terça-feira, 10 de novembro de 2020

Irresponsabilidade culposa?

A polarização que parece tomar conta do mundo, por incrível que possa parecer está trazendo algo de bom para o marketing, ou melhor, para o entendimento do marketing no que tange à importância do posicionamento.
O planejamento de mídia, que se importava basicamente com a cobertura quantitativa e qualitativa em termos de segmentação da audiência está começando a inserir outra variável: a linha editorial do veículo e/ou do conteúdo, vide a quantidade de marcas que estão deixando de anunciar em "locais" que, de alguma maneira, possam trazer danos a sua imagem.
Ilustra essa condição, a demissão de um colunista, por parte de quatro veículos no mesmo período, motivada pelo comentário desse sujeito sobre um caso de estupro em que o criminoso foi absolvido por, pasmem, falta de provas mesmo admitindo o ato, o que rendeu a expressão “estupro culposo”. A fala do comentarista trazia risíveis argumentos que alegavam existir casos onde a vítima tem alguma parcela de culpa no hediondo crime, o que, definitivamente é de uma imbecilidade atroz.
Após a péssima repercussão do comentário, o cidadão (?) tentou imputar o componente ideologia ao massacre que sofreu, se colocando como um mártir da direita, perseguido pelos representantes da esquerda. 
Contudo, por mais que seus inimigos tenham se aproveitado da situação para ir à forra de posicionamentos que tenham trazido contrariedade no passado, a questão de respeito à vontade de se relacionar sexualmente ou não transcende ideologias.
Vale lembrar que o próprio presidente da república, representante ativo da direita, quando deputado fez manifestações contundentes contra o estupro, fato que lhe rendeu até um processo vindo de uma deputada da esquerda. Portanto, querer misturar questões de cunho moral com convicções políticas é algo totalmente sem sentido. 
A direita não faz apologia de estupro, assim como a esquerda também não faz. Quem faz são os idiotas que, inclusive, estão em todos os espectros da sociedade, independentemente de classe social, faixa etária, ideologia política e grau de instrução, entre outros.
Voltando ao planejamento de mídia das marcas, acho cedo para se decretar a ascensão definitiva do marketing atento à associação de marcas, mesmo porque, a mídia programática, figura constante na publicidade online, não permite um controle total acerca de onde o anúncio será exposto. Mas, sem dúvida, é um alento constatar que o mercado tenha colocado o teor dos conteúdos como uma variável que pode impactar a saúde das marcas.
Para os que temem que o afastamento dos anunciantes de alguns conteúdos seja uma espécie de censura, salientamos: (i) a audiência - fator fundamental para a composição do plano de mídia - não é tão impactada em um primeiro momento pelo teor editorial; (ii) programas que minimizem a gravidade de um estupro merecem realmente serem censurados.



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