terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Amazon, Amazonas

 
Às vésperas da reunião da COP28, um dos membros da comitiva brasileira, o governador do Amazonas, teve sua fala viralizada ao comentar que no evento se reuniria com o fundador da Amazon, Jeff Bezos, para pleitear algum benefício, afinal de contas, a empresa utiliza o nome do estado e ganha com isso, segundo ele.
Estar presente em grandes eventos, nos quais possa aprender e fazer relacionamento, é, sem dúvida, importante. Buscar parcerias e novas fontes de recursos, idem.
Até aí tudo certo, porém, falar sem pensar é perfeitamente dispensável, principalmente em funções, onde qualquer deslize tem grande potencial destrutivo. 
Pois bem, primeiramente é preciso descobrir de onde o citado governador tirou dados que o permitem concluir que a Amazon ganha dinheiro por ter esse nome.
De fato, a escolha do nome se deveu à região, mais precisamente ao rio, o qual nasce no Peru. Mas quem pode garantir que o consumidor tem ciência dessa relação? Afinal, até na mitologia grega há menção ao nome, que identificava um grupo de guerreiras. A propósito, não me causaria surpresa tomar ciência de que parte dos clientes da Amazon não liga o nome da empresa ao estado, ou pior, se nem soubesse que Amazonas é um estado, mesmo porque geografia não é o forte da população mundial.
Para não ficar só criticando o governador, vale mencionar que muitas marcas adotam o nome de uma cidade, ou região, com o intuito de conquistar o público daquela localidade. Todavia, pelo fato de a Amazon ter abrangência mundial, a escolha do estado, em vista do tamanho da população não parece ser a melhor opção caso o objetivo fosse atrair os moradores da região.
Deve ser ressaltado que há inúmeros casos de marcas que trazem “nomes geográficos” - geographic brand names. KFC, por exemplo, é a abreviatura de Kentucky (um estado norte-americano) Fried Chicken, Nokia é uma derivação do rio Nokiavirta, isso sem falar de Casas Bahia e outros mais óbvios.
Na verdade, é muito difícil, para não dizer impossível, encontrar nomes que não sejam frutos de algum fator inspiracional, aliás, se a moda de cobrar pela inspiração ao nome pega, está arriscado vermos em breve alguns donos de pomares procurando a Apple.
Inversamente pode ser colocado em discussão se o próprio estado não ganha popularidade graças à Amazon. Nessa toada, se o  tema for efetivamente levado adiante pelo governador, cabe outra provocação: seria a Amazon passível de indenização, caso a região seja palco de grandes queimadas, de crimes ambientais e/ou de qualquer outro incidente que macule a região? Evidente que não, assim como não faz o menor sentido o pleito do governador.
Creditar o sucesso de algum empreendimento ao nome, é ignorar a importância de uma boa gestão. Será que se a Amazon se chamasse Tocantin, para ficarmos restritos ao Norte, não seria a potência que é?  A propósito, será que todos os negócios que têm o nome relacionado ao citado estado apresentam bons resultados? Evidente também que não.
O que pode sim, vir a ser avaliado, é a possibilidade de a Amazon, por questões ligadas ao ESG, vir a ter algum elo com a região.






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