terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Ainda espero aqui!

A conquista do Globo de Ouro pela atriz brasileira Fernanda Torres por sua atuação no filme “Ainda estou aqui” provocou mais um debate nas redes sociais, o qual, infelizmente, enveredou para a política pelo fato de a obra narrar o que aconteceu no período da ditadura militar. Apoiadores de um lado, que mal sabem o que significa ideologicamente seus princípios, tentaram tirar o valor da conquista e sentaram a pancada nas leis de incentivo à cultura. Os do outro lado, que também pouco sabem os conceitos da ideologia encampada, trataram de defender a conquista como se fosse uma Copa do Mundo.
Fiquei feliz com a conquista e pouco liguei para o debate que tenta minimizar ou maximizar o resultado. Na verdade, fiquei também preocupado, pois, não gostaria que o prêmio servisse como uma espécie de cortina de fumaça para o que aconteceu no Congresso ao fim de 2024 que, em função do pacote tributário PL 210/2024, suspendeu a lei de incentivo ao esporte. Curiosamente em relação às leis de incentivo à cultura pouco aconteceu.
Criar mais uma polarização foge totalmente do objetivo do blog, portanto, cabe esclarecer que a junção da cultura e do esporte no mesmo artigo tem como único intuito chamar a atenção de que ambos, pelo menos por ora, dependem de verbas públicas.
Tanto o esporte como a cultura são agentes de formação educacional e eventuais “conflitos” só servirão para polarizar e deixar a discussão irracional como tem sido a de direita vs. esquerda com direito a generalizações imbecis, desculpem o pleonasmo. 
Os casos de má utilização da verba pública não podem servir de argumento para se criticar qualquer uma das atividades, embora seja inquestionável a existência de inúmeros casos que corroboram para isso.
Espero que esse longo preâmbulo deixe claro que, apesar de eu possuir estreita relação com o esporte, escrevo com a máxima isenção, não só por detestar a polarização, mas por acreditar na força da cultura.
Nessa linha, é importante narrar que o esporte luta desde a década de 80 para ter sua lei de incentivo. Até consegui-la em 2006, ocorreram negativas na constituinte de 1988 e na tentativa de inclusão na lei Rouanet em 1991, valendo citar que nessa última houve sim uma pressão contra por parte do pessoal da cultura. Tudo bem, zero revanchismo.
Lógico que o ideal seria que nenhuma das atividades necessitasse do dinheiro público e que conseguissem ser autofinanciados, melhor ainda se houvesse por parte do governo um planejamento estratégico voltado à educação que contemplasse atividades culturais e esportivas em suas ações. 
Não creio, no entanto, que isso venha a ocorrer, pelo menos no médio prazo. Talvez, se a educação tivesse sido encarada com a devida importância no passado, estivéssemos próximos da independência do esporte e da cultura. 
Talvez, se os gestores das empresas acreditassem que associar suas marcas a essas atividades e não pensassem apenas no potencial de exposição, não houvesse a necessidade do incentivo. 
Talvez, se os “captadores” idealizassem projetos mostrando o potencial de retorno mercadológico para as marcas, a disputa seria sobre as verbas “limpas” do marketing.
É muito talvez, reconheço! Mas o momento pede união, algo difícil, nos tempos atuais, e essa união passa prioritariamente pela seriedade nos pleitos, na fiscalização severa dos projetos incentivados e eventuais punições exemplares aos infratores, de forma que a construção da conscientização, seja essa para a necessidade ou para se alçar a independência dessas atividades, tenha o reconhecimento e engajamento da população. 
Ainda espero aqui!





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