terça-feira, 24 de novembro de 2020

Avaliação de treinadores

A todo o momento estamos tomando decisões em nossas vidas. Se pararmos para pensar, já acordamos diante de duas opções: levantamos imediatamente ou ficamos na cama um pouco mais, sendo que até o “pouco mais” carece de decisão.
No caso de um gestor, esse tipo de situação é mais frequente, pois, além das que precisa tomar no âmbito pessoal, ainda há as que lhe são impostas pelo cargo que exerce e, que muitas vezes, envolvem situações bastante delicadas como, por exemplo, a de desligar algum colaborador em função do desempenho.
E como avaliar o desempenho? Nas empresas mais estruturadas, a situação é um pouco menos complexa, pois se costumam estabelecer indicadores e acompanhá-los. Evidentemente que há falhas, visto beirar o impossível expurgar fidedignamente os fatores exógenos à operação, tais como os aspectos macroeconômicos, a agressividade da concorrência, os índices de confiança na economia, entre outros. Além disso, existem as variáveis mais subjetivas que, por mais que se busquem ferramentas de avaliação, são difíceis de apurar de forma que venham a ser determinante em decisões da magnitude de um desligamento, aqui listamos: o relacionamento com pares, superiores e equipe, potencial de desenvolvimento, motivação, etc.
Agora passemos para o esporte, mais especificamente o futebol, onde há uma grande incidência de desligamentos de treinadores ao longo da temporada, o que permite provocar algum tipo de analogia com o ambiente corporativo, o qual, pela maior atenção aos aspectos de gestão de recursos humanos, poderia servir de referencial para a modalidade.
Claro que a pressão externa sofrida pelos gestores corporativos é infinitamente menos agressiva do que a dos esportivos, que têm a torcida como uma espécie de conselho de administração muitas vezes violento acompanhando e cobrando resultados. Mas, independentemente dessas e de algumas outras diferenças, vale buscar a reflexão sobre o processo de avaliação de treinadores.
Estabelecer um percentual de desempenho a ser cumprido, o que já foi até tentado, poderia ser uma solução, contudo, há a influência da sequência de jogos se o período for curto, isto é, dependendo do nível dos adversários a métrica fica comprometida.
Haveria, sem dúvida, mais justiça, se uma meta fosse acertada entre as partes, e essa contemplasse um período maior, porém, dessa forma, as eventuais medidas corretivas estariam sendo relegadas, o que poderia levar a um desfecho irremediável.
Além do desempenho, existem os fatores relacionados ao que no meio chamam de “vestiário”, que nada mais é do que o clima organizacional, o qual acaba tendo também relação com o desempenho. 
Devemos ainda incluir a visão de longo prazo, mais ligada à integração entre a base e o elenco principal. No mundo corporativo, seria algo na linha do planejamento de carreira e sucessões.
Tomar decisões sobre a continuidade ou não de um profissional é realmente bastante difícil, porém, a elaboração de um processo de avaliação – mesmo que não seja garantia de assertividade – ajuda a minimizar os problemas. 
Auxilia a decisão, um cuidado maior com as contratações, pois, assim como os desligamentos, essas ficam mais propositivas se levarem em conta as competências que se buscam para aquele profissional.
Por fim, resta acrescentar que processos de rescisões mais criteriosos contribuem para deixar as empresas e os clubes "mais desejados" por potenciais candidatos, além de proporcionar aos que lá estão uma maior segurança, o que é também um fator que influencia a retenção de bons profissionais.




