terça-feira, 5 de novembro de 2013

Há limites para imigração?

Todos devem ter acompanhado as discussões sobre o jogador de futebol Diego Costa, brasileiro que também tem a nacionalidade espanhola, que ao ter que decidir sobre qual país pretende defender a seleção, escolheu a Espanha.
Muitos argumentos coerentes surgiram para atacar e defender a decisão do jogador, o que já demonstra o quão difícil deve ter sido a escolha.

Creio que as discussões a respeito já chegaram ao ponto de saturação, porém, acho que uma derivação sobre o tema ainda pode ser mais explorada.
Refiro-me às consequências da liberalidade de um atleta defender uma nação que não seja a que ele nasceu ou que tenha se desenvolvido naquela modalidade esportiva.
Em esportes como o Tênis de Mesa, por exemplo, é possível encontrar jogadores que nasceram na China representando várias nações.
Sem dúvida, isso contribui para crescer o nível técnico e o grau de competitividade dos campeonatos, mas será que também não prejudica o desenvolvimento da modalidade nessas nações.

O que é mais vantajoso?
Investir fortemente na iniciação esportiva da modalidade, mesmo que os resultados a curto prazo não sejam razoáveis ou investir na vinda de atletas formados em outros países?
Muitos poderão argumentar que a vinda de atletas estrangeiros contribui para o desenvolvimento da modalidade, pode ser, mas também há o risco dos atletas nascidos no país importador se desmotivarem.

No comércio exterior é relativamente comum a imposição de tarifas alfandegárias para proteger os produtores locais, o que pode até ser salutar, desde que os ajustes considerem todos os aspectos da economia, inclusive a capacidade produtiva.
Mesmo nesse segmento, há os que são contra, pois entendem que a economia deve se equilibrar naturalmente.
No que eu discordo, pois acho que existem situações onde é fundamental a existência de medidas regulatórias, até porque faz parte da natureza de alguns, a busca de vantagens a qualquer custo.

Mas voltando ao esporte, penso que, inicialmente é necessário criar normas que estabeleçam uma idade limite para que a naturalização dê direito ao atleta representar outra nação.
Vejam o caso do corredor Mohamed Farah, campeão olímpico e mundial nos 5 e 10 mil metros, representando a Grã Bretanha.
Mo Farah, nasceu na Somália, passou a infância em Djibouti e se mudou para a Grã Bretanha aos 8 anos.
Muito provavelmente, os comitês olímpicos de Somália e Djibouti devem lamentar a naturalização do atleta, mas nesse caso, creio não haver problemas.
Por outro lado, temos o caso do também fundista Bernard Lagat, corredor de 1,5 e 5 mil metros, que nasceu no Kenya em 1974 e até 2004 competiu por esse país, sendo medalhista em campeonatos mundiais e Jogos Olímpicos, mas que a partir de 2005 passou a defender os EUA.
Aparentemente, parece ser fácil criticar tal transferência, porém deve ser levado em conta que ele cursou faculdade em Washington.

Casos não faltam, cada um com sua característica, o que dificulta ainda mais a descoberta da solução e o estabelecimento de algum limite.


5 comentários:

  1. Meu caro, eu colocaria a questão no campo da "dignidade pátria", do sentimento de patriotismo. Você citou o exemplo do comércio exterior, eu citaria da guerra. Será digno eu aceitar que alguém que não seja do meus país, defenda as cores dele? Na guerra, aceita-se, mas os que a defendem recebem o título de mercenário. E, na verdade são, porque, por dinheiro ou por algum interesse exclusivamente pessoal, colocam os seus méritos à disposição do inimigo (no esporte, do adversário. Novamente, parabéns pelo texto.

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    1. Oi Jackson, obrigado pelo comentário!
      Esse ponto do "interesse exclusivamente pessoal" é bem interessante de analisar.
      Vale a reflexão sobre o grau de importância da pátria para a população e, quem sabe, o que cada país faz para incentivar o patriotismo do cidadão.
      Certamente, alguns países recebem por parte de seu povo mais demonstrações de "amor" ou "fanatismo" do que outros...
      A liha é bem tênue.
      Abs

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  2. Boa tarde, Halfen.
    Meu nome é Igor Novello e sou repórter do Portal PUC-Rio Digital (http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/). Estou fazendo uma matéria sobre o Bom Senso FC, e, além de profissionais relacionados ao marketing esportivo, também estou falando com jogadores, dirigentes, preparadores físicos e presidentes. Gostaria de saber se você poderia participar. São, apenas, oito perguntas. As respostas podem ser enviadas por e-mail mesmo. O meu e-mail é igornovello-31@hotmail.com. Se você puder ajudar, seria muito importante. Abraços.

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  3. O caso trouxe para nossa pauta uma intensa movimentação, como os outros exemplos citados, da commodities Recursos Humanos pelo Mundo. Não mensurei, mas acredito que a importação deva se dar no sentido POBRE -> RICO.
    Coloquei "Recursos Humanos" ao invés de "Atletas" pois tal importação se dá em todas as áreas das mais variadas formas, obedecendo invariavelmente na História as direções ditadas pela grana.

    O fenômeno Diego Costa é, portanto, um caminho histórico-natural da Globalização em curso desde sempre e o ineditismo da situação do conflito de interesses entre a Seleções de Futebol do Brasil e os da Seleção Espanhola e Atleta prenuncia a iminência de um ralo cada vez mais sistemático que já vinha acontecendo sem maiores repercussões imediatas.

    A necessidade da descoberta de uma solução depende bastante da ótica que se olhe e de quem diagnostique o suposto problema.
    Temos aqui nas competições esportivas ainda atrelado no imaginário popular (e de quem consome) ainda um caráter nacionalista, onde os competidores competem pela bandeira de um País. Entretanto, é nítido que pelo proselitismo da Bandeira no topo do mastro, as barreiras sobre o caráter da FORMAÇÃO nacional já caíram. Os benefícios do resultado final parecem compensar fechar os olhos para uma ética absolutamente nacionalista. O sujeito com a crença nacionalista seria ferrenho nas diminuições das relativizações sanguíneas e determinaria pelo menor número de critérios possíveis, fugindo o máximo possível do caráter "adotivo".

    É claro que alguém pode mandar um "que se foda" grupos, defender que o Esporte é para ser praticados por pessoas e que a queda do conceito de Nações não inviabilizaria os ideais Olímpicos, apenas colocando que cada indivíduo seria representante de si mesmo. Esse sujeito por sua vez trabalharia para que esse processo caótico a um nacionalista se acentuasse de tal forma que a bagunça em determinar a nacionalidade de um atleta jogasse por terra a organização de indivíduos à Bandeiras e a solução seria estabelecer limite algum.

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    1. Obrigado pelo comentário, Victor
      Seu texto também dá margem para boas análises.
      Qual é o grau de comprometimento de cada atleta com sua pátria?
      O que é mais importante: disputar os Jogos Olímpicos ou representar seu país?
      Abs

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