terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Quem paga? O outro



Para grande parcela da população o governo deveria sempre e tudo subsidiar para assim fazer com que os produtos e serviços cheguem baratos aos consumidores. De onde viriam os recursos para esse fim é uma questão que nem passa pela cabeça dos que pensam dessa forma e caso sejam pressionados a responder, provavelmente dirão que isso não é problema deles. 
Talvez achem que dinheiro dê em árvore, ainda assim se esquecendo que o ato de plantar e cultivar requer investimento. 
O mesmo processo ocorre no setor varejista, onde os clientes reclamam dos preços das mercadorias, certamente supondo que a indústria e o próprio estabelecimento deveriam praticar margens menores. Desconsideram aqui que essa margem não pode ser tão pequena em relação a outras opções de investimentos, pois dessa forma muitas indústrias e estabelecimentos varejistas iriam encerrar suas atividades, acarretando assim num cenário em que os  preços seriam até maiores em função da diminuição de oferta, isso sem falar no maior índice de desemprego. 
Com os preços dos ingressos no futebol acontece a mesma discussão, só que em níveis até mais constrangedores, pois envolve jornalistas defendendo os preços baixos através de um discurso populista de inserção social. É óbvio que a inserção social deve ser sempre defendida, mas sinceramente não acredito que o pilar para essa causa seja o “ingresso de uma partida de futebol”. 
Há ainda que se ter em mente que o mesmo torcedor que clama por ingresso barato é também o que reclama por não ter bons jogadores na equipe. Nesse contexto fica difícil fechar a conta. 
Será que os jogadores estariam dispostos a diminuir seus salários para subsidiar os ingressos? 
Será que os mesmos jornalistas, que defendem a política de preços baixos, estariam dispostos a encurtarem seus salários para assim diminuir os custos das emissoras que detém os direitos de transmissão, ação que poderia redundar numa cota maior para os clubes que, assim, ficariam menos dependentes das receitas advindas da bilheteria? 
É claro que os questionamentos acima devem ser respondidos de forma negativa, mesmo porque o preço baixo irá obrigatoriamente derivar para ações fortes de cambismo diante do cenário de uma demanda maior. 
O que se pretende mostrar com o texto é que a solução “abaixe o preço” é fácil em um primeiro momento, porém pode trazer consequências que deixarão o mercado ainda mais desequilibrado e injusto. 
Por fim, sempre é bom esclarecer que o intuito do texto não é preconizar, tampouco defender margens exageradas, as quais também têm a capacidade de causar desequilíbrios até maiores, mas sim defender que a precificação seja praticada com uma visão macro da sociedade e não apenas de interesses de uma parte.








2 comentários:

  1. Este raciocínio é muito pautado pelo paternalismo que ainda é muito forte, não só aqui. Paternalismo que muitas vezes se confunde com populismo.

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