Os números sobre o desempenho esportivo do Brasil nos Jogos de Paris têm suscitado os mais diversos tipos de análises. Comparativos com outros países, confrontos com índices relacionados à população e fatores econômicos e outras parametrizações que nem vale mencionar. O cardápio é farto.
Há bastante coisa legal, mas muitas besteiras. Falta, na maioria das vezes, o conhecimento sobre a estrutura do esporte, suas fontes de receitas, requisitos para recebê-las etc. Daqui a pouco para... até 2028.
Entre tantos levantamentos, um me despertou grande atenção: o referente às redes sociais do Time Brasil, que chegou a 2,6 milhões de seguidores e que é, entre todos os comitês olímpicos nacionais, o que tem o Instagram com mais seguidores. Um trabalho muito bem feito, que teve a presença de embaixadores fora do ramo esportivo como um dos alavancadores para esse sucesso.
Mas não custa refletir sobre uma questão: o que isso traz de benefício para o esporte?
Mais patrocinadores? Provavelmente sim, principalmente das empresas cujos diretores de marketing precisam de números "digitais" para justificar seus investimentos.
Mais pessoas acompanhando o esporte? Num primeiro momento, sim, depois, provavelmente não, até porque o apelo dos grandes eventos diminui naturalmente. Ainda assim, um residual é esperado.
Mais atletas? Mais pessoas iniciando e/ou praticando esporte? Não sei dizer, há chances que sim, mas sem a certeza que eu gostaria de ter.
Mais conhecimento da marca? Talvez, mas com que objetivo? Voltamos assim à pergunta inicial: o que isso traz de benefício para o esporte? Melhor cessar os questionamentos para não ingressarmos num looping.
Minha provocação aqui é similar às que faço em relação à atuação das empresas no que diz respeito às redes sociais. Vejo muito esforço e competência para aumento do engajamento, porém, poucas vezes vejo tal crescimento fazendo parte de uma estratégia voltada aos objetivos de resultados operacionais.
A busca por números e métricas que “mostrem” o retorno de algum investimento, seja esse direto em algum tipo de ação ou mesmo na contratação/manutenção de uma equipe de colaboradores e fornecedores está presente em todas as áreas, independentemente do nível hierárquico. O problema é que muitas vezes os resultados isolados não contribuem para o todo.
Claro que muitas vezes o “todo” não é atingido porque outras áreas não executaram bem suas atribuições, mas o ponto que quero levantar é outro: a necessidade de integração da função da área com o objetivo-fim da organização, se é que este foi realmente definido e bem comunicado.
A “indústria” dos KPIs e OKRs prontos e tradicionais por área para embasar alguma metodologia de score é até interessante a título de avaliação, mas muitas vezes os indicadores estão desgarrados do macro, e pior, sem um acompanhamento frequente que permita correções de navegação e de rumo.
Muitas vezes fico com a impressão de estar vendo um jogo de xadrez em que a busca pelo xeque-mate é mera retórica, sendo, talvez, mais importante aos olhos desses executivos comer as peças do adversário, fazer cara de inteligente para os "espectadores" ou simplesmente passar o tempo.