terça-feira, 17 de março de 2020

Os "profetas" e seus seguidores

Entender o mercado e dele extrair informações que permitam a antecipação de iniciativas faz parte do cotidiano de qualquer executivo, o qual, por sua vez, deve construir cenários que contemplem as variadas hipóteses que pareçam factíveis.
Nesse contexto, os exercícios de futurologia são bem-vindos, pois permitem considerar situações que fogem da normalidade daquele momento e da própria atividade econômica, contudo, há que se tomar o máximo de cuidado para não ser seduzido pelos profetas que lançam previsões que, na maioria das vezes serve substancialmente para ganhar audiência em palestras ou likes e compartilhamento em redes sociais.
Podemos ilustrar esse tema com algumas profecias polêmicas:
"Não existem motivos para que alguém queira ter um computador em casa" - Ken Olson, presidente e fundador da DEC, uma empresa de mainframe – aqueles computadores enormes -  no final da década de 70. Tal frase foi proferida ao comentar o aparecimento dos computadores da Apple.
"O potencial de mercado para máquinas copiadoras é de, no máximo, 5.000", assim reagiu a IBM à Xerox.
Viagens interplanetárias como formas de turismo convencional, 150 anos de expectativa de vida  e carros voadores estavam entre algumas das pérolas enunciadas como bem prováveis de já serem realidade nos dias atuais.
Hoje se fala no fim irrefutável da publicidade off-line, das entregas via drone, do fim do varejo físico e da extinção de um infindável número de profissões.
A razão dos meus questionamentos à utilização de previsões para um espaço de tempo muito longo advém do elevado número de variáveis que influenciam o futuro, sendo que muitas das quais nem são cogitadas no momento da previsão.
Além disso, muitos dos “futurólogos” se arriscam nas afirmações sem conhecerem suficientemente o universo que será impactado, tampouco utilizam os recursos de inteligência artificial e econométricos disponíveis - vide agora, por exemplo, as infindáveis previsões sobre as consequências do coronavírus (Covid-19). 
É importante reforçar que toda essa argumentação não tem como intuito pregar o banimento dos exercícios de futurologia, mas sim alertar para suas fragilidades, de forma que sua propagação seja sempre feita com os devidos adendos. Tal alerta se faz ainda mais importante em um mundo onde as redes sociais extirpam a responsabilidade de se checar fontes e, mesmo assim, permitem a proliferação das “verdades sobre o amanhã".
Problema que se agrava em função do compartilhamento seletivo de quem o faz, ou seja, se há concordância com dada notícia/informação, ou mesmo se traz algum benefício para o "disseminador", ela será “multiplicada” sem que se tenha feito alguma verificação a respeito. Ao contrário, um desmentido ou ainda um fato que fragilize a “sua verdade” é ignorado.
E assim se popularizam as profecias, a ponto de serem utilizadas até em apresentações de executivos que, por falta de melhor conteúdo e/ou discernimento para refletir, contribuem para a difusão dos conteúdos "bombásticos" e carentes de embasamentos adequados.



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