terça-feira, 17 de agosto de 2021

O Brasil em Tokyo

Discorrer aqui sobre o desempenho das modalidades nos Jogos Olímpicos de Tokyo soaria repetitivo, visto o tema ter sido muito bem explorado por renomados especialistas no assunto, aliás, deve ser registrado que, com raras exceções, o nível dos comentaristas sobre esportes olímpicos vem melhorando significativamente, o mesmo não pode se dizer de alguns que se intitulam “especialistas” em gestão esportiva...
Estes, ao invés de buscarem métricas inteligentes para entender o ambiente dos esportes olímpicos e inseri-los dentro de um contexto político-econômico, preferiram criticar o desempenho tratando-o como um fiasco para ganharem audiência, apelando para comparações isoladas entre o número de medalhas vs. montante investido, além de tentarem diminuir as conquistas sob as alegações de que novas modalidades foram incluídas, como se só os brasileiros as praticassem. A propósito, nessa parametrização risível utilizaram os Jogos do Rio, mas se esqueceram que tivemos mais atletas em 2016 pelo fato de o Brasil ser sede e assim ter direito a vagas em todos os esportes coletivos, fora o fator torcida.
Não que a análise sobre o montante de investimentos seja infundada, o erro em sua utilização consiste fazê-la simplesmente como referencial de um único ciclo olímpico, desprezando as heranças e legados de investimentos anteriores que influenciam a necessidade de verbas, ou seja, sair da inércia requer mais esforço do que algo em movimento.
E mais, ainda que conseguíssemos “carregar” e diluir o valor ao longo dos ciclos, não é possível se extrair uma correlação perfeita, visto que fatores exógenos como investimentos maiores dos concorrentes exigem a relativização das cifras, ou seja, mesmo que o Brasil dobrasse seus  investimentos, eles poderiam nada acrescentar se outros países aportassem valores muito superiores aos nossos.
Claro que o desempenho brasileiro poderia ser melhor, mas há também uma série de variáveis internas de difícil controle, entre as quais está a heterogeneidade das confederações, o que contempla não apenas a capacidade financeira, mas também, e principalmente, a gestão.
Contar com a sorte de encontrar talentos é desenvolvê-los é muito pouco diante da possibilidade de planejar a massificação, formação e captação.
Partindo dessa necessidade, fica fácil deduzir a importância de se ter bons gestores e exigir das organizações melhores governanças não apenas pelo prisma estrutural de gestão e compliance, mas também das demais disciplinas fundamentais em qualquer instituição, tais como marketing, planejamento estratégico, finanças e recursos humanos, administrativo, entre outras.
Nesse ponto o Comitê Olímpico Brasileiro, mais precisamente o Instituto Olímpico Brasileiro, é digno dos mais efusivos aplausos, pois, através de seus cursos, capacita profissionais para a área de gestão esportiva.
Não obstante, seria simplório demais colocar toda a responsabilidade dos resultados nas organizações que regem os esportes, se assim fizéssemos estaríamos desprezando a importância do governo em estabelecer uma política esportiva adequada à realidade brasileira trazendo como inspiração modelos que deram certo pelo mundo afora.
Se quisermos realmente ficar no rol das dez principais potências olímpicas é fundamental que sejam corretamente definidos os papéis da iniciativa privada, dos órgãos públicos, das forças armadas, dos clubes, das escolas e das universidades em todas as manifestações do esporte: iniciação, participação e alto rendimento, sem jamais perder de vista que os resultados esportivos não podem jamais se sobrepor à vida, ou seja, qualquer política a ser adotada precisa considerar a educação e consequente futuro do atleta ao final da carreira.





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