terça-feira, 26 de novembro de 2024

Qual campeonato é o mais equilibrado?

Muito se discute sobre o grau de competitividade dos campeonatos de futebol, onde as conclusões, na maioria das vezes, costumam se dar pela quantificação de equipes que foram campeãs em dado espaço de tempo.
Como qualquer critério de avaliação, esse apresenta falhas, pois, o fato de haver poucos campeões, por exemplo, pode ocultar que dezenove equipes chegaram quase que empatadas na 2ª colocação.
No intuito de tentar identificar o tal “grau de competitividade”, a Jambo Sport Business desenvolveu uma análise comparativa, segundo alguns critérios tanto estatísticos quanto esportivos propriamente ditos entre as cinco principais ligas de futebol do mundo (Premier League - Inglaterra, La Liga - Espanha, Serie A - Itália, Bundesliga - Alemanha e Ligue 1- França), e o campeonato brasileiro ao longo de dez anos.
Inicialmente deve ficar claro que escolher um único critério deixaria a análise comprometida, visto ser impossível contemplar todas as variáveis importantes em um único índice, daí a opção por se usar vários, visando extrair através de alguma recorrência, algum indício de conclusão sobre o tema.
Foram utilizados como parâmetros ligados ao desempenho esportivo os seguintes índices: diferença de pontuação entre o primeiro e o último colocado, quantidade de equipes que chegaram na primeira, segunda e terceira posições, número de times que jogaram a divisão principal, assim como o tempo de permanência nela.
Baseado no mercado de bens de consumo, onde o grau de competividade recebe a denominação de “concentração” e tem como balizador a participação de mercado das marcas, o estudo replica o mesmo raciocínio. Para isso, estimou a participação de mercado de cada equipe, dividindo suas pontuações pelo total daquele campeonato em cada temporada. Cumpre, no entanto, alertar que tal “manobra” apresenta falhas conceituais, pois, mesmo que um time ganhe todas as partidas que disputar, a “participação” de mercado jamais será 100%, que é o que aconteceria em qualquer mercado.
Tal falha, embora gritante, pode ser minimizada pelo fato de o estudo ter um cunho meramente comparativo.
Daí, a partir da citada conversão, foram utilizados quatro modelos de avaliação de concentração: O CR4, o IHH, o desvio padrão e o índice de Joly, sobre os quais não discorreremos aqui, mas cuja descrição está no estudo, que também traz quadros comparativos dos citados campeonatos sob todos esses parâmetros.
O que podemos adiantar no presente artigo é que o nosso Brasileirão parece, de fato, ser o campeonato mais equilibrado, quando comparado com os demais analisados
Importante também ressaltar que, embora o modelo norte-americano de procurar sempre o equilíbrio como atributo de atratividade, o fato de haver competitividade não significa necessariamente que haja atratividade. Explico: ainda que o imponderável seja um componente de suma importância para o esporte, isso pouco agrega num cenário em que os participantes tenham pouca qualidade, ou seja, além do aspecto “emoção” é necessário ter lances plásticos e geniais. Modo contínuo, para se ter qualidade, é necessário ter dinheiro para investir na atração e retenção de bons jogadores, todavia, a existência de poucos times “bons” certamente trará reflexos na atratividade, a qual, por sua vez, é fundamental para se auferir receitas.
Tão difícil quanto a escolha dos critérios de avaliação para se medir o grau de concentração – objeto do estudo -, é encontrar uma solução no sentido de aumentar a qualidade da competição, sem prejuízo do equilíbrio, mesmo porque, a própria conjuntura econômica do país tem sua influência nesse processo.






