A compra do Twitter por parte do empresário Elon Musk, fundador da Tesla e da Space X, não para de repercutir. A última polêmica surgiu após o novo dono estabelecer que todos os colaboradores devem trabalhar de forma presencial, fato que já ocasionou cerca de 1500 pedidos de demissão.
Lembremos que antes da pandemia, a possibilidade fazer home office - trabalhar de casa - mal existia. Poucas empresas concediam tal liberalidade, a qual era interpretada como uma forma de propiciar qualidade de vida aos funcionários.
Veio a pandemia e o home office virou regra de uma forma abrupta, isto é, sem tempo para adaptação às plataformas, ao ambiente doméstico e, sobretudo, à rotina. Logo no início, as pessoas marcavam reuniões a todo o momento como se quisessem ter testemunhas de que não estavam “dormindo” ou exercendo outras atividades durante o expediente.
Com o passar do tempo, as rotinas foram se adequando e um maior equilíbrio se instaurou. Estar em casa não significava mais ter que ficar 12 horas diante do computador participando de reuniões virtuais que traziam menos benefício à empresa do que outras tarefas que acabavam sendo preteridas em função do pouco tempo que sobrava. Dedicar algum período do expediente para pagar contas, entrar num site de notícias ou mesmo acessar o celular deixou de “ser um pecado”, aliás, da mesma forma que também não era no trabalho presencial.
Como parte da análise dessa discussão, jogamos luzes para um erro já enraizado no ambiente corporativo e com poucas perspectivas de mudança: a confusão entre carga de trabalho e carga de escritório, visto que o fato de estar no escritório não significa que se esteja produzindo. Quem nunca se deparou com colegas que evitam sair mais cedo do que os demais, gerando assim uma espiral de pessoas presente até altas horas da noite, porém com um índice de produção marginal? É fato que ficam bem vistos, afinal são tidos como profissionais que trabalham muito, pena que a interpretação do que seja “muito” dê margem à possibilidade da quantidade ser mais valorizada do que a qualidade.
A verdade é que as pessoas e as empresas acabaram se acostumando ao home office e incluindo ele a sua rotina – quantos espaços alugados foram devolvidos aos proprietários. Curioso notar que os mais velhos, por terem passado mais tempo de sua vida profissional trabalhando presencialmente, têm se mostrado menos resistentes à volta aos escritórios, sendo o raciocínio inverso aplicável aos mais jovens.
Nesse contexto, a possibilidade do trabalho híbrido – parte presencial, parte virtual - surgiu como um paliativo, mas que sem uma definição clara sobre escalas e responsabilidades acaba não aproveitando todo o potencial da iniciativa.
Sim, é possível obter produtividade sem precisar estar presente todos os dias, por outro lado, a interação entre as áreas é fundamental. Ver pessoalmente, falar sobre assuntos diversos e o convívio ajudam demais na resolução de problemas, seja na agilidade como na qualidade, afinal a convivência contribui para que as pessoas passem a se entenderem através de olhares, entonação e até em termos de linguagem.
Voltando à determinação do Musk, não se pode negar que, como dono, ele tem total direito de estabelecer as políticas corporativas de sua empresa, desde que respeitando às leis trabalhistas. Todavia, seria mais prudente entender o ambiente organizacional para daí definir os modelos a serem adotados. Simplesmente determinar, apesar da prerrogativa, implica no risco de não reter, tampouco atrair profissionais tamanha a importância que o local de trabalho adquiriu na escala de valores.
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