terça-feira, 17 de novembro de 2020

As cores, os meses e o marketing

Na coletiva de imprensa após o jogo Brasil e Venezuela pelas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, o jogador Everton Ribeiro apareceu com uma máscara em alusão à campanha Novembro Azul. O apetrecho, além de ser na cor em referência, ainda trazia o nome da cor, o que remetia de alguma forma para a companhia aérea. Atrás do jogador havia um backdrop com a marca da Gol, patrocinadora da Confederação Brasileira de Futebol. 
O fato nos fornece ótimos temas para a reflexão.
Um deles diz respeito à importância de se apoderar de uma cor para a marca, pois, permite que esta venha a ser lembrada em variadas situações, aliás, ter o nome de uma cor também concede inúmeros benefícios à marca. 
Outro ponto interessante de se analisar é a relação mês/cor como mote para campanhas de prevenção. Os números destas têm se mostrado bastante interessantes, contudo, seria importante avaliá-los ao longo do ano e não apenas nos citados meses, ou seja, é preciso se certificar de que o incentivo para se cuidar no período especificado não cause um efeito de “não ida” ao médico fora da campanha. 
Até que ponto é válido incutir o fator sazonalidade em algo que, em tese, não precisaria desta condição? Além da preocupação com o possível relaxamento/adiamento citado acima, ainda há os problemas ocasionados pelas maiores procuras por consultas e exames de forma concentrada, o que pode prejudicar o atendimento. 
A existência de picos de demanda, embora seja boa no momento em que eles estejam acontecendo, não é tão interessante quando há um grande espaçamento entre eles. O varejo, atento a esse tipo de problema, está sempre incentivando o fortalecimento de datas que possam trazer fluxo frequente aos seus estabelecimentos, de forma a não depender apenas do Natal, vide os aspectos comerciais incutidos na Páscoa, Dia das Mães,  Dia dos Pais, Dia dos Namorados, Dia das Crianças, Black Friday, isso sem falar nos “aniversários” dos estabelecimentos.
A atenção à saúde de forma preventiva é de fundamental importância, isso não cabe discussão, o que trazemos à reflexão é a real eficácia de se dedicar um mês para isso, ressaltando que existem apenas doze, os quais já estão todos utilizados para esse fim. Maio, por exemplo, já abriga duas causas: prevenção de acidentes de trânsito, usando o amarelo e hepatite com a cor vermelha. A propósito, o mesmo ocorre com as cores, o amarelo mencionado anteriormente é também a matiz para as hepatites virais em julho e o suicídio em setembro. 
Em vista dessa evidente saturação, é preciso que se encontre a diferenciação não apenas através do binômio cor/mês, sob o risco de não haver a desejada eficácia. Assim como as marcas, as causas precisam buscar soluções como as descritas por Renée Mauborgne e W. Chan Kim no livro “A estratégia do oceano azul” – olha a cor aí de novo –, no qual preconizam a procura por mercados inexplorados, muitas vezes através uma simples mudança de posicionamento.






terça-feira, 10 de novembro de 2020

Irresponsabilidade culposa?

A polarização que parece tomar conta do mundo, por incrível que possa parecer está trazendo algo de bom para o marketing, ou melhor, para o entendimento do marketing no que tange à importância do posicionamento.
O planejamento de mídia, que se importava basicamente com a cobertura quantitativa e qualitativa em termos de segmentação da audiência está começando a inserir outra variável: a linha editorial do veículo e/ou do conteúdo, vide a quantidade de marcas que estão deixando de anunciar em "locais" que, de alguma maneira, possam trazer danos a sua imagem.
Ilustra essa condição, a demissão de um colunista, por parte de quatro veículos no mesmo período, motivada pelo comentário desse sujeito sobre um caso de estupro em que o criminoso foi absolvido por, pasmem, falta de provas mesmo admitindo o ato, o que rendeu a expressão “estupro culposo”. A fala do comentarista trazia risíveis argumentos que alegavam existir casos onde a vítima tem alguma parcela de culpa no hediondo crime, o que, definitivamente é de uma imbecilidade atroz.
Após a péssima repercussão do comentário, o cidadão (?) tentou imputar o componente ideologia ao massacre que sofreu, se colocando como um mártir da direita, perseguido pelos representantes da esquerda. 
Contudo, por mais que seus inimigos tenham se aproveitado da situação para ir à forra de posicionamentos que tenham trazido contrariedade no passado, a questão de respeito à vontade de se relacionar sexualmente ou não transcende ideologias.
Vale lembrar que o próprio presidente da república, representante ativo da direita, quando deputado fez manifestações contundentes contra o estupro, fato que lhe rendeu até um processo vindo de uma deputada da esquerda. Portanto, querer misturar questões de cunho moral com convicções políticas é algo totalmente sem sentido. 
A direita não faz apologia de estupro, assim como a esquerda também não faz. Quem faz são os idiotas que, inclusive, estão em todos os espectros da sociedade, independentemente de classe social, faixa etária, ideologia política e grau de instrução, entre outros.
Voltando ao planejamento de mídia das marcas, acho cedo para se decretar a ascensão definitiva do marketing atento à associação de marcas, mesmo porque, a mídia programática, figura constante na publicidade online, não permite um controle total acerca de onde o anúncio será exposto. Mas, sem dúvida, é um alento constatar que o mercado tenha colocado o teor dos conteúdos como uma variável que pode impactar a saúde das marcas.
Para os que temem que o afastamento dos anunciantes de alguns conteúdos seja uma espécie de censura, salientamos: (i) a audiência - fator fundamental para a composição do plano de mídia - não é tão impactada em um primeiro momento pelo teor editorial; (ii) programas que minimizem a gravidade de um estupro merecem realmente serem censurados.



