Poderia iniciar o artigo com uma lúdica brincadeira de “complete a lacuna do título”, porém, para não dar margem a generalizações como a que foi cometida pelo então CEO do grupo G4 Educação que, numa de suas declarações, completou a frase em referência com a palavra “mulher”, vamos abolir, por ora, o exercício.
Antes de analisar a fala do citado executivo, convém registrar que todos têm direito à opinião e que, na posição de líder, a preferência por certos caminhos é um direito inerente ao cargo. Esclarecidos esses pontos, vejo na inciativa dois erros crassos: (i) a busca incessante e demasiada pela exposição; (ii) a utilização de generalizações, o que retrata ignorância e irresponsabilidade.
A propósito, não foi a primeira vez que o tal sujeito apelou para discursos preconceituosos. Meses antes da fala infeliz que motivou o presente texto, ele declarou que não contrata esquerdistas. Fico aqui tentado a escrever que toda generalização é burra, só não o faço para não incorrer no mesmo tipo de erro, embora aqui caiba.
Exemplos de mulheres que chegaram ao cargo de CEO e tiveram desempenhos excepcionais não faltam, assim como de homens. Achar que gênero define capacidade denota uma miopia assustadora, sendo aceitável, talvez, alguma preferência em dado momento por questões estritamente pontuais. O que quero dizer é que algumas vezes a urgência da decisão pode implicar em escolhas que tenham o gênero como um dos atributos de avaliação, mesmo assim, trata-se de uma condição cada vez mais rara.
Custo a acreditar que um líder não se preocupe com as consequências que uma fala pode trazer à política de recursos humanos de sua corporação. Será que o autor da frase não pensou no potencial prejuízo aos processos de retenção e atração de talentos, principalmente em relação às mulheres?
Isso sem falar na imagem perante os demais stakeholders, ainda mais se tratando de uma empresa do segmento de educação. Quem pensava em contratar os serviços da empresa, provavelmente, não estará tão seguro para fazê-lo depois do incidente.
Como desenlace imediato para o imbróglio, temos que o preconceituoso executivo deixou o cargo de CEO da G4 Educação, sendo substituído por uma mulher, além disso, foi expulso do Conselho Consultivo da Hope, empresa líder no segmento de roupa íntima.
Medidas interessantes para atenuar o momento de crise, mas que só o tempo poderá trazer a correta dimensão de sua eficácia.
Creio ser válido também a reflexão sobre o linchamento virtual e social que vem sofrendo o ex-CEO. Era para tanto? Será que a cultura do cancelamento não está passando do limite? Será que pessoas tão ou mais preconceituosas não estão se aproveitando da onda para ficarem “bonitos” diante de suas redes?
Esse último questionamento, então, deve ser muito bem analisado, vide que a declaração sobre a não contratação de esquerdistas, mesmo sendo preconceituosa, não mereceu uma linha de reprovação sequer por parte dos atuais críticos. Será que concordaram? Será que a ojeriza a preconceitos é seletiva? Será que avaliaram que não conseguiriam “lacrar” com eventuais protestos? Todas as hipóteses enumeradas são péssimas, que se registe.
Finalizo, voltando à brincadeira proposta no primeiro parágrafo, completando a lacuna do título com a palavra “generalizador”.