terça-feira, 29 de novembro de 2016

As ações do Green Bay Packers

Entre os principais argumentos que o torcedor dos times futebol no Brasil utilizam para justificar a não adesão ao pacote de sócio torcedor, está a "não percepção" quanto às vantagens que o possa seduzir.
Em função dessa característica, os clubes procuram desenvolver planos de associação que propiciem benefícios mais tangíveis aos sócios, tais como descontos em produtos nas empresas parceiras e/ou vantagens na compra de ingressos para os jogos dos times.
Todavia, mesmo assim, os número de adesões - e retenções - ficam bem abaixo das expectativas que são criadas através das exaltações de paixão dos torcedores por seu time de coração.
Agora, num exercício de reflexão, imaginemos que os clubes, ao invés de ofertarem títulos de sócio futebol, resolvam se transformar em empresas para daí emitir ações. 
Será que assim a adesão seria maior? 
Muito provavelmente, as respostas virão recheadas de condicionantes do tipo, se a liquidez for boa, se a valorização for alta, se os dividendos forem significativos...
Digamos então que os preços das ações se manterão constantes e que não serão pagos dividendos.
Creio que a grande maioria afirmará que a adesão será ínfima. 
Peguemos então o case do Green Bay Packers,  franquia de futebol americano fundada em 1919 no estado de Wisconsin, que em 1950, emitiu ações com o objetivo de levantar fundos e, assim, construir um estádio para a equipe.
Anos depois, em 1998, mais ações foram colocadas no mercado, o que rendeu US$ 24 milhões, os quais serviram para reformar o estádio.
Os leitores devem estar pensando que, evidentemente, cada acionista tem direito a um espaço no estádio.
Lamento informar que estão errados! 
O benefício por ser acionista, é ter direito a voto e ser “dono” do time, ressaltando que para evitar que alguém se torne único dono, cada um dos mais de 360 mil acionistas pode ser proprietário de no máximo 200 mil ações de um total de pouco mais de 5 milhões de cotas. 
Essa condição, que contraria as regras da NFL – que prevê que cada franquia deve ter apenas um proprietário majoritário – só emplacou por ter sido criada antes da implantação dessa regulamentação. O Packers também é a única franquia sem fins lucrativos.
Green Bay, a cidade que sedia a franquia,  tem cerca de 100 mil habitantes, e ainda assim a equipe é uma das mais populares da NFL, isso porque possui um grande número de torcedores no estado Wisconsin e em cidades do meio oeste dos EUA. Tamanho engajamento dos torcedores faz com que a fila de espera para a obtenção do full season ticket – ingressos para assistir todos os jogos em seu estádio – seja de 30 anos. Esclareço que não me enganei na digitação, são realmente 30 anos.
Como podemos deduzir, é notória a diferença de comportamento dos torcedores de qualquer time brasileiro em relação aos fãs do Packers.
Não creio, no entanto, que a razão para tamanha dicotomia esteja associada exclusivamente ao poder aquisitivo das populações, tendo sim, a identificar como causa o modelo adotado pelo Green Bay de dar ao seu torcedor a sensação de “pertencimento” e do modelo de governança que serve como combustível para fortalecer a sensação de ser um dos responsáveis pelo rumo da franquia




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