terça-feira, 23 de julho de 2013

Convicção ou fanatismo

É muito tênue a linha que separa o fanatismo exacerbado de uma forte convicção, principalmente quando há dinheiro envolvido.

Um caso que ilustra bem essa introdução ocorreu recentemente com o jogador de futebol do Newcastle da Inglaterra, o senegalês Papiss Cissé, que abandonou a equipe em função do patrocínio que o clube passou a ostentar na camisa.
A marca em questão é a Wonga.com, uma empresa do segmento financeiro especializada em empréstimos de curto prazo, que tem como fonte de lucro os juros cobrados, prática que Cissé, islâmico, condena por princípios religiosos.
O contrato, que foi assinado em outubro de 2012, rende ao clube 8 milhões de libras anuais, cerca de 27 milhões de reais, valor importante para um clube de tal porte.

Não cabe aqui, como acontece em alguns países em relação a tabaco, bebida e até apostas, a proibição de patrocínios, mesmo porque, várias empresas dos mais diversos segmentos têm produtos e práticas contestados sob os mais variados argumentos e nem por isso se cogita alguma espécie de restrição.

Penso que a atitude de Cissé é digna de toda admiração, afinal ele passaria a ser remunerado por um dinheiro vindo de uma prática intolerável para ele.
Por outro lado, esse mesmo dinheiro é importante para o funcionamento de toda engrenagem do clube, inclusive salários dos demais jogadores que mantém suas famílias, as quais, talvez, não precisem dos serviços de empréstimos graças ao esporte.
Indo mais longe, poderíamos até questionar o silêncio de jogadores de clubes com patrocinadores que não prestam bom atendimento, comercializam produtos não saudáveis e até façam mau uso dos recursos financeiros.
Entretanto, mesmo respeitando a opção de cada um, creio que cabe ao profissional cumprir a tarefa que lhe é contratada, no caso treinar e jogar de forma satisfatória, não cabendo intromissão em assuntos fora do estabelecido em seu contrato, aliás, a inclusão de cláusulas que estabeleçam procedimentos relativos a patrocínios pode ser uma boa forma de prevenção para situações como essa.
Na esfera corporativa, conheço, e muito bem, executivos que se recusam a trabalhar em ramos de atividade que fabriquem produtos nocivos à saúde, mas, que aceitam trabalhar até sem remuneração em instituições que acreditem.

De qualquer forma, o caso Cissé vs. Wonga.com, conseguiu uma maior divulgação tanto da empresa como do clube, além de provocar uma maior reflexão sobre as razões do questionamento aos empréstimos de curto prazo.

Todavia, ficou ainda mais tênue a linha que separa fanatismo de convicção.



Nenhum comentário:

Postar um comentário