As notícias do boicote à Coca-Cola no México, na Dinamarca e no Canadá nos fornecem bons motivos para refletirmos sobre a maior atenção que a comunicação precisa receber.
A razão do boicote nada tem a ver com aspectos ligados à saúde, à nutrição ou a alguma prática nociva da marca. Na verdade, trata-se de uma reação da população local aos discursos do presidente Trump em relação às suas intenções geopolíticas e comerciais.
Ao não discernirem que uma empresa tem pouca ingerência nas falas e ações do mandatário do país em que a matriz está sediada, passam a acreditar que uma ação de boicote pode levar à reversão das intenções. Esquecem, ou ignoram, que o citado refrigerante, mesmo tendo sua origem e matriz nos EUA, tem a produção realizada no próprios países onde é comercializado, ou seja, uma eventual queda no consumo certamente trará impactos nos resultados das unidades regionais, os quais implicarão no corte de empregos dos funcionários nativos.
Na verdade, o boicote acontece também com outras marcas vistas como norte-americanas.
Mas o que as populações canadense, dinamarquesa e mexicana podem fazer para pressionar o presidente dos EUA? Boa pergunta! Não sei responder, mas é certo que o boicote trará mais problemas para a economia local que, além de sofrer com o aumento da taxa de desemprego, pode vir a arrecadar menos tanto em função da queda da renda dos trabalhadores que perderam o emprego, como na menor receita com impostos.
A propósito, essa “onda” de boicotes vem tomando proporções que nos levam a pensar no quão individualistas estão as pessoas. Basta ter uma insatisfação com a marca para se deflagrar ações que primariamente vão prejudicar os que nada têm a ver com o problema.
Vamos tentar entender o processo que leva a isso, voltando ao caso da Coca-Cola. A fala do Trump, impactante, sem dúvida, gera uma grande propagação, a qual, imediatamente, causa revolta e indignação. Os receptores da notícia, exasperados, pensam em reagir, mas não se dão ao trabalho de entender como se dá o processo compreendido entre a produção e o consumo. Até que alguém tem a ideia de boicotar e, num efeito manada, consegue a adesão de muitos que, igualmente, não se dão ao trabalho de entender, ou pior, não conseguem.
Assim como está acontecendo com a Coca-Cola, pode acontecer com qualquer marca. Mais grave: pode ocorrer até com notícias falsas que, muitas vezes, são capazes de causar catarses e deixam o restabelecimento da verdade quase que impossível.
A citação de exemplos levaria o texto para uma esfera política, que é o que menos pretendo.
A liberdade de expressão é sagrada, acho que poucos duvidam disso, porém, há uma grande diferença entre opinar e vaticinar. A opinião é sagrada e, mesmo que vá contra a realidade, deve ser preservada, afinal, não se pode querer que um ignorante se torne sábio do dia para a noite. Já a informação mentirosa é inadmissível, assim como a propagação dela.
Nada contra os que acham que a terra é plana e tentam explicar os motivos que os levam a acreditar nisso, mas tudo contra os que asseveram ser esse formato. A diferença talvez esteja em ser definitivo na fala. Complexo? Sim!
Mas algo precisa ser feito, de forma que a liberdade de expressão não venha se tornar uma salvaguarda para mentiras numa sociedade em que as pessoas têm cada vez menos tempo e, quem sabe, vontade, para efetivamente se informarem.
Os que hoje clamam por tal liberdade como salvo conduto para disseminarem mentiras, não podem jamais se esquecer que a mentira é uma arma que todos os lados podem dela se utilizar e sem a necessidade de porte.
Será que não vale um desarmamento?
Nenhum comentário:
Postar um comentário