terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Nossas ofensas

Ainda que não sejam atos que ocorram apenas na Copa do Mundo, algumas manifestações de protesto agressivas ganharam mais evidência função da popularidade do evento.
Refiro-me especificamente às ofensas virtuais que o jogador Neymar recebeu por seu posicionamento político nas últimas eleições e ao ataque verbal sofrido pelo cantor Gilberto Gil que teve como motivação a mesma causa. Vale lembrar que cada um dos citados apoiou um candidato diferente, o que tira de discussão qualquer possibilidade de haver um lado definitivamente certo, caracterizando assim os atos como uma mera manifestação de contrariedade em função de pensamentos divergentes.
Gostar ou não de alguém é direito de todos, ficar chateado por não haver unanimidade e/ou fazer parte da maioria, idem, porém, ofender os que pensam de forma diferente ultrapassa os limites do razoável, além de abrir precedentes que podem chegar a situações incontroláveis.
Por mais que possamos ter convicção que alguém esteja errado, isso para se tornar uma certeza precisaria de trâmites que propiciassem investigações e indagações para se entender as circunstancias, soma-se a isso o fato de não termos a devida capacitação para julgar, tampouco imputar penalidade a quem quer que seja.
Como justificativa para atos dessa espécie, muitos evocam o direito à liberdade de expressão, sonegando que tal liberdade não concede salvo conduto para agressões e demais manifestações de ódio, além do que, esse tipo argumentação só é usado para defender aqueles que agridem seus desafetos, visto que na situação inversa os autores passam a ser taxados como vândalos.
É preciso pontuar que essa tão cantada em verso e prosa “liberdade de expressão” envolve não apenas o direito de se expressar, mas também o dever de respeitar, o que engloba forma, local e hora.
Já imaginaram no ambiente profissional um colaborador mandando outro calar a boca ao invés de pedir a palavra numa reunião, ou xingando, ou postando em redes sociais que deseja o mal de outro porque discorda da opinião desse.
No caso da Copa do Mundo, a situação ganha ainda mais gravidade por ocorrer em um ambiente esportivo, onde, em tese, princípios e valores nobres constituem a essência da atividade.
Por mais que se tenha restrições e diferenças em relação a alguém não se pode fazer justiça pelas próprias mãos. Tal condição se faz verdadeira tanto no âmbito do direito como também a título de autoproteção, afinal, não existe unanimidade na sociedade, ou seja, discordâncias sempre existirão e se forem banalizadas as agressões, a vítima pode ser qualquer um de nós, dependendo apenas do grau de covardia das pessoas.
Todavia, ainda que sejam ações preocupantes, há um lado bom nessa situação, que é a possibilidade de conhecer melhor pessoas cujas afinidades em outros temas nos deixam míopes à percepção de suas índoles.









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