A conquista do Globo de Ouro pela atriz brasileira Fernanda Torres por sua atuação no filme “Ainda estou aqui” provocou mais um debate nas redes sociais, o qual, infelizmente, enveredou para a política pelo fato de a obra narrar o que aconteceu no período da ditadura militar. Apoiadores de um lado, que mal sabem o que significa ideologicamente seus princípios, tentaram tirar o valor da conquista e sentaram a pancada nas leis de incentivo à cultura. Os do outro lado, que também pouco sabem os conceitos da ideologia encampada, trataram de defender a conquista como se fosse uma Copa do Mundo.
Fiquei feliz com a conquista e pouco liguei para o debate que tenta minimizar ou maximizar o resultado. Na verdade, fiquei também preocupado, pois, não gostaria que o prêmio servisse como uma espécie de cortina de fumaça para o que aconteceu no Congresso ao fim de 2024 que, em função do pacote tributário PL 210/2024, suspendeu a lei de incentivo ao esporte. Curiosamente em relação às leis de incentivo à cultura pouco aconteceu.
Criar mais uma polarização foge totalmente do objetivo do blog, portanto, cabe esclarecer que a junção da cultura e do esporte no mesmo artigo tem como único intuito chamar a atenção de que ambos, pelo menos por ora, dependem de verbas públicas.
Tanto o esporte como a cultura são agentes de formação educacional e eventuais “conflitos” só servirão para polarizar e deixar a discussão irracional como tem sido a de direita vs. esquerda com direito a generalizações imbecis, desculpem o pleonasmo.
Os casos de má utilização da verba pública não podem servir de argumento para se criticar qualquer uma das atividades, embora seja inquestionável a existência de inúmeros casos que corroboram para isso.
Espero que esse longo preâmbulo deixe claro que, apesar de eu possuir estreita relação com o esporte, escrevo com a máxima isenção, não só por detestar a polarização, mas por acreditar na força da cultura.
Nessa linha, é importante narrar que o esporte luta desde a década de 80 para ter sua lei de incentivo. Até consegui-la em 2006, ocorreram negativas na constituinte de 1988 e na tentativa de inclusão na lei Rouanet em 1991, valendo citar que nessa última houve sim uma pressão contra por parte do pessoal da cultura. Tudo bem, zero revanchismo.
Lógico que o ideal seria que nenhuma das atividades necessitasse do dinheiro público e que conseguissem ser autofinanciados, melhor ainda se houvesse por parte do governo um planejamento estratégico voltado à educação que contemplasse atividades culturais e esportivas em suas ações.
Não creio, no entanto, que isso venha a ocorrer, pelo menos no médio prazo. Talvez, se a educação tivesse sido encarada com a devida importância no passado, estivéssemos próximos da independência do esporte e da cultura.
Talvez, se os gestores das empresas acreditassem que associar suas marcas a essas atividades e não pensassem apenas no potencial de exposição, não houvesse a necessidade do incentivo.
Talvez, se os “captadores” idealizassem projetos mostrando o potencial de retorno mercadológico para as marcas, a disputa seria sobre as verbas “limpas” do marketing.
É muito talvez, reconheço! Mas o momento pede união, algo difícil, nos tempos atuais, e essa união passa prioritariamente pela seriedade nos pleitos, na fiscalização severa dos projetos incentivados e eventuais punições exemplares aos infratores, de forma que a construção da conscientização, seja essa para a necessidade ou para se alçar a independência dessas atividades, tenha o reconhecimento e engajamento da população.
Ainda espero aqui!
Sou contra qualquer tipo de incentivo à cultura e ao esporte, salvo os esportes olímpicos. No meu ponto de vista arte é um produto de prateleira, quem gosta vai lá e consome, cabe o artista o talento da venda. No caso do esporte consegue o melhor patrocínio os mais competitivos, que as vezes nem tal organizados financeiramente são, mas vão sobrevivendo, mas concordo sempre que não for dinheiro do contribuinte.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário.
ExcluirEntendo seu ponto, mas precisamos ter em mente que, ainda que a cultura venha a ser "um produto de prateleira", o não recebimento de verbas públicas deixaria seus preços elevados de forma que apenas os mais "abastados" conseguiriam consumir, excluindo parte da população, o que contraria os processos de inclusão social.
A estreita relação com os aspectos de educação e saúde também não deve ser esquecida, o que reforça ainda mais a necessidade de universalizar a cultura.
Por fim, acrescento que grandes eventos geram impactos econômicos através do aquecimento de certos setores como turismo, hotelaria, alimentação etc.
Especificamente no caso dos esportes, concordo que os olímpicos são os que mais carecem de incentivo, principalmente a iniciação.
Como escrevi no texto, o ideal seria que as empresas acreditassem no esporte e na cultura, contemplando-os em seus budgets de marketing, diminuindo - ou acabando - assim a dependência das verbas públicas.
Ótimo texto, caro Idel! Como sempre cuidadoso e com fundamentação baseada no conhecimento profissional, no teu apreço pelo esporte e vivência como cidadão. Tens razão quando aponta o grave erro do Congresso Nacional que sem uma maiores reflexões ou debates excluiu a legislação de incentivo ao esporte, ignorando a própria Constituição que no artigo 217 aponta a possibilidade. Parabéns.
ResponderExcluirObrigado, Mestre!
ExcluirFiquei triste e preocupado com a decisão do Congresso.
Abraço
Bom tema para debate, porém discordo totalmente de seu ponto de vista do subsídio com dinheiro do contribuinte. Estourou a bilheteria por conta disso ? Na minha opinião, esse tema é fraco, manipulado e não relata a realidade dos fatos por trás dos bastidores e só contribui para mal informar.
ResponderExcluirO cinema brasileiro vem fantasiado de cultura, para os bezerros ficarem mamando eternamente em berço esplêndido e nunca chegam a dar leite e para finalizar acho que o bilionário do nióbio não precisava.
Prezado Sr. Anônimo
ExcluirObrigado pelo comentário.
Se o Sr. prestar a devida atenção, reparará que o blog não tem como intuito informar, nem mal, nem bem.
A ideia é provocar a reflexão, desprovida de fanatismo e generalizações, focando a gestão de alguma forma.
Ah, e continuará assim, abrindo eventualmente uma exceção ao fanatismo quando se falar do Fluminense.