A frase que dá título ao artigo é uma versão “tropicalizada” da expressão “a religião é o ópio do povo” contida na obra “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, ondeKarl Marx comentava sobre a religião como forma de alienação humana.
A adaptação ao futebol, no caso do Brasil, pode ser ilustrada por várias situações, mas focaremos duas em especial em função de serem mais recentes.
A primeira diz respeito às manifestações que têm levado às ruas de todo o país, milhares de pessoas para protestar contra, entre outros alvos, o governo e a onda de corrupção que tem assolado o país. Um direito legítimo e democrático, assim como também é o dos que defendem o governo e não enxergam nenhuma responsabilidade desse sobre os casos de corrupção.
Mas não quero, nem vou discutir a política nacional nesse foro, passo assim imediatamente a uma situação que me chamou bastante atenção nas manifestações oposicionistas: o expressivo uso da camisa da seleção brasileira de futebol.
Tal fato denota o quão representativa é essa camisa como simbologia do patriotismo brasileiro e o quanto o futebol é importante como ferramenta de abstração para situações incômodas e até constrangedoras.
Ao se vestir a mística camisa amarela cinco vezes campeã mundial, o cidadão tem como intuito demonstrar seu orgulho de ser brasileiro e seu amor ao país. Entretanto, muito provavelmente, não se dá conta de que essa peça traz na altura do coração o escudo da Confederação Brasileira de Futebol, a qual, por sua vez, tem sido alvo de processos de investigação sobre práticas associadas à corrupção.
Coisas do futebol...
Antes de passar para a segunda situação, vale comentar sobre o retorno de mídia espontânea que a Nike está tendo com esses eventos, através da massiva utilização da camisa da seleção brasileira, ganho que certamente jamais foi contemplado na análise que estabeleceu os valores envolvidos no contrato.
A segunda situação é referente ao jogador Neymar, que vem sendo acusado de sonegação de impostos, fato que, se verdadeiro, acarreta numa menor arrecadação de receitas por parte do governo, o que, em tese, compromete os investimentos em áreas de fundamental importância para a nação, tais como educação, saúde e segurança.
Não farei aqui nenhum juízo de valor sobre o caso, pois me falta embasamento jurídico e informações mais claras sobre a ação.
Me permitirei, no entanto, levar a discussão para o lado hipotético do jogador ser considerado culpado ao fim do processo.
Será que relevariam o prejuízo que a nação teria sofrido em função do infrator ser quem é?
Será que o fato do jogador contribuir para o sucesso da seleção minimizaria – na cabeça do torcedor – a gravidade do delito?
Será que o artigo 5º da Constituição, aquele que fala que todos são iguais perante a lei, seria respeitado?
Não tenho como prever o futuro, é evidente, mas tendo a imaginar que a opinião pública não seria tão contundente quanto costuma ser com um político ou com um empresário, afinal de contas, estaria se tratando do maior ídolo da atualidade do futebol brasileiro.
Coisas do futebol...
Ambas as situações demonstram o elevado patamar que o futebol se encontra na vida do brasileiro, o que não é ruim, mas esse não pode ser um ópio a ponto de inebriar a população diante das práticas que vão contra os princípios e valores éticos que devem nortear sua conduta.
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