terça-feira, 3 de novembro de 2020

Chefe burro

Selecionar executivos é um processo de extrema complexidade. Não é fácil decidir através de análises de currículos, testes e entrevistas qual candidato é o mais adequado para determinado cargo. Por mais que haja um roteiro relativamente padrão, cada executivo tem sua forma de tentar identificar o potencial dos profissionais. 
Como, particularmente, costumo privilegiar os skills comportamentais, tendo a explorar as perguntas que permitam  observar valores, princípios e a forma de conduta de cada candidato, abordando para isso situações relacionadas ao que ele gostaria, toleraria e o que não admitiria numa relação corporativa. Nessa linha, vale citar que numa dessas entrevistas ouvi como condição  inadmissível para o candidato a resposta: “ter chefe burro”. Achei a resposta genial, primeiro por mostrar segurança e depois por colocar ali uma situação desafiadora.
Habitualmente me pego usando a citada resposta para avaliar meu grau de satisfação com as funções que estou exercendo e, diante da conclusão, iniciar - ou não - eventuais movimentações. Aliás, a resposta do candidato também serviu como fonte de inspiração para o presente artigo, mas antes de continuar a desenvolvê-lo, convém explicitar que a avaliação a respeito de inteligência, e consequentemente burrice, não tem nesse caso relação exclusiva com a facilidade de aprendizado, mas sim com uma série de fatores que serão enumerados no decorrer do texto.
You are who you hire (você é quem você contrata) é um dos fatores que ajudam na avaliação de quão inteligente é o executivo. Vendo o perfil dos colaboradores que contrata, promove e desliga, dá para se ter uma boa noção da estirpe do profissional.
Medo como ferramenta para liderar é outra característica dos burros, pois, não possuindo a capacidade de conquistar o respeito e a admiração de seus subordinados, resta-lhes como solução impor uma gestão repleta de bajuladores e, evidentemente, de protegidos. 
Uma vez confrontados, passam a ter quem o faz como uma ameaça a sua gestão, já que, cientes da falta de argumentos e da covardia, fruto da própria essência, apelam para a usual citação que caracteriza um inseguro: “isso não vai dar certo, já foi tentando no passado”, como se o passado fosse garantia de futuro e que a forma de se implementar não pudesse ser alterada. 
Raramente, ou nunca, dão continuidade aos projetos dos pouquíssimos executivos oriundos do mercado, o que faz com que o tempo de permanência destes nas organizações lideradas pelos burros seja bem reduzido. Curiosamente não percebem que, na melhor das hipóteses, são péssimos gestores de pessoas, tanto no que diz respeito ao recrutamento quanto ao desenvolvimento das mesmas, já que nunca se mostram satisfeitos. Na verdade, a covardia os impede até de darem feedback quando estão a sós com seu subordinado, utilizando algumas vezes para isso a figura de um coach que, na ânsia por parecer útil,  faz o ridículo papel de "leva e traz" ou, melhor, de assessor de relações covardes.
A lista de características que define um néscio é muito maior, daria para escrever um livro, o que não seria inédito, mas para não deixar o artigo muito longo, terminamos com uma frase de Jacques Defforey, fundador do Carrefour: "só pode cobrar quem ensina, só pode ensinar quem sabe, só sabe quem faz".