terça-feira, 9 de outubro de 2018

Os efeitos das pesquisas

A pesquisa de mercado, quando bem executada, é uma ferramenta de fundamental importância para uma boa gestão, todavia, apesar dessa indiscutível relevância, esse recurso só costuma ficar em voga às vésperas das eleições. Aliás, mesmo em empresas as pesquisas são muitas vezes subutilizadas, ou seja, até são feitas, mas pouco exploradas no que tange à elaboração dos planos de ações.
No caso das eleições, essa maior popularidade sazonal é responsável pelo aparecimento de uma enorme gama de “especialistas” em pesquisas de mercado sem nenhum conhecimento sobre estatística, fato que ocorre tanto na imprensa quanto nas redes sociais e respectivos grupos de discussão. 
Lamentavelmente, a paixão destes “especialistas” faz com que a parcialidade e a incoerência fiquem evidentes a todo o momento. Um resultado que deixe seu candidato em vantagem faz do instituto responsável pelo trabalho um exemplo de seriedade e competência, opinião que não é compartilhada pelos eleitores adversários. Porém, se o próximo resultado não continuar favorável, o julgamento anterior se dissipa e passa a valer o discurso de que pesquisas não são confiáveis.
Corrobora para essa desconfiança a divergência entre os institutos e, principalmente, a que ocorre em relação ao resultado da pesquisa confrontado com o que é apurado nas urnas. Isso, no entanto, não significa que haja algum tipo de leviandade por parte das empresas, até porque a pesquisa não se propõe a reproduzir com absoluta certeza o atual cenário, mas sim uma estimativa e/ou tendência do que está acontecendo.
Vale acrescentar que até as pesquisas que inferem a participação de mercado de bens de consumo não retratam fielmente o mercado, visto que a apuração é feita tomando como base alguns pontos de vendas – e não a totalidade. Contudo, mesmo sem a reprodução absolutamente fiel, as informações coletadas são suficientes e de extrema valia para a gestão.
Os esclarecimentos feitos acima não pretendem de forma alguma fazer uma defesa incondicional das pesquisas, ao contrário, vejo espaço para muitas críticas, principalmente no tocante às metodologias que acabam sendo falhas devido à complexidade que envolve o estabelecimento de critérios para constituição da amostra. 
Deve também ser contemplado que entrevistar pessoas está cada vez mais complicado, vide a escassez de tempo nos dias atuais e a preocupação com segurança, o que dificulta a realização de pesquisas presenciais.
Vale também lembrar que sou um crítico ferrenho das pesquisas que apuram o tamanho das torcidas sem a devida segmentação por grau de engajamento do torcedor, o que nada mais é do que um problema de metodologia. A propósito, tais erros acabam impactando as receitas dos clubes, pois muitos patrocinadores investem suas verbas sem se atentarem que números absolutos não guardam necessariamente relação com engajamento.
Após elencar todos estes pontos, ainda que a falta de espaço não tenha permitido um aprofundamento maior, trago para a reflexão um questionamento sobre o qual ainda não formei opinião: ciente das imprecisões que podem ocorrer nos resultados, é válido que as pesquisas eleitorais sejam divulgadas para a população?
Esse questionamento tem como motivação o fato de que, baseados nas pesquisas, muitos eleitores deixam de votar naquele candidato cujas propostas e condutas lhes pareçam mais adequadas, para escolher outro que, supostamente, terá mais chances de ganhar, ainda que não seja o seu originalmente preferido. Tal fenômeno tem sido estudado por alguns cientistas e recebe o nome de bandwagon effect (efeito de contágio).
Caso queiram responder ao questionamento, fiquem à vontade, mas reitero que os resultados aqui apurados, evidentemente, não serão absolutamente conclusivos, assim como não são os das pesquisas.



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