terça-feira, 21 de julho de 2020

O exagero do "politicamente"


Estabelecer o equilíbrio de qualquer coisa é um dos maiores desafios da humanidade, isso se aplica a tudo: à intensidade de uma bronca, ao tempo que se dispende para explicar algo, à própria gestão das atividades do dia a dia e por aí vai.
Ciente dessa dificuldade, vamos discutir aqui a adoção das medidas politicamente corretas, as quais podem estar ultrapassando os limites do equilíbrio. 
Começamos narrando o caso do Washington Redskins, franquia de futebol americano fundada em 1932, que alterará seu nome sob a alegação de que a palavra “redskins” – peles vermelhas – tem conotação racista, já que diz respeito à cor da pele dos índios. Na verdade, esse movimento para a alteração no nome já acontece há duas décadas, só que agora, em função de um ativismo mais intenso de combate ao racismo provocado pelo covarde assassinato de George Floyd, parece ter vindo com maior força.
No segmento de bens de consumo, a Pepsico mudou o nome e a embalagem do seu produto Aunt Jemina, que está no mercado há mais de 130 anos, pelo fato de a embalagem trazer a imagem de uma mulher afrodescendente, cujo nome remetia a uma personagem que trabalhava como empregada de uma família.
A Mars, fabricante do arroz Uncle Ben’s que traz a imagem de um homem afrodescendente no rótulo, também fará mudanças na embalagem por motivo similar.
No Brasil, a palha de aço Krespinha, produzida pela Bombril, foi descontinuada.
Antes de partirmos para as análises dos fatos, finalizamos com o caso da L’Óreal, que decidiu retirar os termos branco/branqueador (white/whitening) e claro/clareamento (fair/fairness, light/lightening) de todos os seus produtos destinados à homogeneização da pele.
Pois bem, não seria a primeira vez que algum time das ligas dos EUA trocaria de nome, o New Orleans Hornets da NBA, por exemplo, passou a se chamar New Orleans Pelicans, enquanto o Charlotte Bobcats virou Charlotte Hornets. Há ainda as alterações feitas em função da mudança de cidades, essas até mais traumáticas e com maiores riscos. Todas elas seguiram na normalidade após o impacto inicial. 
Quanto às marcas de bens de consumo, a história está repleta de exemplos de mudanças que pouco impacto sofreram em termos de participação de mercado, evidentemente que excelentes trabalhos de marketing foram desenvolvidos para minimizar os problemas. Podemos citar o creme dental Sorriso que veio substituir a marca Kolynos, líder de mercado, e teve o mesmo sucesso. A Nestlé, quando decidiu trocar as marcas de algumas categorias como iogurte Chambourcy e sorvete Yopa por simplesmente Nestlé, abriga a relação de casos de sucesso. Até as operadoras de telecomunicações passam por esses processos e sobrevivem após os devidos investimentos.
Há muito mais casos que comprovam que eventuais alterações não são tão dramáticas como se pode pensar em um primeiro momento, porém, o que pretendemos com o artigo é provocar a reflexão sobre os eventuais exageros do “politicamente correto”, onde dois questionamentos auxiliam esse processo:
- Será que uma parcela significativa dos supostamente atingidos com essas nomenclaturas realmente se sentem ofendidos/feridos? 
- Será que as próprias mudanças de nomes não têm o efeito de se criar uma implicância/rejeição sobre o tema, o que, poderia de alguma forma afetar sua importância? 
Valendo alertar que eventuais exageros, por ora cometidos, nada mais são do que reações a exageros anteriores advindos de lados opostos, daí a preocupação para que uma futura reação ao atual momento seja desproporcional e o equilíbrio fique cada vez mais distante.






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