado que nenhum deles está entre os chamados doze grandes e tampouco têm parte significativa da torcida fora do próprio estado.
Dessa forma fica difícil afirmar se, caso o Cruzeiro venha a optar por ter uma marca própria, ele conseguirá tão bons resultados, até porque, uma marca global traz entre seus benefícios intangíveis o conceito de co-branding - a associação com marcas de relevância.
O mais curioso nessa história é que os clubes que optam pelas “marcas próprias” usam como uma das justificativas para a troca: "a distribuição ruim das grandes marcas", e o pior é que tanto a imprensa quanto a opinião pública embarcam nesse sofisma, certamente por desconhecerem que para haver distribuição é necessário que o varejo compre, isto é, para o produto chegar ele precisa ser pedido. Partindo desse corolário, um clube como o Cruzeiro deve refletir bastante se será capaz de ter uma equipe comercial que atenda boa parte dos pontos de vendas onde precisa estar presente para suprir seus torcedores e, aí sim, se terá condições de entregar.
Independentemente dos desafios que se enfrentará com esse tipo de fornecimento, a avaliação sobre sua efetividade passa antes de tudo por um comparativo entre as alternativas disponíveis – se é que existem -, tal avaliação deve vir despida de qualquer tipo de paixão ou parametrização com o que era no passado, e tendo como premissa básica a consciência de que o mercado mudou.