terça-feira, 19 de novembro de 2024

Oportuna mente

Fazer de algo imprevisto uma solução de sucesso, não é das situações mais corriqueiras, tampouco, confortáveis, mas acontece. Vejam o caso da cerveja Coors Light.
Na partida entre o New York Mets e o Los Angeles Angels pela MLB (Major League Baseball), o jogador japonês Shohei Ohtani do time da California, ao rebater uma bola, avariou um telão que trazia uma publicidade da cerveja Coors Light. Numa situação similar, é bem provável que muitos executivos tomassem a iniciativa de consertar a peça o mais rápido possível. A Coors, no entanto, preferiu deixar a peça danificada.
Aproveitando toda a repercussão do “acidente”, utilizou a imagem do painel “quebrado” para ilustrar uma edição especial de latas, de modo a se beneficiar do fato de forma viral. Ainda como parte da campanha, outros painéis da marca apareceram com a “falha original” e slogans foram criados com trocadilhos do tipo “Coors Light Out” – luzes apagadas.
Usualmente, chamamos as ações mercadológicas voltadas às datas comemorativas (Natal, Dia das Mães, Páscoa etc.) de marketing de oportunidade, podendo incluir entre elas eventos, tipo Copa do Mundo, e até situações inesperadas como, por exemplo, essa que foi narrada acima. 
Como as marcas sabem quando serão as datas comemorativos, não é tão complexo elaborar campanhas específicas para elas.
Lançamentos de filmes, como foi o caso do Divertidamente 2, também entram no rol do "marketing de oportunidades”. Nesse caso, até produtos são desenvolvidos, ressalvando que nessa situação também é possível executar e cumprir planejamentos, pois o calendário de lançamento é divulgado com relativa antecedência.
Há ainda aqueles anúncios que trazem como mote alguma competição e mexem com o emocional quando exaltam a vitória ou consolam na derrota. Cabe aqui uma inconfidência: ambas as situações - vitória e derrota - são consideradas na produção, ou seja, na grande maioria das vezes, as peças já estão prontas, ficando à espera do resultado para serem divulgadas.
Particularmente, tendo a achar que as “inesperadas” como foi a da Coors, representam melhor o conceito de oportunidade, exigindo uma ação mais rápida.
Obviamente, o risco desse tipo de iniciativa é maior do que as ações “planejadas”, afinal, o processo criativo requer uma velocidade maior e não há tempo hábil para se testar o conceito da campanha a ser desenvolvida. O risco, no entanto, acaba sendo minimizado em função dos poucos investimentos na campanha, isto é, por não estarem contempladas nos orçamentos originais – como alguém poderia prever uma rebatida que quebrasse o painel? -, não há muita verba disponível e, caso se transforme efetivamente num sucesso, é possível fazer realocações abdicando de outras ações previamente programadas.
No caso da Coors, a iniciativa trouxe reflexos positivos tanto na exposição e engajamento da marca, como no incremento das vendas que, entre os fãs da modalidade, ficaram superiores às da Budweiser, patrocinadora da MLB. Na esteira do sucesso, o painel "quebrado" foi leiloado, a marca ganhou prêmios de publicidade e passou a ser a mais vendida no Japão.
Nada mal, não?







terça-feira, 12 de novembro de 2024

Recrutamento e seleção - case Liverpool

Quando olhamos a indústria do esporte e a parametrizamos com outras já mais consolidadas na economia, nos deparamos com um longo caminho a ser percorrido em termos de gestão, embora já seja perceptível um considerável progresso. Se fizermos um corte em termos de departamento, notaremos também um certo desequilíbrio, ou seja, alguns deles estão mais avançados do que outros.
Aliás, uma das áreas que vejo com bastante potencial de crescimento é a de Recursos Humanos, fato que, evidentemente, traz reflexos nas demais, afinal, selecionar, recrutar, treinar, avaliar, definir política de cargos e salários, entre outras, afeta toda a organização.
Discutir as razões que levam a esse cenário demandaria tempo e um espaço maior, razão pela qual pularemos essa parte e passaremos para a descrição de um case, que deveria servir como benchmarking para muitas organizações, inclusive as que atuam fora do ambiente esportivo. Refiro-me à contratação do técnico que veio substituir o campeoníssimo Jurgen Klopp no Liverpool.
Ao contrário do que o mercado especulava, o time inglês optou por um técnico, digamos, sem muita “grife”: o holandês Arne Slot, que dirigia então o Feyenoord e nunca tinha trabalhado fora do seu país natal, portanto, sem grande popularidade fora de lá.
Trazendo para o universo corporativo, imaginem a Vale trazendo para ser seu CEO, um executivo que nunca tenha liderado nenhuma grande corporação. 
O processo no Liverpool é exemplar porque teve como ponto inicial a definição dos objetivos e do que se queria de um treinador, no caso, manter uma filosofia de jogo similar á de Klopp. A partir daí, baseou-se em dados e métricas que permitissem a identificação dos melhores nomes, até chegarem a Slot.
Quantas empresas têm claramente delineados o que pretende de um executivo quando inicia um processo de contratação?
A análise em termos de números trouxe, entre outras informações, os seguintes dados: o Liverpool costuma ter 94 posses de bola por partida, o Feyenoord tinha 96, quando comandado por Slot. Os adversários do clube inglês completam 77% de seus passes, enquanto os do Feyenoord completavam 74%. O passe médio do Liverpool percorre 17,1 metros, enquanto o do Feyenoord percorre 17,2 metros. O Liverpool leva a bola ao ataque a uma velocidade acima da média de 1,26 metros por segundo, enquanto o Feyenoord vai ainda mais rápido, a 1,33 metros por segundo.
Evidentemente, olhar apenas para os números não é o suficiente, sendo necessário também considerar estilo de liderança, capacidade de resistir à pressão, habilidade no relacionamento, atenção ao desenvolvimento dos mais jovens, visão de logo prazo, além de inúmeras outras variáveis. 
Vale também atentar que, no caso de performance esportiva, a coleta de dados fica mais fácil e disponível. O que quero dizer é que os indicadores corporativos sofrem influência de diversos fatores do mercado, seja a capacidade gerencial da própria empresa, sejam fatores macroeconômicos, além das ações da concorrência, o que torna difícil o exercício de expurgá-los, todavia, o exemplo que o Liverpool nos brinda, serve para mostrar a importância do planejamento e da utilização de métricas para qualquer tipo de decisão.







terça-feira, 5 de novembro de 2024

Bola de ouro, quem merecia?

Premiação da Bola de Ouro. 
A imprensa, sabe-se lá por qual razão, aponta previamente que o brasileiro Vinicius Jr. é o favorito. Algumas horas antes sai a notícia de que o jogador e demais representantes do seu time, o Real Madrid, cancelaram a ida ao evento, o que passa a ser um prenúncio, ou uma quase certeza de que o ganhador seria outro.
De fato, o vencedor foi outro, o espanhol Rodri, fato que provocou uma verdadeira comoção entre os brasileiros. 
Acusações de racismo e de injustiça rechearam as redes sociais.
Fica a dúvida: baseado em quais critérios, pode-se dizer que o Vinícius Jr. foi melhor que o Rodri. E quais os estabelecidos para apontá-lo como pior? Primeiramente é importante ter em mente de que escolhas subjetivas, tal como essa, dão margem a interpretações, as quais, jamais serão unânimes. Outro ponto: acho muito difícil que os "revoltados" tenham assistido a todas as partidas dos dois jogadores, muito menos que tenham o devido embasamento para estarem absolutamente certos.
Já a atitude do Real Madrid foi péssima para o esporte, pois passa um péssimo exemplo de que, não sendo da forma que se objetiva, não há interesse em fazer parte das atividades. 
O juiz nos prejudicou! Quantas vezes ouvimos, e cá entre nós, falamos, após uma derrota do nosso time? Por outro lado, quantas vezes ouvimos ou falamos que vencemos graças à ajuda do árbitro. Certamente a primeira situação ocorre muito mais vezes do que a segunda, se é que essa acontece.
As urnas foram fraudadas! Alguém que tenha o candidato como vencedor de algum pleito político já proferiu essa frase após o sucesso? Já quando perde…
Não fiz um tempo melhor porque o dia estava muito quente! Quem nunca ouviu essa frase de algum amigo após uma competição de corrida ou triathlon, por exemplo?
A verdade é que qualquer coisa que frustre nossas expectativas nos leva num primeiro momento a “terceirizar” a responsabilidade. Faz parte! O problema é ficar com essa percepção durante muito tempo achando que há uma conspiração contra suas predileções.
Voltando à premiação da Bola de Ouro e à especulação sobre racismo, vale lembrar que o Lamine Yamal do Barcelona foi eleito o melhor jogador revelação.
Essa ponderação em nada coloca em dúvida a existência de atos de racismos em inúmeras outras situações, os quais precisam ser punidos de forma dura e exemplar. O alerta que precisa ser feito, diz respeito a um possível exagero, onde suspeitas não confirmadas acabem minimizando a importância da causa. 
Vale também a reflexão acerca do vazamento do resultado, fato que permite divagar se vale a pena ficar insatisfeito com “eleições” cuja proteção da informação é negligenciada.